Os Relógios

Os Relógios

Poeta Luiz Coronel

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No relógio dos namorados,

definido o tempo-espaço,

quando os ponteiros se encontram,

trocam juras e abraços.

No relógio na infância,

as horas batem tambor.

O tempo voa, desliza

pelo escorregador.

Há um duelo punhal-espada

no relógio dos bandidos.

Espada sempre em guarda,

e o punhal, semiescondido.

No relógio dos quartéis,

após ordem-unida, descanso.

Os ponteiros desfilaram

em marcha passo-de-ganso.

No relógio da estação,

quem se atrasa, perde o trem.

O ponteiro dos segundos,

a quem espera, não vem.

Há relógios mal-assombrados,

com seus mistérios, enredos.

À meia-noite os ponteiros

liberam sinistros morcegos.

Ao homem do campo, o sol

faz seu preciso relato:

o sol na porta da casa,

a sombra caindo no mato.

No coração das torcidas,

a paixão dilacerada.

Quando o juiz olha o relógio,

move-se a arquibancada.

Ao relógio do campo santo

que não se ouse dar corda.

A morte desfaz o tempo,

que não passe o umbral da porta.


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