Reeleição na potência ascendente
Apesar do salto dado, a Índia de Narendra Modi não quer parar de crescer economicamente
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O primeiro-ministro Narendra Modi foi reeleito para seu terceiro mandato à frente da Índia. Com isto se iguala a uma figura histórica do país, Jawaharlal Nehru, o qual, junto com o egípcio Gamal Abdel Nasser e o iugoslavo Josep Broz Tito, criou o Movimento dos Países Não-Alinhados, grupo que se opunha à divisão entre Estados Unidos e União Soviética, que gerou a Guerra Fria. Hoje, em meio ao recrudescimento dessa disputa entre potências, Modi consegue manter a Índia à parte, fazendo alianças, ora com um, ora com outro, conforme os interesses do país. Um país que não para de crescer em todos os sentidos. A Índia passou a China como nação mais populosa do mundo, somando um bilhão e 400 milhões de habitantes. E na economia deu um salto, passando de 11ª em 2012 para quinta economia do planeta em 2024, superando o seu antigo colonizador, o Reino Unido.
AMBIÇÕES
Apesar do salto dado, a Índia de Modi não quer parar de crescer economicamente. O projeto é se tornar a terceira economia mundial. Respaldo político para tal Modi tem. Apesar de os números da eleição não lhe serem tão favoráveis conforme foram os da eleição anterior, conseguiu manter maioria no Parlamento de 543 membros, conquistando 272 cadeiras para seu Partido do Povo Indiano. O rival, Congresso Nacional Indiano, chegou a 88 cadeiras. Nesse país em que a população é composta de 80% de hindus e 14% de muçulmanos, as questões religiosas pesam muito na política. Daí o fato de Modi ter tratado o assunto com muito cuidado durante a campanha. Até porque a religiosidade do povo é um importante fator a fazer com que o país, apesar de sua superpopulação, tenha um baixo índice de violência.
ECONOMIA
Apesar das desigualdades sociais, a Índia é uma potência econômica, graças ao impulso dado a setores como de informática e tecnologia de ponta. Sem descuidar da parte da agricultura, com exportações de trigo, arroz, algodão e chá. Além também da exploração de minérios. Com exceção dos anos de pandemia, a economia indiana registra crescimento médio anual de 5% há 14 anos. Os dados anualizados, fechados no primeiro trimestre de 2024, apontam crescimento de 7,8% do PIB.
Segundo um relatório do CEBR - Leading Economic Forecasts and Analysis - publicado em dezembro, a Índia deverá manter um forte crescimento de cerca de 6,5% ao ano entre 2024 e 2028 e tornar-se a terceira maior economia do mundo até 2032, ultrapassando o Japão e a Alemanha. Entre os fatores que tem feito a Índia crescer está a implantação de multinacionais no país. E os principais atrativos que levaram essas empresas a se instalar no país foram o elevado número de mão de obra com baixo custo e o enorme mercado consumidor.
MUDANÇA
Vale lembrar que, desde a década de 1950 até a década de 1980, a economia indiana seguia tendências socialistas. A economia se manteve paralisada por regulamentos impostos pelo governo, o protecionismo e a propriedade pública, o que levou a uma corrupção generalizada e a um lento crescimento econômico. Em 1991, se converteu em uma economia de mercado, e partir daí tudo começou a mudar. O país entrou até na corrida espacial, com alguns feitos marcantes. Tanto que mandou uma sonda à Lua. Em 23 de agosto de 2023, a nave Chandrayaan-3 pousou no ponto mais próximo do polo sul da Lua do que qualquer outra espaçonave na história já se aventurou. E, em setembro, partiu uma outra espaçonave rumo ao Sol, tendo mandado imagens inéditas da Terra em relação à Lua.
FUTURO
Enfim, este é o país que Modi comanda e por isto não surpreende sua reeleição. Mas há para o primeiro-ministro alguns grandes desafios pela frente. A expectativa de vida no país é de apenas 63,5 anos, enquanto que 200 milhões de habitantes estão em quadro de pobreza crônica. Há que considerar, no entanto, que, em 2005, 55% da população vivia na pobreza generalizada. Hoje este índice está em 16%. Só nos últimos cinco anos, 10% da população escapou da pobreza. Então, há boa perspectiva. E também um trabalho para Modi ter a oportunidade histórica de superar o seu consagrado antecessor Nehru, não só no tempo de permanência no governo, mas, principalmente, nos resultados relativos ao crescimento do país e bem-estar da população.