Jurandir Soares

Putin insiste em armas nucleares

E isto ocorre no momento em que se tem retrocesso nas articulações de cessar-fogo

Desde que deflagrou a guerra contra a Ucrânia, a 24 de fevereiro de 2022, o presidente russo Vladimir Putin vem falando em usar armas nucleares. Pois, nesta quarta-feira, ele comandou pessoalmente o exercício anual de suas forças estratégicas, chamado de Grom, que em russo significa trovão. E enquanto trovoavam as simulações russas, no lado Ocidental aconteciam também as manobras anuais das forças nucleares da Otan.

Lembrando ainda que, duas semanas atrás, Putin afirmou que o mundo já vive uma corrida nuclear e que a Rússia a está ponteando. É lógico que tudo que o mundo não precisa agora é de um confronto nuclear. Embora Putin tenha demonstrado que parece ser capaz de tal loucura.

RETROCESSO

E tudo isto ocorre no momento em que se tem um retrocesso nas articulações com vistas a um cessar-fogo na guerra da Ucrânia. No início da semana tinha-se a esperança de, pelo menos, uma interrupção no conflito, diante da perspectiva de uma reunião entre os presidentes Putin e Trump, a ser realizada na Hungria.

Trump queria um estancamento do conflito no estágio em que se encontra, com as partes envolvidas indo à uma mesa de negociação. Porém, quando Trump ficou sabendo que Putin só aceitava parar a guerra mediante a tomada de toda a parte Leste da Ucrânia, recuou e anunciou que não havia clima para a reunião.

RECRUDESCIMENTO

E assim, o que se tem visto é um aumento dos bombardeios russos sobre a Ucrânia, provocando mais mortes de civis. Diante desta realidade, a Europa, que não quer ver o agressor Putin vitorioso, marcou para hoje, em Bruxelas, uma reunião para estabelecer um aumento da ajuda à Ucrânia. A propósito, os europeus se mostraram indignados com as pressões que Trump vinha fazendo sobre Zelensky, no sentido de ele ceder territórios para acabar com a guerra.

Os europeus invocam a Carta das Nações Unidas, formalizada logo após o final da Segunda Guerra, estabelecendo que nenhum país pode conquistar território pela força. E a proposta de Trump era vista como um prêmio ao agressor. Daí a determinação da União Europeia de aumentar a ajuda aos ucranianos.

DISSUASÃO

Ocorre que o presidente Trump tem na mão um importante fator para a guerra. Que tanto pode ser de dissuasão como de incremento total do conflito. Refiro-me aos mísseis Tomahawk. Ele já ameaçou entregar à Ucrânia esse poderoso armamento, que pode provocar uma reviravolta no resultado da guerra. Isto poderia ser um fator de dissuasão para Putin.

Mas pode ser também um perigoso fator de incremento do conflito, pois o russo já declarou que a presença desses mísseis em seu território “colocaria a guerra em outro plano”. Sabe-se que a tática de Trump é do morde e assopra. Bate e depois alisa. Mas aí fica o questionamento, será que Trump irá pagar para ver?

EUROPA

O fato é que hoje o grande inimigo de Putin é a Europa. E ele usa o atual exercício nuclear justamente para amedrontar os europeus. Na parte terrestre do treinamento, um míssil intercontinental Iars foi lançado do cosmódromo de Plesetsk, no Noroeste russo, até a península da Kamtchatka, a 6.700 km de distância. Ou seja, mostrando que ele pode atingir qualquer país da Europa.

E por saber das intenções expansionistas do russo é que os europeus estão tratando de dar maior respaldo à Ucrânia. No entanto, para colocar o país agredido em condições de expulsar o invasor, é fundamental a ajuda dos EUA. Para isto será preciso fazer Trump desistir de seu intento de alicerçar a conquista do Prêmio Nobel da Paz com um tratado de paz na guerra da Ucrânia e partir para uma substancial ajuda a Zelensky.

Porém, tudo isto fica sob o espectro dessa permanente ameaça de Putin – desde que começou a guerra – de apelar para armas nucleares.