Expointer: pés no chão e olhos voltados para o futuro

Expointer: pés no chão e olhos voltados para o futuro

Transformações da pecuária, atividade tradicional do Rio Grande do Sul, ocuparão lugar de destaque na 45ª Expointer, que ocorre em Esteio a partir de 27 de agosto, mas tem lançamento oficial nesta segunda-feira

Por
Thaíse Teixeira

A Expointer de 2022, que será oficialmente lançada pelo governo do Estado na próxima segunda-feira, dia 15, no Palco Multiverso do Cais Embarcadero, em Porto Alegre, promete marcar a história do agronegócio gaúcho. Além de completar 45 anos como exposição internacional, a feira também sediará a 85ª Exposição Estadual de Animais, realizada no Parque Assis Brasil, em Esteio, desde 1970. De lá para cá, o julgamento de animais de produção de alta genética tornou-se um encontro anual e obrigatório para pecuaristas, especialistas em seleção genética, estudantes e profissionais da área. Invariavelmente realizado entre o último final de semana de agosto e o primeiro final de semana de setembro, consolidou-se como polo de discussões setoriais, decisões políticas, conhecimento e tecnologia. 

Neste ano, entretanto, a exposição de animais que ocorrerá de 27 de agosto a 4 de setembro, estará em um inédito cenário. Depois de praticamente dois anos sem acontecer em sua plenitude, por conta das restrições sanitárias decorrentes da pandemia de Covid-19, o evento apresentará uma pecuária de corte voltada para novos rumos. Segundo o coordenador do Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (NESPro) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Júlio Barcellos, a fotografia pós-pandêmica da pecuária gaúcha retrata um rebanho de tamanho menor, estabilizado em 11,5 milhões de cabeças, mantido por um número de cabanhas mais restrito, porém com performance superior em produtividade. “O gado que está indo para a vitrine da Expointer este ano é tão bom quanto o que está no estoque. Eis a diferença desta para as edições anteriores. O gado exposto não é apenas um show, é o retrato do que o produtor tem mesmo para vender”, explica.

Na prática, isso significa que os animais criados (e expostos) nos galpões estão mais padronizados no tamanho e no porte, não mais sendo especialmente preparados para disputar “a ferro e fogo” o título de touro mais pesado da feira. A luta, agora, é pela faixa de grande campeão ou grande campeã na geração de descendentes que, no campo, convertam mais veloz e eficientemente o pasto em ganho de peso diário e aumentem o rendimento e a qualidade da carcaça no frigorífico, de preferência, com bonificação pela qualidade do produto.

Frente ao conflito entre Rússia e Ucrânia, que agravou a crise econômica mundial e elevou os custos de produção a níveis estratosféricos, os produtores de carne chegam à exposição também em busca de soluções de gestão e produção alinhadas com a “internet das coisas”, via startups e utilização da nanotecnologia. “A índole do gaúcho é conservadora em termos de riscos e ele não é desafiador ao ponto de mudar sua matriz de produção. Isso moderniza a pecuária e traz o jovem que usa a calca jeans e a bota de borracha, mais afeito às inovações e que entende de máquinas agrícolas”, aponta Barcellos.

No radar da pecuária de corte ainda está a escassez alimentar mundial que se avizinha e que vem ao encontro do potencial produtivo agrícola ainda inexplorado da Metade Sul do Estado. “Nunca vi a pecuária de corte tão desafiada como agora. Com o avanço da soja a R$ 200,00 a saca, precisamos de novas soluções para a integração com a pecuária e para a verticalização da atividade para que seja mantida”, ressalta o presidente da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), Gedeão Pereira.

Assim, ao descer a rampa de acesso ao parque, o público reencontrará não só o berço da criação extensiva das raças britânicas e europeias no Brasil, mas da produção de uma matéria-prima imprescindível para agregar valor à qualidade da carne bovina brasileira. É o que mostrará, por exemplo, a Associação Brasileira de Angus, raça líder na comercialização de sêmen bovino no país, conforme a Associação Brasileira de Inseminação Artificial (Asbia). Depois de consolidar e expandir a certificação da carne Angus para todo o Brasil, a associação aproveitará a feira para lançar dois selos para chancelar a eficiência e a qualidade da genética Angus melhorada dentro das porteiras, facilitando e ampliando sua utilização Brasil afora. 

O selo Adaptação e o selo Performance, desenvolvidos em parceria com a Embrapa Pecuária Sul e com o Programa de Melhoramento de Bovinos de Carne (Promebo), vêm a somar com o já existente selo Seleção Qualidade de Carne, e têm como objetivo certificar reprodutores e matrizes com maior capacidade de adaptação e de desempenho, respectivamente. Conforme o gerente de Fomento da Angus, Mateus Pivato, as chancelas auxiliarão as compras já na próxima temporada de monta, na primavera. “Os selos podem tanto servir a quem quer fazer cruzamento quanto para quem quer melhorar a genética da própria raça”, afirma.

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895