De ficção e realidade

De ficção e realidade

Na coluna Santuatento, o crítico Marcos Santuario aborda a produção que aborda a tragédia da Boate Kiss em exibição na plataforma Netflix

Marcos Santuario

“Todo Dia a Mesma Noite” entrou na grade da plataforma Netflix nesta quinta-feira

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O destaque principal desta semana nas telas, de todos os tamanhos, não poderia ser outro se não as produções relacionadas ao acontecido há dez anos, em Santa Maria. Desde o incêndio da Boate Kiss, os relatos, a dor e o sofrimento permaneceram assombrando familiares e amigos das 242 vítimas fatais e dos mais de 600 feridos da tragédia. E é para lembrar de todas estas pessoas e gerar empatia com suas dores e suas lutas que produções como “Todo Dia a Mesma Noite”, com direção de Júlia Rezende e produção da Netflix, servem. Quantos filmes sobre o Holocausto nos fazem lembrar, constantemente daquela desumanidade e da consequente dor imposta para um povo? E sobre outras tragédias, provocadas ou não pelo próprio homem, quantas obras audiovisuais nos ajudam a rememorar ações ou omissões que poderiam fazer uma História diferente? 

Só por esta razão já valeria toda a atenção sobre o trabalho meticuloso, respeitoso, profissional e necessário realizado sob a direção geral de Júlia e com a produção de Marisa Leão. Tal qual testemunho histórico, a obra ficcional se baseou na experiência vivida e no livro “Todo dia a Mesma Noite - A história não Contada da Boate Kiss”, escrito pela jornalista e escritora Daniela Arbex, autora do livro. Lançada pela Intrínseca em 2018, a obra não é de fácil digestão, assim como a série de cinco capítulos. 
A dificuldade de ir avançando na leitura, e no acompanhamento da narrativa audiovisual, reside no que se vai imaginando a partir dos relatos apresentados. Tudo revela as dores, o sofrimento e um universo de emoções por trás dos fatos ali descritos. É como ser colocado diretamente nos acontecimentos e seus desdobramentos mais difíceis e, por vezes, inesquecíveis.

No caso da minissérie há o clássico e eficaz olhar sobre as experiências humanas por trás da tragédia. Vamos a fundo acompanhando quatro das famílias cujos filhos morreram durante o incêndio e também participam de uma associação criada pelos parentes das vítimas. Somos levados, pelas atuações de Thelmo Fernandes, Debora Lamm, Paulo Gorgulho, Raquel Karro, Bianca Byington e Leonardo Medeiros, a uma intensa empatia com os familiares das vítimas, mergulhando em detalhes mais íntimos. Não há dúvidas de que a produção vai ganhar o mundo, assim como as notícias do acontecimento que marcou e marca vidas.


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