Inter tenta um novo recomeço

Inter tenta um novo recomeço

Eliminado da Copa do Brasil e do Campeonato Gaúcho, o Colorado espera recuperar a temporada no Brasileirão

Apesar dos resultados ruins no início da temporada, a direção colorada decidiu manter o técnico uruguaio Alexander Medina no comando da casamata. Equipe terá um desafio complicado logo na largada do Campeonato Brasileiro, quando enfrenta, em Minas Gerais, o atual campeão, Atlético Mineiro

Por
FABRICIO FALKOWSKI

O peso da falta de títulos, a escassez de dinheiro, a fratricida disputa política que agita os bastidores, os equívocos de uma diretoria inexperiente e o fim de ciclo de um grupo perdedor puxam o Inter para baixo. E, paradoxalmente, quanto mais perde, mais se aproxima das derrotas. Dentro deste contexto, agora fora da disputa das finais do Campeonato Gaúcho, o presidente Alessandro Barcellos prepara-se para um novo recomeço. A ideia é deixar para trás os traumas e tropeços recentes e mirar em uma campanha digna e sem sustos no Campeonato Brasileiro, que começa em duas semanas, e na possibilidade, ainda que remota, da conquista do título da Copa Sul-Americana, cuja estreia do time colorado também é no início de abril.

Contrariando a expectativa − e até o desejo − da torcida, Barcellos anunciou a permanência de Alexander Cacique Medina no comando da comissão técnica após a quase inútil vitória no Gre-Nal da Arena, na última quarta-feira, por 1 a 0. O resultado, conciliado com a derrota no Beira-Rio, por 3 a 0, três dias antes, tirou o time colorado da final do Gauchão. O fracasso no estadual somou-se à vexatória queda da Copa do Brasil diante do inexpressivo Globo, do Rio Grande do Norte, e a série de más apresentações do Inter na temporada. Mesmo assim, Barcellos manteve o “projeto”.

“Fica a dor da eliminação (do Gauchão). Trabalhamos muito para virar essa chave e conquistar o título gaúcho, mas saímos com essa frustração, essa dor. A dor de quem vê um grupo sendo transformado na forma de jogar, na mentalidade, coisas que tentamos há algum tempo e ainda não conseguimos. Isso nos traz essa dor. E a gente não pode, em momento algum, deixar de sentir isso. Os primeiros dois objetivos da temporada não foram conquistados e isso é o que fica. Mas temos que olhar para frente, tirar o que foi positivo e o que foi negativo para nos dar um saldo melhor no futuro”, afirmou, ainda na Arena, na noite de quarta-feira, Barcellos.

Ou seja, apesar de ainda não ter conseguido impor um padrão ao time colorado, após mais de dois meses de trabalho, Medina tem a confiança dos dirigentes. “Eu entendo perfeitamente o grau de pressão que é trabalhar no Inter. É um time muito grande, com uma história gigante. Não ter um resultado positivo gera pressão. Mas eu me dedico muito. Precisamos de tempo. Nós, treinadores, precisamos de tempo para efetivar um projeto com regularidade de rendimento e resultados”, disse o técnico.

A partir de agora, ele terá tempo para trabalhar e reaglutinar o grupo. O Inter estreia no Brasileirão da pior forma possível, enfrentando o atual campeão Atlético Mineiro em Belo Horizonte. A notícia alvissareira é que o Inter conseguiu vencer dois dos três Gre-Nais disputados em sequência em apenas duas semanas. Em pelo menos dois, a atuação do time colorado foi superior à do Grêmio. Segundo Medina, a derrota por goleada ocorreu por “erros pontuais e grosseiros”. Ou seja, não estão exatamente na conta da coletividade, do time ou do seu próprio trabalho. É uma boa tese, no mínimo.

Mudança na fotografia

O recomeço colorado na temporada passa pela chegada de reforços e, provavelmente, pela saída de alguns jogadores que estão no grupo, mas perderam completamente o protagonismo. É o caso de Rodrigo Dourado e Victor Cuesta, que hoje podem ser considerados reservas de Alexander Cacique Medina. Além disso, os dirigentes precisam acelerar o processo de prospecção de reforços para entregar um time mais competitivo para o técnico.

Antes, o Inter ainda precisa confirmar a vinda de um novo executivo de futebol. Desde a saída de Paulo Bracks, há um mês, o cargo está vago. O seu preenchimento imediato é condição não só para a busca por novos jogadores ganhar agilidade, mas também para a permanência do vice-presidente de futebol, Emílio Papaléo Zin, que esteve demissionário, mas voltou atrás e decidiu ficar. Porém, impôs algumas condições, entre as quais, a vinda do executivo.

As outras são a contração de um coordenador técnico, que deve ser Paulo Autuori, e a liberação de recursos financeiros para a finalização de algumas negociação que estão encaminhadas há alguns dias. Com o novo executivo, o coordenador técnico e os reforços, o Inter teria fôlego. 

“Não vamos esgotar um debate aqui, mas ainda nos faltam alguns jogadores em funções específicas para que tenhamos condição de avaliar o trabalho que está sendo feito (sob o comando de Medina). E isso é responsabilidade da direção, é um compromisso nosso. Neste período antes das próximas competições, vamos conseguir fazer isso”, afirmou Barcellos, reiterando a permanência do técnico e dividindo com ele a responsabilidade pelos mais recentes tropeços do time em campo. 

Esperança que veio de longe

Wanderson (foto) está no Beira-Rio há duas semanas. Ele é o tipo de atacante cujo esquema de Cacique Medina precisa. Depois de uma carreira longe dos grandes centros na Europa, ele volta ao Brasil para jogar profissionalmente pela primeira vez. Como foi contratado quando as inscrições para o Gauchão estavam encerradas, ele estreia no Brasileirão.


| Foto: RICARDO DUARTE / INTER / CP

Recado para quem quiser sair

Após a vitória colorada no Gre-Nal da Arena, por 1 a 0, Taison (foto) deixou claro que há integrantes do grupo de jogadores que não estão imbuídos do espírito necessário para a reconstrução do futebol do clube. “Agora é hora de corrigir os erros. É hora de ver quem quer ficar de verdade no Inter. Quem não quer, tem que sair, porque o Inter é muito grande e quer brigar por coisas grandes”, afirmou o jogador, sem citar nomes. Em contatos com pessoas que transitam no vestiário colorado, foram citados os nomes de Cuesta e Dourado, dois dos jogadores mais antigos do grupo. Eles devem ser liberados para acertar com outros clubes. O Inter também estudará propostas por Heitor e para o chileno Carlos Palácios, desde que elas cheguem.


| Foto: FABIANO DO AMARAL 

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895