Venezuela vira pária

Venezuela vira pária

A credibilidade das eleições é contestada pela comunidade internacional que pede apurações transparentes

publicidade

Aconteceu na Venezuela aquilo que até os aliados latinos de Nicolás Maduro temiam: a vitória do ditador numa eleição sem a menor confiabilidade. Afinal, quem é que pode confiar na legitimidade de uma eleição em que os observadores da União Europeia são desconvidados por serem considerados “pessoas não sérias”. Quando até o “companheiro” Alberto Fernandes, da Argentina, tem sua ida vetada para acompanhar as eleições, por ser considerado “assumido com a oposição”. E onde o maior aliado de Maduro, o brasileiro Lula, é mandado tomar chá de camomila para se acalmar quando resolveu advertir o ditador do disparate de sua expressão de que “se a oposição ganhar vai ter um banho de sangue na Venezuela”.

Nunca se viu uma eleição realizada com tanta expectativa quanto sua seriedade como esta de domingo. Pesquisas dos mais diversos e conceituados institutos apontavam a vitória fácil da oposição. O Instituto Hypsos chegou a apontar uma diferença de 30% a favor de Edmundo Gonzáles Urrutia. Em função disto, uma das primeiras providências do regime foi proibir a pesquisa de boca de urna. Claro, porque esta, seguramente, iria dar uma amostra do quadro real. E aí seria impossível burlar o resultado do pleito, como estão a indicar todos os fatores.

A falta de confiabilidade do sistema é comprovada por alguns fatos marcantes. Como o de todos os integrantes da CNE, Comissão Nacional Eleitoral, equivalente ao nosso TSE, terem sido nomeados pelo atual regime. Assim como também o são os integrantes da Corte Suprema de Justiça. Em 2017, o sistema se descuidou e a oposição colocou maioria absoluta na Assembleia Nacional. Sentindo a dificuldade para seu despótico governo, Maduro, primeiro, cassou, logo após a eleição, cinco deputados da oposição para acabar com a maioria de dois terços. Logo depois, resolveu destituir a Assembleia Nacional e convocar uma Assembleia Constituinte, para a qual não permitiu a oposicionistas concorrer.

Este fato gerou uma sequência de manifestações pelo país, a maior, em Caracas, acabou com a morte de 103 pessoas. Aliás, fato que levou a líder oposicionista María Corina Machado a fazer uma denúncia da violência do regime junto à Corte Interamericana de Justiça. O que alicerçou sua liderança oposicionista, passando a ser apontada como alguém que poderia destronar Maduro numa eleição regular. A providência do regime foi cassar seus direitos políticos por 15 anos, por “traição à Pátria”. Mesmo assim, tudo levava a crer que o último indicado para substituí-la, o diplomata Edmundo Gonzáles Urrutia, tinha plenas condições de ser o vencedor do pleito.

Fica a frustração para a maioria do povo venezuelano e, por extensão, do latino-americano, que esperava que a Venezuela fosse retomar o caminho da democracia. Algo que se vê frustrado quando até uma expressão da esquerda da América Latina, o presidente do Chile, Gabriel Boric, diz não acreditar no resultado da eleição de domingo. Vale lembrar que dentre as manobras do regime estão os impedimentos para votar que foram impostos aos cerca de 7,7 milhões de venezuelanos que tiveram que deixar o país. Isto porque o regime sabia que estes seriam votos contra ele.

O pior é que este contingente que fugiu para ter o que comer deverá aumentar. Assim como também deverá aumentar a repressão e a violação aos direitos humanos, marcas do regime. Que também tem como seu “mérito” ter sucateado a indústria nacional, inclusive a poderosa Petróleo de Venezuela S.A, responsável por explorar uma das maiores reservas mundiais de petróleo.

O que se espera agora é que haja uma ação coordenada dos governos latino-americanos no sentido de isolar o regime de Maduro. Neste sentido fica uma grande curiosidade com relação à posição que irá assumir o governo brasileiro. Espera-se que não seja conivente com o que acontece. Pelo menos, até o momento em que escrevo esta coluna, há uma desconfiança, manifestada por um dos maiores aliados de Maduro, Celso Amorim, chamado de o Chanceler do B, por ser quem conduz a política externa para a América Latina do governo Lula. Em detrimento do titular da pasta, Mauro Vieira.

Em tempos de defesa da democracia e da liberdade de expressão no continente, não se pode seguir dando suporte para um regime como este que está fazendo a Venezuela se tornar um pária internacional.


Mais Lidas

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895