Maior oferta derruba preços das hortaliças

Maior oferta derruba preços das hortaliças

Considerados vilões da inflação de alimentos desde o início do ano, a batata, a cenoura, a cebola e o tomate tiveram queda de preço em junho, tendência que deve se manter para agosto com o avanço da safra

Por
Patrícia Feiten

O Alface, abobrinha, batata-inglesa, brócolis, cebola, cenoura, couve, couve-flor, pepino, pimentão, repolho e – ufa! – tomate. Esses produtos da horta estão entre os itens que mais pressionaram o aumento de preços neste ano no segmento de alimentos e bebidas, apontado como um dos vilões da inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). A disparada é explicada por diferentes fatores, como a alta dos combustíveis, a ocorrência de chuvas e estiagens pelo país e a entressafra de inverno. Se, por um lado, o custo de verduras e legumes ainda pesa no bolso de grande parte dos brasileiros, levantamentos mostram que os valores das hortaliças vêm caindo e pode recuar ainda mais, tanto no atacado quanto na ponta do consumo.

De acordo com o último Boletim do Programa Brasileiro de Modernização do Mercado Hortigranjeiro (Prohort), divulgado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) em 19 de julho, os preços das hortaliças mais consumidas nas principais Centrais de Abastecimento (Ceasas) do país devem se manter em queda. A pesquisa destaca a redução dos valores aplicados a batata, cebola, cenoura e tomate no atacado em junho. No caso da batata, o engenheiro agrônomo Adrik Richter, do Departamento de Política Agrícola da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado (Fetag-RS), explica que a colheita em alguns estados derrubou os preços. “Tivemos um incremento de 140% na produção do Centro-Oeste. É muita oferta, e a tendência para agosto é seguir nessa linha de queda”, avalia.

Com relação à cebola, o boletim da Conab informa que a entrada de produto importado no país ajudou a desinflar os preços. A oferta de tomate também vem aumentando nas regiões produtoras. No Rio Grande do Sul, onde a colheita da cebola deve começar dentro de um mês e o plantio do tomate está previsto para os próximos meses, a expectativa é de valores em baixa, segundo o coordenador da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (Fetraf-RS), Douglas Cenci. Ele lembra que as hortaliças são culturas de ciclo curto e o produtor dimensiona o cultivo conforme o comportamento da demanda. “O agricultor está muito preocupado com a condição econômica do consumidor. Se o preço cair muito, ele reduz a área plantada”, observa Cenci.

Produtores agroecológicos também estão atentos ao mercado. O agricultor Regis Ferreira Bruhn, da Associação dos Produtores da Rede Agroecológica Metropolitana (Rama), explica que o calor atípico registrado no Rio Grande do Sul entre os dias 23 e 28 acelerou o ciclo de desenvolvimento de algumas plantas, o que poderá elevar a oferta de itens como a alface, diminuindo os preços. Apesar da queda de renda da população em geral, Bruhn afirma que os preços dos orgânicos em supermercados e feiras vêm se mostrando estáveis. “Fiz meu último reajuste há um ano, um ano e meio e venho mantendo (os valores), porque os custos de produção aumentaram muito”, diz.

Em julho, os preços do grupo de alimentos e bebidas subiram 1,16%, com base no IPCA-15, considerado a prévia da inflação oficial. Se considerado apenas o subgrupo tubérculos, raízes e legumes, os preços caíram 14,19%. Já o subgrupo hortaliças e verduras mostrou declínio de 2,23%. Nos supermercados, as vendas de hortaliças indicaram estagnação tanto em termos de volume quanto de receita nos últimos dois meses, diz o presidente da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), Antônio Cesa Longo. “As baixas temperaturas fizeram com que o consumidor aumentasse a procura por legumes e itens para sopas, mas é um movimento natural que acompanha a variação climática”, afirma.

Em baixa

Produtos que tiveram as maiores quedas no IPCA-15 em julho:

  • Tomate: 19,42%
  • Cenoura: 19,24%
  • Abobrinha: 16,14%
  • Pimentão: 13,01%
  • Batata-inglesa: 12,20%
  • Couve-flor: 10,52%
  • Cebola: 10,08%
  • Repolho: 8,55%
  • Brócolis: 5,92%
  • Couve: 5,39%
Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895