Trégua! Até quando?

Trégua! Até quando?

Como não se vislumbra um término para a guerra de Israel contra o Hamas em Gaza, não dá para se entusiasmar com a trégua com o Hezbollah

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Sob a mediação de Estados Unidos e França foi conseguida uma trégua de 60 dias na confrontação de Israel com os milicianos do Hezbollah. Quando se obtém uma trégua, o objetivo é sedimentar, durante o período, o caminho para uma paz entre as duas partes. A história e os fatos adjacentes a este confronto nos fazem acreditar que há poucas possibilidades de que se alcance uma paz permanente.

O detalhe principal é que o Hezbollah, que está sediado no Líbano, deflagrou os ataques a Israel em solidariedade ao Hamas, que segue em combate em Gaza. E como não se vislumbra um término para esta guerra, não dá para se entusiasmar com a trégua com o Hezbollah.

COMBATES

Os confrontos de Israel com o Hezbollah vêm de longa data. Começaram em 1978, quando grupos que atuavam contra Israel ainda não haviam se estruturado com o nome da organização. Israel invadiu o país para combater os militantes palestinos que mataram mais de 30 civis israelenses em um ônibus sequestrado. Já naquela ocasião a ONU estabeleceu uma Força de Paz para o Líbano, Unifil, que está lá até hoje e que nunca conseguiu evitar os confrontos, que se sucederam ao longo das décadas de 1980/90 e dos anos 2000.

O Hezbollah cresceu e se estruturou como um partido político no Líbano, tendo, porém, o seu braço armado, que continuou sempre a fustigar Israel. Enfraquecido, depois de uma guerra civil de 15 anos –1975 a 1990 –, o Exército libanês não teve forças para conter a expansão e as ações do Hezbollah.

CAUSA

Ações que têm como pano de fundo o problema insolúvel do Oriente Médio: o Estado da Palestina. O atual confronto, envolvendo Hamas e Hezbollah, e indiretamente Irã, Síria e grupos apoiadores dos palestinos, pode ser interrompido por algum tempo, mas recrudescerá se não houver a solução de dois estados, convivendo com fronteiras definidas e seguras.

Pois, a propósito, ministros de Relações Exteriores do G-7, o grupo dos sete países ricos do mundo, emitiram na terça-feira um comunicado, defendendo a união da Faixa de Gaza e da Cisjordânia sob administração da Autoridade Nacional Palestina e a constituição de dois Estados. A ANP é a entidade que aceita a existência de Israel e de dois estados. Ou seja, uma injeção de ânimo em meio a tantas desavenças.

TOMADA

Este ânimo, no entanto, foi sobrepujado por uma informação vinda de Washington. E partida do jornalista Seymour Hersh, ganhador do Prêmio Pulitzer, sempre muito bem informado, que publicou na plataforma Substack um artigo no qual disse o seguinte: “Líderes israelenses vão anexar formalmente a Cisjordânia, em um futuro muito próximo – talvez em duas semanas – com a esperança de que este seja um passo decisivo para pôr fim, de uma vez por todas, a qualquer conversa sobre a solução de dois Estados”.

Ou seja, completamente o oposto do que manifestou o G-7 e do que tem dito a maior parte da comunidade internacional.

CONDENAÇÃO

Esta posição equivale a condenar o povo palestino a viver permanentemente em uma condição de submissão, como um povo de segunda classe, conforme se manifestaram alguns jovens da Cisjordânia, em entrevista à BBC News. Seria também uma condenação ao povo de Israel a viver permanentemente sob a ameaça de um novo 7 de outubro, assim como com os ataques do Hezbollah.

Seria condenar o povo palestino a sofrer novos bombardeios de Israel, como os que ocorrem em Gaza. Seria também condenar boa parte do povo libanês, que não tem nada a ver com a questão palestina, a padecer em decorrência dos ataques israelenses ao Hezbollah.

CONTINUAÇÃO

Quando o premiê Benjamin Netanyahu deflagrou a guerra contra o Hamas, disse que seu objetivo era exterminar a organização terrorista. Vê-se que conseguiu eliminar a maior parte das lideranças do grupo. Da mesma forma ocorreu com o Hezbollah. O fato é que elimina as lideranças, mas não elimina a ideia, o ideal do povo. Novas lideranças logo surgem para ocupar o lugar dos que morreram.

E assim, enquanto os governantes de Israel não aceitarem sentar-se a uma mesa e negociar com lideranças palestinas confiáveis, os conflitos continuarão. E assim o acordo de cessar-fogo recém acordado será apenas mais uma palha a queimar no incêndio do Oriente Médio. E o triste é que a solução para o problema existe, o que falta são lideranças que tenham envergadura com capacidade para implementá-la.


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