Luiz Coronel

Duelo de Adagas

O poeta Luiz Coronel publica em sua coluna uma letra de sua autoria que foi musicada por Ewerton Ferreira

Luiz Coronel: "Poncho atado um no outro/ e as adagas de um bom corte./ Enlaçados pelo ódio,/ abraçados pela morte."
Luiz Coronel: "Poncho atado um no outro/ e as adagas de um bom corte./ Enlaçados pelo ódio,/ abraçados pela morte." Foto : Paulo Mendes / Especial / CP

Eram dois irmãos calados

– um tropeça e outro cai –

o queixo duro da mãe,

o mesmo silêncio do pai.

As fainas do dia a dia

carregavam ombro a ombro.

E tão bem se entendiam

qual o vulto e sua sombra.

Apostavam no mesmo baio,

mateavam horas a fio.

No mundo não há quem explique

as razões do desafio.

Por questões de sesmarias

ou por afago de fêmea?

Ou quem sabe o braço afoito

ou mesmo a boca blasfema?

Beberam jarras de ódio,

comeram rações de avareza.

A loucura e a ganância

sentaram na mesma mesa.

Poncho atado um no outro

e as adagas de um bom corte.

Enlaçados pelo ódio,

abraçados pela morte.

Duas vertentes de sangue

se encontram logo em seguida.

Nem mesmo a morte separa

os rumos daquelas vidas.