Os Relógios

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No relógio dos namorados,
definido o tempo-espaço,
quando os ponteiros se encontram,
trocam juras e abraços.
No relógio na infância,
as horas batem tambor.
O tempo voa, desliza
pelo escorregador.
Há um duelo punhal-espada
no relógio dos bandidos.
Espada sempre em guarda,
e o punhal, semiescondido.
No relógio dos quartéis,
após ordem-unida, descanso.
Os ponteiros desfilaram
em marcha passo-de-ganso.
No relógio da estação,
quem se atrasa, perde o trem.
O ponteiro dos segundos,
a quem espera, não vem.
Há relógios mal-assombrados,
com seus mistérios, enredos.
À meia-noite os ponteiros
liberam sinistros morcegos.
Ao homem do campo, o sol
faz seu preciso relato:
o sol na porta da casa,
a sombra caindo no mato.
No coração das torcidas,
a paixão dilacerada.
Quando o juiz olha o relógio,
move-se a arquibancada.
Ao relógio do campo santo
que não se ouse dar corda.
A morte desfaz o tempo,
que não passe o umbral da porta.