Prêmio Nobel para Trump
Assim como o republicano inesperadamente mediou os Acordos de Abrahão no primeiro mandato, com mais tempo poderia costurar o fim do eterno conflito no Oriente Médio
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Ao final do seu governo, o presidente Donald Trump conseguiu um fato marcante, que foi a concretização do que foi chamado de Acordos de Abrahão. O objetivo era unir o conhecimento tecnológico de Israel com os investimentos árabes, para promover o desenvolvimento regional e, em especial, transformar a área da Palestina numa espécie de Vale do Silício. Eles resultaram em acordos de paz de Israel com Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Sudão e Marrocos. A Arábia Saudita estava por assinar, mas havia condicionado alguns pontos referentes aos palestinos. Nesse meio tempo, veio o ataque do Hamas de 7 de outubro de 2023, que melou tudo. Um ataque insuflado pelo Irã, que não queria ver uma união de seus inimigos regionais, tampouco a formação de um Estado da Palestina partindo de acordo entre eles.
RETOMADA
A retomada desse tema por Trump foi aventada nesta semana pelo jornalista Thomas L. Friedman, editorialista de política internacional do New York Times. Em artigo que foi reproduzido pela Folha de S. Paulo, ele faz uma indagação sobre que tipo de Trump vamos ter quando ele reassumir o poder. “Será o Trump que acabou de nomear Mike Huckabee, um defensor da anexação da Cisjordânia, como seu novo embaixador em Jerusalém? Ou será o Trump que, com seu genro Jared Kushner, elaborou e lançou o plano mais detalhado para uma solução de dois Estados desde o governo de Bill Clinton?”
EXECUÇÃO
Será preciso considerar também quem estará no governo de Israel quando Trump assumir. É muito possível que não seja mais Benjamin Netanyahu, mas poderá ser alguém ainda mais à direita dele. Se for, por exemplo, seu ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, a tendência é acontecer o que Huckabee defende. E cuja concretização foi referendada nesta semana pelo jornalista norte-americano Seymour Hersh, ganhador do Prêmio Pulitzer, sempre muito bem informado, que publicou na plataforma Substack um artigo em que disse o seguinte: “Líderes israelenses vão anexar formalmente a Cisjordânia, em um futuro muito próximo – talvez em duas semanas – com a esperança de que este seja um passo decisivo para pôr fim, de uma vez por todas, a qualquer conversa sobre a solução de dois Estados”.
Já disse e referendo que este plano, uma vez executado, condenaria a região a viver eternamente em conflito. Afinal, há uma questão básica para acabar com esta eterna briga que é a concretização do Estado da Palestina. Vale lembrar que os Emirados Árabes Unidos só aceitaram assinar os acordos mediante o compromisso de Netanyahu de não anexar a Cisjordânia.
PLANO
Friedman considera que Trump chegou a apresentar, em 2020, um plano para o Estado da Palestina. É claro que aquele plano estava muito longe de convencer os parceiros árabes e, menos ainda, os palestinos de aceitá-lo. Mas é um ponto de partida. E ele vem agora com novas possibilidades.
“O plano ofereceu a Israel o direito de anexar cerca de 30% da Cisjordânia, onde reside a maioria dos colonos judeus, com o restante indo para um Estado palestino desmilitarizado na Cisjordânia e em Gaza. Trump propôs que Gaza fosse expandida com terras do Deserto de Negev para compensar os palestinos pela parte do território que eles perderiam da Cisjordânia”, escreve Friedman.
LIGAÇÃO
Vale lembrar que os ministros de Relações Exteriores do G-7, o grupo dos sete países mais ricos do mundo, fizeram um manifesto nesta semana defendendo a unificação de Gaza e Cisjordânia sob a administração da Autoridade Nacional. A capital seria Ramallah, nas cercanias de Jerusalém, que já é a capital administrativa.
“Portanto, se e quando um cessar-fogo e a troca de reféns acontecerem em Gaza, espero que Trump considere aproveitar essa segunda chance que a história lhe oferece, convidando ambas as partes para um encontro de paz em Camp David. A condição para participar seria a aceitação do plano de Trump como a base para as negociações — não o teto, mas o piso — e a partir daí, eles poderiam negociar. Ele está disposto a isso? Não sei”, pondera Friedman.
O que se espera é que esteja, pois, assim como ele inesperadamente mediou os Acordos de Abrahão, com mais tempo poderá costurar o fim deste eterno conflito. O que, seguramente, seria a sua consagração com o Prêmio Nobel da Paz.