Jurandir Soares

Sem Estado, Hamas não acaba

O que todos querem é ver o grupo terrorista desarmado e fora de qualquer administração

O momento é de euforia no Oriente Médio, especialmente em Israel, porque o Hamas libertou os 20 reféns que mantinha vivos. Em decorrência, se anuncia o fim da guerra deflagrada a 7 de outubro de 2023, quando o Hamas praticou os atentados terroristas em Israel, matando 1.200 pessoas e sequestrando outras 250. Na decorrência tivemos a reação de Israel, primeiramente justificável, de caça aos terroristas. Reação esta que, na sequência, extrapolou os limites humanitários ao provocar a morte de cerca de 65 mil pessoas em Gaza, na sua grande maioria civis.

Esta segunda-feira foi de euforia, não só do lado israelense, mas também do outro lado, por terem sido libertados 1968 palestinos, a maioria deles detidos durante a guerra em Gaza. Outra parte estava em prisões israelenses. Eles chegaram a Gaza, Ramallah e Jerusalém, onde residem.

TRUMP

Inquestionavelmente, o grande condutor deste processo que levou ao fim da guerra foi o presidente americano Donald Trump. Goste-se dele ou não, o fato é que ele demonstrou ter poder sobre o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu. Cito duas ações nesse sentido. Uma delas foi marcante. Ao receber Netanyahu na Casa Branca, Trump, indignado com o ataque israelense ao Catar, colocou um telefone ao lado do israelense e o mandou ligar para o emir catari, e pedir-lhe desculpas pelo ataque.

Trump se sentiu traído por Netanyahu pelo fato de saber do ataque só quando já não dava mais para revertê-lo. O outro fato deu-se nesta segunda-feira, em Jerusalém, quando fez com que Netanyahu mudasse de ideia e ligasse para o presidente do Egito, Abdel Fatah Al-Sissi, anunciando que iria comparecer à reunião de cúpula, programada para acontecer em Sharm-el Sheik.

RUMOS

Aliás, esta conferência tem poder para dar novos rumos para a situação do Oriente Médio. Isto porque contará com as presenças das mais expressivas lideranças internacionais. Além do presidente Donald Trump, estão lá os primeiros-ministros, do Reino Unido, Keir Starmer, da Alemanha, Frederich Merz, da Itália, Georgia Meloni, mais, presidentes da França Emmanuel Macron, da Turquia, Recep Erdogan, do Egito, Al-Sissi, e mais uma série de dirigentes de monarquias árabes.

Todos dirigentes de países que manifestaram na ONU, há algum tempo ou recentemente, o reconhecimento do Estado Palestino. A curiosidade que fica é até que ponto o presidente Trump será influenciado por eles para aderir à mesma tese. Se for convencido, poder para fazer Netanyahu aderir ele tem. E aí sim, iria se habilitar ao Nobel da Paz.

CONTRA

O detalhe é que tanto Netanyahu como os demais membros de seu gabinete são abertamente contra o Estado Palestino. Tanto que queriam tomar a Cisjordânia, onde vive a maior parte dos palestinos, e Trump os impediu. A mais recente ação do grupo dirigente foi tirar da lista de prisioneiros o nome de Marwan Borghouti, o mais popular líder palestino. Ele é apontado como o sucessor de Mahmoud Abbas na presidência da Autoridade Palestina. E, como já declarou que aceita a coexistência de dois estados, convivendo com fronteiras determinadas e seguras, Netanyahu o manteve preso.

Trump, pelo menos por enquanto, fala somente em Gaza, onde diz que irão colocar muito dinheiro. Sabe-se também que será constituída uma administração com a participação de técnicos palestinos, sob o comando de Trump e a execução pelo ex-premiê britânico Tony Blair. Assim como também será colocada uma força de segurança fornecida por países árabes e europeus.

HAMAS

A grande discussão que fica é sobre o futuro do Hamas. Irá entregar as armas? Irá participar de futura administração de Gaza? O que todos querem é ver o grupo terrorista desarmado e fora de qualquer administração. Ou seja, exterminado. Isto só será possível se for dobrada a resistência do atual governo israelense, que, por sinal, está sendo muito contestado pela população, e seja encaminhada uma discussão em torno de dois estados.

É preciso valorizar a Autoridade Palestina, que aceita a solução de dois estados e que condenou o Hamas pelos ataques de 7 de outubro. Se não for este o caminho, o que veremos é o hoje debilitado Hamas ir se reanimando e rearmando. E a segurança de Israel voltar a ser ameaçada. Se não for dado o estado e a dignidade para os palestinos, esses meninos que sobreviveram em Gaza, em meio aos bombardeios e às mortes de seus parentes e amigos, serão os terroristas do Hamas de amanhã.