A hora do pré-custeio

A hora do pré-custeio

Bancos começam a liberar recursos para aquisição de primeiros insumos à safra 2021/2022

Por
Danton Júnior

Mesmo sem ter colhido a safra 2020/2021, muitos produtores já estão de olho na liberação de recursos para o pré-custeio, visando a aquisição de insumos para a próxima safra. Recursos destinados a essa modalidade já foram anunciados nos últimos dias por alguns bancos.

O Sicredi informou que vai destinar R$ 6,9 bilhões. “O agronegócio tem sido um dos principais motores da economia brasileira, mesmo durante os momentos de maior dificuldade, e esse movimento de antecipação do custeio da próxima safra é importante para que os produtores tenham mais tranquilidade para planejar sua produção”, salientou o diretor executivo de crédito, Gustavo Freitas. O volume é semelhante ao disponibilizado pela Caixa Econômica Federal, que prevê R$ 6,5 bilhões, disponíveis até junho de 2021. O valor é 20% maior que o disponibilizado no ano agrícola anterior. Os recursos têm como finalidade financiar as despesas do ciclo de produção de culturas como soja, milho, arroz e feijão, entre outras.

A liberação do pré-custeio é vista como estratégica principalmente entre os produtores de arroz, que desta forma conseguem atuar para manter o patamar de preços do cereal. “A expectativa, obviamente, é que tenha o pré-custeio disponível o quanto antes para que os produtores não precisem lançar mão de uma grande quantidade de arroz logo na colheita para enfrentar as despesas que têm”, ressalta o presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Alexandre Velho. “Isso traz sustentabilidade nos preços porque diminui a pressão de oferta durante a colheita”, complementa o dirigente. Ele observa que, em razão do preparo antecipado de solo que a cultura exige, os produtores de arroz têm a necessidade, logo após a colheita, de tomar providências como a compra de óleo diesel e a manutenção de equipamento, entre outras. Em muitas lavouras, a colheita se inicia ainda no mês de fevereiro.

Após mais uma edição da Abertura Oficial da Colheita do Arroz, encerrada no dia 11 de fevereiro, a liberação do pré-custeio deve entrar na pauta da Federarroz nos próximos dias, segundo Velho. O dirigente pretende conversar com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e com as instituições financeiras sobre esse tema e sobre verbas para comercialização. Embora seja um recurso importante para o setor, Velho pondera que somente 20% a 30% dos produtores têm acesso ao crédito oficial, o que representa uma área de cerca de 300 mil hectares a ser beneficiada com o pré-custeio no Rio Grande do Sul.

O 1º vice-presidente da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), Elmar Konrad, considera o pré-custeio uma ferramenta importante, mas que retroagiu. Segundo ele, o ideal seria que o prazo do financiamento para lavouras de grãos fosse de 14 a 18 meses, e não de 12 meses, como ocorre atualmente. “Em 12 meses, seja no milho ou  na soja, não se fecha um ciclo da cultura”, observa, ressaltando que o pré-custeio costuma ser liberado a partir de fevereiro, enquanto que a colheita da soja se inicia em março. “Não é compatível com a realidade da produção”, sustenta. De acordo com Konrad, a mudança tem sido reivindicada tanto pela Farsul quanto pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

Correio do Povo
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