Risco de guerra total

Risco de guerra total

A guerra na Ucrânia já se estende por dois anos e meio e não se vislumbra uma solução, com risco de uma confrontação da Rússia com os 32 países membros da Aliança Atlântica

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Os últimos acontecimentos no cenário das confrontações entre as grandes potências são preocupantes. O risco de uma guerra generalizada aumenta a cada dia. Se não, vejamos. A guerra na Ucrânia já se estende por dois anos e meio e não se vislumbra uma solução. Pelo contrário. O que se vê é que o confronto, que até o dia 6 de agosto estava restrito ao território ucraniano, se estendeu para a Rússia. A Ucrânia não só avançou em Kursk e Belgorod, no sul russo, como atingiu a capital, Moscou, obrigando o fechamento dos quatro aeroportos. E atingiu cidades das cercanias, onde uma mulher morreu e outras três pessoas ficaram feridas. Além de muitas destruições em prédios.

ARMAS

A cada novo passo que dá, a Ucrânia se vale de novos armamentos fornecidos pela OTAN. Sendo que a maioria deles, até pouco tempo, estavam proibidos de serem utilizados em solo russo. Gradativamente, a Ucrânia foi avançando no seu uso. Num primeiro momento, foram os drones. Logo depois os mísseis de curto alcance. O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, clama pelo recebimento de mais armas e com potencial de maior alcance. Diante disto, veio a advertência do presidente Vladimir Putin, nesta quinta-feira, de que o uso de mísseis da OTAN significa declaração de guerra.

E por guerra se entende uma confrontação da Rússia com os 32 países membros da Aliança Atlântica. Ou seja, uma guerra geral, com consequências imprevisíveis, tendo em vista as constantes insinuações de Putin quanto à utilização de armas atômicas.

MANOBRAS

Em meio a este cenário, começaram na terça-feira, 10, e terminam nesta segunda, 16, as maiores manobras navais da Rússia desde o fim da Guerra Fria. Com um “pequeno” detalhe: manobras em conjunto com a China. Manobras que simulam uma situação de guerra. Segundo o Ministério da Defesa russo, o exercício envolve 400 embarcações, 120 aviões e 90 mil marinheiros. E o cenário se estende por cinco oceanos ou mares: Pacífico, Ártico, Báltico, Cáspio e Mediterrâneo.

Esta se constitui na quinta manobra conjunta sino-russa, desde que Putin e Xi Jinping celebraram sua “amizade sem fim”, em festejado encontro em Pequim, em 2022. As manobras navais contam com o apoio da aviação, o que faz ampliar o cenário de combate e, ao mesmo tempo, o risco de confronto. Dentre as simulações, foi feito um ataque a Kaliningrado, que é uma possessão da Rússia em plena Europa. Trata-se de um enclave situado entre a Polônia e a Lituânia. Ou seja, treino para um ataque em território europeu.

MARINHA

Um dos objetivos de Putin com essas manobras é recuperar a reputação da Marinha russa, muito arranhada por alguns acidentes e por seu desempenho na guerra da Ucrânia. Em agosto de 2000, a Marinha perdeu o submarino nuclear Kursk, no mar de Barents, tendo morrido os 118 tripulantes que estavam a bordo. O seu porta-aviões Kuznetsov teve vários episódios de “enguiço”. E para piorar, na guerra com a Ucrânia a Marinha russa já perdeu quatro ou cinco navios. Então, um dos objetivos das manobras também é “lustrar” a reputação da Marinha russa.

INTERCEPTAÇÃO

As próprias manobras militares, embora sejam apenas para treinamento e demonstração de força, se constituem em risco de confrontação. Basta ver o que ocorreu nesta quinta-feira, no mar Báltico. Dois bombardeiros estratégicos e de ataque marítimo Tu22M3 voavam por lá escoltados por caças Su-30SM, quando foram interceptados por caças da OTAN. Embora não tenha sido divulgada a nacionalidade dos caças, os indicativos são de que se trata de aviões F-18 da Finlândia. Vale lembrar que a Finlândia, que tem uma fronteira de 1.600 quilômetros com a Rússia, entrou recentemente para a OTAN. E o fez, justamente, por temor de também ser atacada por Putin.

Embora não seja novidade esta questão da interceptação durante um exercício militar, o fato demonstra o perigo que o ato representa para escorregar para uma confrontação ampla. E, neste caso, dentro daquele contexto de consequências imprevisíveis.


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