Sem acordo e sem guerra

Sem acordo e sem guerra

Kremlin deu breve respiro na crise com a Ucrânia, mas nada garante recuo nas tensões

Jurandir Soares

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A Otan entregou nesta sexta-feira a resposta por escrito às reivindicações russas em torno da Ucrânia, conforme era exigido por Moscou. A resposta, no entanto, foi uma ampla negativa ao que era pedido pelos russos. Diante disto era de se imaginar que a reação russa seria a de cumprir a tão badalada invasão da Ucrânia. O que se viu, no entanto, foi uma contemporização por parte dos negociadores russos. A reação do Kremlin foi vista como um breve respiro na crise, ainda que se esteja longe de significar um recuo na escalada das tensões. Mas, pelo menos por enquanto, não tem guerra e sim a promessa de novas conversações entre os representantes da diplomacia americana, Antony Blinken, e russa, Serguei Lavrov.

Vale lembrar que na quarta-feira se realizou uma reunião em Paris entre representantes da Ucrânia, Rússia, França e Alemanha, que também resultou em nenhum acordo. Aliás, a Alemanha é o país mais interessado em evitar uma guerra, pois depende do gás russo. Acaba de ser concluído o gasoduto Nord Stream 2, para levar gás da Sibéria para a Alemanha através do Báltico. A Rússia supre 40% das necessidades alemãs. E foi por isto que o vice-almirante Kay-Achim Schönbach foi destituído do posto de comandante da Marinha, pois ousou defender Putin, dizendo que a Otan o está colocando nos braços do chinês Xi Jinping, este sim, no seu entender, o maior inimigo do Ocidente.

Nesta semana, os Estados Unidos decidiram retirar da Ucrânia os familiares de diplomatas e funcionários não essenciais, sob as críticas do presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, o qual disse que “a situação está sob controle e não vê razão para pânico, pois não vê a iminência de uma invasão russa”. No que foi referendado por seu ministro da Defesa, Alexey Danilov. O ponto crucial nessa questão é que Putin não quer o ingresso da Ucrânia na Otan, conforme já aconteceu com outras ex-repúblicas soviéticas, porque correria o risco de ver mísseis do Ocidente instalados junto de sua fronteira. Entende que já há uma fronteira de 400 km com a Otan através dos países bálticos, Estônia, Letônia e Lituânia. Haveria mais de 2.000 km através da Ucrânia. Já o Ocidente entende que a Ucrânia deve ser livre para tomar sua decisão e que a Rússia está tentando violar a soberania do país.

E aí vem a questão sobre a quem interessaria a guerra. Para a Rússia, de momento, serve o fato de estar fomentando o separatismo em duas províncias do Leste da Ucrânia, Donetsk e Lugansk, na região de Donbass. Além disto, tenta fazer emplacar seu aliado Evgeny Muraiev na presidência ucraniana, seja pelo voto na próxima eleição ou por um golpe de Estado. No caso de uma guerra direta entre Ucrânia e Rússia, a vitória seria dos russos em pouco tempo. Porém, a Ucrânia está sendo super armada pelo Ocidente. Mísseis, tanques, bombas anti-tanques, satélites espiões e outras coisas mais. Neste caso, o Ocidente estaria realizando por procuração uma longa e desgastante guerra para a Rússia. O que, somado às sanções econômicas que seriam decretadas, causaria um abalo nas finanças russas e na posição de Vladimir Putin, com o gradual enfraquecimento do regime e do governante.

 


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