Radicalismo está vencendo
São múltiplos os atores contra o processo de paz e estes só ganham força na medida em que a violência na região aumenta
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Tenho defendido através desta coluna, assim como de outros sistemas em que atuo, a solução de dois estados – Israel e Palestina – para o histórico conflito do Oriente Médio. Uma solução que passa por dar força aos atores moderados da região, cujo maior expoente e maior interessado é a Autoridade Palestina, sediada na Cisjordânia e presidida por Mahmoud Abbas, líder do Fatah. Pois os últimos acontecimentos mostram um avanço tão significativo dos atores radicais da região, visto que até mesmo na Cisjordânia houve festejos pelos mísseis lançados pelo Irã contra Israel. E, ironicamente, a única morte que houve em decorrência desse ataque foi a de um palestino, em Jericó, na Cisjordânia, atingido que foi por fragmentos de míssil explodido antes de tocar o solo.
AVANÇOS
Relembro que o Oriente Médio estava avançando, recentemente, em busca de uma convivência pacífica com os Acordos de Abrahão, mediados pelo então presidente dos EUA, Donald Trump, e que levaram Emirados Árabes Unidos, Barein, Marrocos e Sudão a se somarem a Egito e Jordânia, com assinatura de acordo de paz com Israel. Foi justamente para buscar interromper o avanço desse processo que o Hamas praticou os atos terroristas contra Israel, que na próxima segunda-feira, 7, completam um ano de ocorrência.
Na extensão, veio a reação desproporcional de Israel em Gaza e a ação do Hezbollah no norte israelense, obrigando a mais de 60 mil pessoas terem que deixar suas residências, por causa dos ataques da organização fundamentalista sediada no Líbano. Seguiu-se o bombardeio de Israel no território libanês, com o extermínio da liderança do Hezbollah, porém com novas mortes de civis. Ou seja, ficamos diante de três atores que não querem a solução de dois estados e, por conseguinte, a paz.
Tanto Hamas como Hezbollah têm deixado claro que sua filosofia prega a extinção do Estado de Israel. Benjamin Netanyahu, por sua vez, também tem deixado claro que não compartilha da solução de dois estados, pois, além de manter uma presença militar na Cisjordânia, oprimindo os moradores, tem incentivado o estabelecimento de colônias judaicas no território, na visível intenção de ir, gradativamente, tomando todo ele.
REAÇÃO
Na sequência entra o Irã, maior incentivador e financiador dos movimentos terroristas que querem a destruição de Israel, em que se incluem ainda a Jihad Islâmica, em Gaza, os houthis, no Iêmen, e a Resistência Islâmica, com seus braços no Iraque e na Síria. Portanto, são múltiplos os atores contra o processo de paz e estes só ganham força na medida em que a violência na região aumenta.
Em meio a isto, crescem os protestos dentro de Israel contra o primeiro-ministro Netanyahu, principalmente, pelo fato de não ter conseguido ainda a libertação dos reféns. Este tem feito uma ginástica para se manter no poder, porque, ao ser apeado, terá que responder a processos por crimes, entre outras coisas, de corrupção e benefício do cargo público. O cruel é o que tem sido dito por muitos observadores da política israelense. Ou seja, que Netanyahu insiste na guerra para manter-se no poder e não ser preso. Ou seja, para não responder por seus atos, Netanyahu vai arrastando a população israelense para uma guerra, cujo sofrimento preliminar pôde-se perceber na noite desta terça-feira, com os mísseis que atingiam o céu israelense.
FUTURO
É preciso considerar ainda que a realização de uma guerra entre Israel e Irã tem interesses diversos no país dos aiatolás. Os detentores do poder, embora queiram a destruição de Israel, sabem de suas limitações. Já aqueles que querem a queda do atual regime que os oprime veem numa derrota na guerra a possibilidade de queda do mesmo. Nesse cenário, com a ascensão de um governo democrático no Irã, teríamos o fim do financiamento aos movimentos terroristas, assim como também o fim da confrontação com países árabes vizinhos. Mas isto, por enquanto, é utopia. A realidade é que o radicalismo está vencendo.