Hugo Motta não é presidente da Câmara dos Deputados por acaso

Hugo Motta não é presidente da Câmara dos Deputados por acaso

Deputado do Republicanos decidiu por não priorizar a proposta da anistia; PL promete represálias

Taline Oppitz

Presidente da Câmara resistiu às pressões do maior partido da Casa Legislativa

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Ninguém chega à presidência da Câmara, um dos cargos mais importantes da cadeia alimentar da República, por acaso. Deputado mais novo a assumir o comando da Casa, aos 35 anos, Hugo Motta (Republicanos) tem exercido habilidades no principal desafio de seu curto tempo na cadeira.

Sob fogo cruzado, em função da pressão do PL, maior partido da Câmara, com 92 parlamentares, pelo avanço da proposta de anistia, e, de outro lado, do Planalto e aliados, contrários à aplicação do perdão aos envolvidos no 8 de janeiro, Motta costurou uma saída.

Ciente do tamanho da empreitada e dos desdobramentos que viriam atrelados à sua decisão, independentemente de qual fosse, Motta tratou de compartilhar com os líderes, que concentram doses elevadas de poder no formato de funcionamento da Câmara, a responsabilidade da decisão.

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A série de tratativas visando a construção de um entendimento foi selada na noite de quarta-feira, em jantar, na residência da presidência da Câmara. Motta recebeu o presidente Lula e líderes partidários, à exceção do PL, que sequer foi convidado.

O resultado da articulação, que evidenciou o envolvimento pessoal que Lula deve destinar às negociações com o Congresso a partir de agora, foi visto ontem, na reunião de líderes. O PL foi ao encontro fardado para exigir a colocação em pauta da urgência da anistia. Afinal, o partido protocolou requerimento, com 262 assinaturas, na semana passada.

Em vão. Avalizado por líderes de partidos que somam cerca de 400 parlamentares, Motta afirmou que a anistia não é prioridade, especialmente diante de temas com maior apelo popular, como o projeto do governo de ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda.

O PL promete retaliação, colocando em prática, mais uma vez, a tentativa de obstruir pautas em plenário e nas comissões. O movimento, além de restrito, pode acabar sendo um tiro no pé.

A alternativa viável, que já vem sendo debatida no PL, e em outros partidos, incluindo da base, é a elaboração de uma proposta que não represente o perdão irrestrito e que não passe a mensagem de que quem atentar contra a democracia não terá que pagar.


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