Prévias tucanas em xeque

Prévias tucanas em xeque

Ao invés de símbolo da democracia interna do PSDB, prévias acabaram se tornando uma chacota

Taline Oppitz

Prévias seguem sem data marcada para acontecer

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Acirradas, especialmente no último mês, as prévias nacionais do PSDB para definir o candidato do partido ao Planalto, neste domingo, tiveram de ser adiadas devido à instabilidade no aplicativo de votação. Ainda não há nova data para a conclusão do processo. A ferramenta foi um dos casos de embates entre as duas principais candidaturas, dos governadores do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, e de São Paulo, João Doria, e agora ganhou novos contornos. Em função da instabilidade, o horário de votação foi ampliado, mas até o fim do dia pouco mais de três mil dos mais 44 mil filiados haviam conseguido votar.

O cenário levou apoiadores de Leite a classificar o processo como maculado e passarem a cogitar o adiamento ou a ampliação de mais dias para votação. Após sucessivas reuniões, a cúpula tucana anunciou o adiamento. Exaltadas como um símbolo da democracia interna tucana, as prévias acabaram se tornando uma chacota, que ampliou os rachas internos.

Apesar dos discursos de Leite e Doria, até aqui, sobre a união do PSDB após o processo, na prática não ocorrerá de forma natural e será o primeiro desafio do vencedor e das lideranças após a disputa interna, que provavelmente acabará judicializada. O PSDB, acostumado a polarizar com o PT em diversas eleições presidenciais, foi excluído do protagonismo em 2018, quando Jair Bolsonaro, então no PSL, à época um partido nanico, venceu o petista Fernando Haddad e elegeu a maior bancada da Câmara.

Acostumado com a presença no segundo turno, o PSDB teve o pior desempenho de sua história, com pífios 4,76% dos votos conquistados por Geraldo Alckmin, e viu sua representação de parlamentares reduzir-se a menos da metade. As eleições de 2022, portanto, serão uma prova e tanto para os tucanos. 

A polarização que marcou a corrida presidencial em 2018 está ainda mais forte, devido à atuação de Bolsonaro e à volta de Lula ao cenário eleitoral, com as revisões de penas impostas a ele na Justiça. Romper esta polarização e se viabilizar como uma terceira via será mais um dos desafios do PSDB na eleição, que terá agora, como prioridade, viabilizar a escolha de seu candidato.

Resultado movimentará tabuleiro
Após o desfecho da eleição interna tucana, que agora não tem prazo, peças irão se mexer no tabuleiro nacional e nos estados. No caso do Rio Grande do Sul, movimentos são esperados especialmente por parte do MDB, que pretende realizar prévias, mas enfrenta o risco de perder o timing, já que diversas candidaturas estão postas e já articulando aliança

Perfis distintos
Leite e Doria têm trajetórias e perfis distintos de atuação no campo político. O governador de São Paulo, ao longo da pandemia, protagonizou brigas incisivas com o presidente e a família Bolsonaro, principalmente envolvendo a vacina. Doria viabilizou o início da imunização à revelia do Ministério da Saúde em episódio que se tornou simbólico dentro e fora do país. Com isto, ganhou o rótulo de arqui-inimigo do clã Bolsonaro.

Leite sempre teve postura e discurso mais amenos em relação ao presidente e elevou o tom das críticas e cobranças mais recentemente. O gaúcho, de apenas 36 anos, que ao longo do processo assumiu que é gay, tornou o Rio Grande do Sul uma das vitrines do PSDB no país e é identificado pelo perfil conciliador e de diálogo. Em tempo: o adiamento das prévias elevará ainda mais o acirramento dos ânimos. 


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