Batizada de Plano ABC+, a nova etapa do Plano Setorial de Adaptação e Baixa Emissão de Carbono na Agropecuária busca reduzir em 1,1 bilhão de toneladas as emissões de dióxido de carbono até 2030 – sete vezes mais do que a meta do programa original, executado na década passada. No Rio Grande do Sul, as ações do projeto são coordenadas pela Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi), que vem realizando, nos municípios, eventos para promover boas práticas de manejo e de conservação do solo, capazes de amenizar os impactos de estiagens, e de reduzir a emissão de carbono ao meio ambiente.
O primeiro foi realizado no início deste mês em Cruzeiro do Sul, em parceria com a Associação de Vereadores do Vale do Taquari (AVAT), e mais 10 encontros deverão ocorrer até o fim do ano em outras regiões gaúchas produtoras de grãos, carnes e leite.
Coordenador do Comitê Gestor Estadual do Plano de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono, o engenheiro florestal Jackson Brilhante explica que, nesses eventos, o foco é direcionado a duas das metas do programa federal. A primeira é o sistema de plantio direto, no qual as sementes são lançadas diretamente no solo, com um revolvimento mínimo da terra. Aliado no combate à erosão, esse tipo de manejo prevê ainda o uso de palha e plantas de cobertura durante o ano todo, em um plano de rotação de culturas. “Essas estratégias promovem uma melhoria na estruturação do solo, que retém mais carbono. Consequentemente, a água tende a infiltrar mais, comparado ao sistema convencional”, explica Brilhante.
A outra meta do ABC+ priorizada nas ações da Seapi é aumentar o uso de bioinsumos nas lavouras. Desenvolvidos a partir de microrganismos vivos, os produtos fornecem nitrogênio do ar para as plantas e também produzem fitormônios como o ácido indolacético, que promove o crescimento vegetal. “Numa condição em que você tem restrição de água e usar um bioinsumo para estimular o crescimento da raiz, vai ter uma capacidade maior de absorção de água”, diz Brilhante.
Entre outras medidas que melhoram a qualidade do solo e ajudam a atenuar a escassez hídrica, o engenheiro florestal destaca ainda os sistemas agroflorestais, que preveem a integração entre cultivos agrícolas, pecuária e árvores (florestais e frutíferas) nas propriedades rurais. “Mostramos (nos eventos) a capacidade da árvore de minimizar o impacto da radiação direta sobre a pastagem e sobre os animais, criando um ambiente muito mais favorável para a produção”, exemplifica.
Segundo Brilhante, a adoção dessas técnicas é incentivada para facilitar a adaptação do campo às mudanças climáticas. A agropecuária é uma das atividades que liberam carbono e metano, gases associados ao efeito estufa, por isso cresce a pressão internacional para que o Brasil ajuste seus métodos de produção. Ao apresentar a importância das boas práticas de manejo do solo aos vereadores, a Seapi quer levar conhecimento a quem propõe as legislações municipais. “Se tivermos mecanismos (locais) que incentivem a qualificação do sistema de plantio direto, a gente tende a ter uma produção mais resiliente”, afirma o engenheiro.