CAPÍTULO 12 – ENTREVISTA COM ALBERTO GUERRA
Advogado e dirigente de longa data no Grêmio, Alberto Guerra assumiu a presidência em novembro de 2022, logo após o retorno à Série A. Desde então, enfrentou seguidas dificuldades financeiras, com déficits de R$ 45 milhões em 2023 e R$ 58 milhões em 2024. No período, o clube viu sua dívida crescer, demandando mais dinheiro para pagamento de juros. Para ele, a ausência de posse da Arena é um entrave que prejudica financeiramente e emocionalmente o clube e seus torcedores. Antigo opositor da SAF, Guerra mudou de opinião e hoje vê na transformação uma chance real de retomar a competitividade.
Confira o especial completo "Acabou a grandeza?"
Acabou a grandeza do Grêmio?
De forma alguma. O Grêmio continua sendo gigante. Passamos por fases ruins, como a atual, mas vamos nos reerguer. O time de hoje, que ainda precisa evoluir, é melhor do que o que encontrei quando assumi. Se mantivermos o rumo e tivermos paciência, podemos colher os frutos em breve, mas é um caminho difícil.
Por que o Grêmio não resolve a questão da Arena?
É um problema complexo. Mas, no dia em que o Grêmio tiver a Arena, nossa receita pode crescer entre 25% e 30%. Os próprios balanços da Arena estimam um impacto de R$ 80 milhões por ano. Mesmo descontando os custos de manutenção, sobrariam cerca de R$ 50 milhões anuais para o clube. Isso mudaria muita coisa.
Por que Flamengo e Palmeiras se distanciaram tanto?
Todo mundo sabia que, no dia em que o Flamengo se organizasse, ficaria difícil. E aconteceu. Enquanto isso, o Grêmio gasta R$ 50 milhões por ano só com juros. Isso compromete o caixa e impacta diretamente na competitividade.
O senhor apoia a transformação do Grêmio em SAF?
Me elegi contra a SAF e defendi isso por mais de dois anos. Mas hoje sou favorável. Talvez eu seja o único dirigente a dizer isso com clareza. Precisamos da proposta certa, de uma empresa que conheça o esporte e queira vencer, e não apenas lucrar.
O Grêmio já recebeu alguma proposta formal?
O assunto está sempre na mesa. Pela grandeza do clube, há procura constante. Mas nenhuma conversa evoluiu até agora.
Qual modelo mais lhe atrai?
Gosto do modelo do Bahia. Mas há vários caminhos possíveis. Enquanto não fecharmos nenhuma parceria, a receita é clara: reduzir dívidas e acertar no futebol. É no campo que se muda o rumo. As vitórias é que trazem mais recursos. E com mais dinheiro, o ciclo se retroalimenta. A questão é que, hoje, nossa margem de erro é menor que a dos concorrentes. Estou há dois anos e meio no cargo, e não teve um único dia em que acordei tranquilo sabendo que havia dinheiro para pagar todas as contas.