Trump usa inimigos externos

Trump usa inimigos externos

O presidente dos Estados Unidos ataca China e Irã na reta final da campanha eleitoral

Jurandir Soares

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O presidente norte-americano Donald Trump aproveitou o plenário virtual da ONU nesta terça-feira para voltar a atacar a China, culpando-a por disseminar para o mundo a Covid-19. O “vírus chinês”, como ele gosta de enfatizar. Em outro pronunciamento, voltou suas baterias contra o Irã, a quem resolveu impor novas sanções, pelo que alega, descumprimento do acordo nuclear de 2015. Na quinta-feira, o embaixador da China nas Nações Unidas, Zhang Zun, deu a resposta, pedindo a Trump que pare de politizar o vírus e afirmando que os EUA já causaram problemas demais no mundo. “Os EUA estão contra a comunidade internacional e completamente isolados. É hora de acordar”, disse ele.

Já no que toca às sanções impostas ao Irã, a contestação veio de um parceiro europeu: o presidente francês Emmanuel Macron. Em um pronunciamento, ele disse que a França e seus aliados, Alemanha e Reino Unido, não aceitam restabelecer sanções contra o Irã. E “puxou a cadeira” de Trump ao ressaltar que os EUA não podem fazer qualquer exigência sobre o acordo com Teerã, porque, por decisão do próprio Trump, se afastaram do tratado em 2018.

De qualquer maneira para Trump, que está em reta final de campanha eleitoral, o importante neste momento é salientar o inimigo externo para sufocar os problemas internos. Internamente, ele está com grandes problemas com a queda acentuada da economia decorrente da pandemia, sua má condução no combate à Covid-19 e os protestos por questões raciais que proliferam pelo país. Assim, nada melhor do que usar uma velha tática. Destacar o inimigo externo. Especialmente, porque na crítica à China ou ao Irã todo o estadunidense apoia. Seja republicano ou democrata.

Mais outro lance de Trump, a pouco mais de um mês para as eleições, é tentar desacreditar o voto pelo correio. Isto porque sabe que os democratas usarão majoritariamente este expediente. Ameaça, se perder, contestar o pleito e levar o assunto para a Suprema Corte, onde, aliás, ele deve fazer uma mudança. No dia 18 deste mês faleceu a juíza Ruth Bader Ginsburg, considerada a mais a esquerda dentre os magistrados do tribunal. Sua morte dá a Trump a oportunidade de aumentar a maioria conservadora na Corte, de cinco para seis, num total de nove juízes. Seguramente que ele não irá desperdiçar esta oportunidade. No entanto, a próxima oportunidade que ele tem para buscar uma reversão nas pesquisas que estão colocando Joe Biden à sua frente será na próxima terça-feira. Às 22h, pelo horário de Brasília, acontecerá o primeiro e grande debate televisivo entre os dois candidatos. E televisão é chão do velho apresentador de reality show.


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