Você já se deparou com um banco vermelho e se perguntou qual o significado? Pois a presença deles é crescente em Porto Alegre e em cidades do interior do Estado. Na entrada das principais instituições públicas, como hospitais, delegacias de polícia, sedes do Poder Judiciário e em parques como o da Redenção, por exemplo, essas peças simbolizam a luta coletiva pelo fim do feminicídio.
Pintados na cor que reflete a urgência com que o tema recai sobre a sociedade gaúcha, tais objetos ultrapassam a mera função de mobiliário urbano. Carregam mensagens que convidam a população a refletir e denunciar a violência de gênero. Quando vazios, lembram a ausência das mulheres que se foram; ainda que inertes por natureza, gritam por vida. Embora separados fisicamente, representam unidade pelo fim da covardia.
A campanha Banco Vermelho ganha força no Rio Grande do Sul no ano em que as estatísticas de feminicídio voltam a crescer. De janeiro a outubro de 2025, foram registrados 57 feminicídios e 205 tentativas no Estado, conforme a Secretaria da Segurança Pública (SSP). Em um único fim de semana de abril, 11 mulheres foram assassinadas por ex ou atuais companheiros — crescimento superior a 1.100% na comparação com 2024, indica o Relatório Lilás, lançado no início deste mês pela Comissão de Cidadania e Direitos Humanos e pela Frente Parlamentar dos Homens pelo Fim da Violência Contra a Mulher da Assembleia Legislativa do RS. O documento aponta que mais de 40 mil denúncias de violência contra mulheres já foram registradas em 2025 no Estado.
A ação internacional teve origem na Itália, em 2016, e chegou a países como Estados Unidos, Espanha, Áustria, Mongólia, Austrália, Ucrânia, Argentina e Brasil. No Rio Grande do Sul, o Ministério Público (MPRS), o Tribunal de Justiça (TJRS), a Polícia Civil, o Grupo Hospitalar Conceição e a Defensoria Pública são promotores da iniciativa.
Ao mesmo tempo em que evidencia a violência de gênero, os bancos vermelhos divulgam mensagens de apoio, contatos de emergência e canais de denúncia. Ao lado do equipamento instalado na Redenção — na esquina da Avenida Osvaldo Aranha com a Rua do Brique — uma placa clama: “Parem de nos matar.” Junto estão os telefones da Brigada Militar (190), da Central de Denúncias de Violência contra a Mulher (180) e da Delegacia da Mulher em Porto Alegre (51 3288-2172), além do perfil @bancosvermelhos_oficial, com detalhes da iniciativa global.
No GHC, a ação integra o programa do Instituto Banco Vermelho (IBV), criado em 2023, em Recife, e transformado em política pública nacional, com uma lei sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no fim de julho deste ano. O primeiro banco foi instalado em setembro e cada unidade do GHC deverá receber um exemplar ao longo do ano. No mobiliário inaugural, as frases “A relação abusiva de hoje pode se tornar o feminicídio de amanhã. Sentar e refletir. Levantar e agir.”
Desde 2024, os bancos vermelhos estão em três prédios do Poder Judiciário gaúcho: na entrada do Foro Criminal (Foro Central I), do Foro Cível (Foro Central II) e do Palácio da Justiça. A iniciativa é da Coordenadoria Estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar (Cevid) do TJRS, em parceria com a Corregedoria-Geral da Justiça (CGJ) e a Direção do Foro da Comarca de Porto Alegre.
Por sua vez, a Defensoria Pública e as Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher mantêm os mobiliários temáticos em diferentes unidades e municípios gaúchos. A ideia é acolher as vítimas, convidar a sociedade à reflexão e incentivar denúncias de agressão.
A cuidadora de idosos Miriam Cavaleiro Delgado, 35 anos, usa o banco da Redenção diariamente. Conhece e apoia a campanha. “Eu sei do protocolo dele, do que representa (banco), então eu me sinto mais tranquila esperando sentada nele. Porque a gente tá sempre vulnerável, eu diria. Ser mulher é ser vulnerável”, lamenta.
Mãe de dois filhos, Miriam revela ter sido vítima de violência de gênero. Lutou durante cinco anos para sair de um relacionamento abusivo que durou longos 18 anos. Atualmente, com a vida reconstruída, incentiva homens e mulheres pelo fim das agressões. “Eu criei coragem e denunciei. Se todas as mulheres soubessem o porquê do banquinho vermelho... Ele é um incentivo para que procurem um canal de denúncia. Ninguém pode sofrer ou testemunhar calado a violência.”
Além de aderir ao movimento internacional, o Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS) lançou, no início deste ano, a campanha “Eu Falo por Elas – Unindo vozes contra a violência de gênero”. Desenvolvida pelo Gabinete de Comunicação Social (GabCom) da instituição, em conjunto com o Centro de Apoio Operacional de Enfrentamento à Violência contra a Mulher (CAOVCM), a iniciativa transforma relatos reais de vítimas em mensagens de conscientização, narradas por mulheres que emprestam sua voz, sua imagem e sua força para amplificar histórias que, por muito tempo, ficaram presas ao silêncio.
O procurador-geral de Justiça Alexandre Saltz destacou que o enfrentamento à violência contra a mulher é um dever coletivo. “Muitas dessas histórias permaneciam silenciadas, escondidas pelo medo, pela vergonha ou pela falta de apoio. Hoje estamos aqui pra dizer com toda convicção: Basta! Chega! O Ministério Público é a voz de quem foi silenciado”, afirmou Saltz.
Para a promotora de Justiça Ivana Battaglin, coordenadora do CAOVCM, a campanha tem como propósito romper o ciclo de medo e isolamento que dificultam as denúncias. “A campanha ‘Eu falo por elas’ nasce da necessidade de romper esse silêncio, imposto a tantas mulheres que não denunciam seus agressores por medo, dependência econômica, dependência emocional, ausência de redes de apoio ou falta de perspectiva de justiça. Hoje damos voz a essas mulheres, amplificamos as suas histórias e mostramos que elas não estão sozinhas”, disse.
A campanha reúne nomes de destaque de diferentes áreas — jornalistas, empresárias, artistas e influenciadoras digitais — que se uniram em torno da causa. Entre elas estão Patrícia Parenza, Patrícia Pontalti, Xuxa Pires, Deise Nunes, Valéria Barcellos e Tathiane Araújo.
BANCOS VERMELHOS PELO ESTADO
A campanha conta com bancos em várias cidades e instituições gaúchas.
Porto Alegre: Há um banco em frente ao Hospital Conceição e outro no Parque da Redenção; o Ministério Público do Estado possui um deles em sua sede e o Tribunal de Justiça inaugurou três: na entrada do Foro Criminal (Foro Central I), do Foro Cível (Foro Central II) e do Palácio da Justiça.
O município de Serafina Corrêa tem um banco vermelho itinerante, que vai passando por diversos prédios públicos. Já Dom Pedrito inaugurou um banco na Praça General Osório. A Prefeitura de Canoas instalou um na Praça Emancipação. A Câmara de Vereadores de Caxias do Sul também conta com um banco. A Defensoria Pública de Panambi recebeu um. A comarca de Catuípe inaugurou o seu este mês. A Prefeitura de Rio Grande também instalou seu banco vermelho na cidade. Gravataí possui um banco que conta com o apoio da Secretaria Municipal da Mulher. Esse são apenas alguns. Também diversas Delegacias da Mulher em todo o estado receberam bancos vermelhos.