A relação entre imprensa e clubes no país existe desde que os primeiros times surgiram no Brasil. Até chegarmos ao estágio atual foi preciso que muita gente atuasse para aperfeiçoar essa comunicação. Gente que manteve e até hoje mantém outras relações com quem de fato vive ou viveu do futebol.
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“Tenho uma relação de amizade além da profissional, é pessoal com a grande maioria dos repórteres que trabalhava naquela época. Tínhamos liberdade e os repórteres tinham um livre acesso aos treinamentos,” recorda Bolívar, capitão do bicampeonato da Libertadores do Inter, em 2010.
Décadas antes, a situação era ainda mais inimaginável para a atual geração. Anos em que, graças à divulgação nos jornais e nas rádios, as multidões iam em massa aos estádios. Havia lá uma espécie de dependência quase umbilical entre a mídia e a bola. O futebol dependia dos veículos da época para ganhar popularidade. Na via contrária, os veículos viam aumentar a audiência graças à popularidade despertada pelo futebol, principalmente nas décadas de 1950 e 1960.
Nos anos 1970, a chegada da televisão trouxe uma nova concorrência. Aquilo que o torcedor imaginava ao escutar uma transmissão no rádio ou lendo uma crônica nos impressos, por exemplo, agora ele via. Foi como se todo um novo mundo se abrisse na comunicação, com generoso espaço para o futebol.
Entrevistas sem agendamento
Bolívar teve toda a carreira cercada de perto pelos jornalistas. Ainda como jogador, acompanhou uma transformação importante. As entrevistas aconteciam sem qualquer agendamento ou organização antes ou depois de treinamentos. No entanto, isso deixaria de existir para que os clubes passassem a ter um maior controle do que era tornado público.
No final dos anos 1990, as assessorias de imprensa passaram a ser personagens comuns aos principais clubes do país, com acesso ao vestiário. Aos poucos, o acesso da imprensa deixou de ser tão irrestrito. Mesmo assim, as entrevistas diárias permaneceram, ainda que agora mais formais, saindo do pátio e indo para a sala de imprensa. E assim vinha sendo nos principais clubes do Brasil. Diante dos bons ou maus resultados, sempre alguém aparecia para falar ao torcedor cotidianamente via imprensa.
Até que veio a pandemia e o que era um hábito, talvez até uma responsabilidade do cargo dos profissionais, simplesmente desapareceu. Se não completamente, perto disso.
“Nós sempre fomos acostumados com a imprensa cobrindo os treinamentos. Depois da pandemia não teve mais e, na minha opinião, (o jornalista) acaba ficando um pouco refém, pois não tem como observar e ver o que está sendo feito.”
A frase acima é de Maicon, capitão do pentacampeonato da Copa do Brasil com o Grêmio em 2016, que completa: “Não acho que o atual momento esteja legal. Está tudo muito controlado, perde um pouco daquilo que estamos acostumados, a entrevista antes e depois do jogo para falar do resultado e a atuação da equipe”.