Leilões de genética supreendem mercado

Leilões de genética supreendem mercado

Comercialização de reprodutores evidencia desempenho acima da média no início da temporada de outono, apesar da redução de prazos para pagamento, consequência do aumento da taxa de juros da economia, a Selic

Por
Patricia Feiten

Tradicionalmente mais associado à comercialização de bovinos de reposição, o outono 2023 começou movimentando também o mercado de reprodutores. À frente da Cabanha da Corticera, de São Borja, e da Solução Genética, o selecionador de Angus Luis Felipe Cassol, que presta assessoria comercial a várias propriedades focadas em melhoramento genético, diz que os primeiros remates da temporada trouxeram uma surpresa positiva tanto da perspectiva de negócios quanto de valores. “Acho que todo mundo está entendendo a situação, tanto o vendedor quanto o comprador. Os leilões de genética tiveram 100% de liquidez, com preços que, inclusive, surpreenderam o vendedor”, afirma Cassol.

Uma mudança sinalizada pelos eventos realizados em março, segundo o pecuarista, é a redução dos prazos de pagamento estabelecidos nas transações com reprodutores, em consequência do aumento da taxa básica de juros da economia, a Selic. “O juro aumentou bastante. O vendedor enxugou o prazo e mesmo assim está tendo liquidez, o que nos dá a entender que o setor vai se adequando ao momento”, diz o pecuarista.

Para o resto da temporada, Cassol tem uma expectativa otimista, contrariando a tendência apontada pelo cenário de estiagem, de guerra na Ucrânia e de temor de recessão global. No ano passado, o pecuarista assessorou em torno de 30 remates. “Eu tinha uma previsão de que talvez fosse diminuir o número de eventos e o volume de gado. Iniciamos abril e já estou com muito mais eventos agendados, com muito mais gado do que no mesmo período do ano passado. Ou seja, o criador segue apostando”, destaca.
Na avaliação do pecuarista, a tecnologia colabora para esse bom momento do mercado. Com a pandemia de Covid-19, grande parte dos eventos, antes presenciais, migrou para o mundo virtual, eliminando a necessidade de transporte dos animais de uma cidade para outra e reduzindo custos para os produtores. “Os leilões presenciais atendiam um público bastante regional e, hoje, a gente consegue, com a internet e a televisão, acessar um público no Brasil inteiro. Então, tu abriste uma possibilidade gigante para o teu produto”, observa Cassol.

O criador Ignacio Tellechea, da Cabanha Rincon Del Sarandy, de Uruguaiana, é um dos que apostam na venda de reprodutores nesta estação do ano. Desde 2015, ele operava na temporada com leilões organizados em parceria com outras cabanhas gaúchas. Agora, o pecuarista se prepara para a primeira edição de seu leilão solo de outono. Batizado de Rincon Pack, o remate virtual ocorrerá nos dias 17 e 18 de abril e ofertará 80 vacas Angus e Brangus. Com o mote “Pra levar de lote”, a proposta é colocar em pista conjuntos de fêmeas oriundas do Rincon Mas+, programa no qual a cabanha recompra animais de seus clientes, investe em recria e inseminação com touros superiores e posteriormente os coloca no mercado como alternativa de ventres de produção.

O leilão ofertará ainda 30 touros de sobreano das raças Angus, Brangus e Ultrablack. “A ideia é que as pessoas venham buscar volume de animais, e quem quiser comprar o pack inteiro vai ter benefícios no frete, vamos entregar gratuitamente”, detalha Tellechea. Segundo o pecuarista, a antecipação da temporada de monta nos sistemas de integração lavoura-pecuária (ILP) provocou uma demanda precoce por touros. “Normalmente, a gente vendia touros de sobreano no outono para o cliente que queria comprar um animal, terminar e recriar na sua propriedade, para usar na primavera. A novidade para este ano é que esses animais vão prontos para o trabalho”, explica.

Com base nas ligações de potenciais compradores que vem recebendo desde o mês passado, Tellechea projeta bons resultados. “O pessoal ainda está receoso, ninguém sabe onde o preço vai se acomodar, então fica na dúvida se está fazendo um bom negócio ou não. Mas o fato é que está havendo muita consulta”, diz. Os pedidos de informações incluem não apenas produtores gaúchos, mas também catarinenses e paranaenses, menos afetados pela crise hídrica. A maior parte da demanda deve se concentrar em Santa Catarina, que, desde 2022, adquire mais animais do Rio Grande do Sul, reconhecido como zona livre de febre aftosa sem vacinação desde 2021.

Embora os gaúchos tenham conquistado o mesmo status sanitário que os criadores do estado vizinho, Tellechea lembra que o ingresso de bovinos ainda enfrenta restrições – só podem ser enviados, por exemplo, animais nascidos a partir de maio de 2020. “Então, tomamos um cuidado bastante grande nesse remate, vai ter só animais jovens. A gente espera que tenha um volume interessante de lances”, afirma.

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895