Mudança leva produtor a criar viveiro de mudas

Mudança leva produtor a criar viveiro de mudas

Viveiro Esmeralda, que produz atualmente uma média de 80 mil mudas por ano, comercializadas a R$ 2 a unidade, é a principal fonte de renda da família de Erico Fonseca

Por
Patrícia Feiten

A construção da Usina Hidrelétrica de Barra Grande, no rio Pelotas, entre os municípios de Anita Garibaldi e Pinhal da Serra, significou uma grande reviravolta para o produtor Erico Francisco da Fonseca. O reservatório do empreendimento, que começou a ser erguido em 2001, abrange terras de nove municípios, entre os quais o de Esmeralda, onde, após trabalhar em áreas arrendadas, o agricultor havia comprado 30 hectares na esperança de colher boas safras de grãos e se recuperar financeiramente. Em razão do projeto, famílias tiveram de ser removidas de suas terras e foram indenizadas pelo consórcio Baesa, responsável pela obra. Fonseca foi transferido para uma área de 18 hectares no Reassentamento São Francisco de Assis.

Apesar da mudança não planejada, o agricultor deu a volta por cima. “Ali eu comecei a sobreviver com a minha família, meus filhos começaram a crescer”, conta. Na propriedade atual, ele produz mudas da erva-mate cambona 4, variedade de sabor suave e altamente produtiva nativa de Machadinho e resultante de um processo de melhoramento genético espontâneo desenvolvido há quatro décadas por seu pai, Theodoro Mendes da Fonseca. O ervateiro elaborava erva-mate artesanalmente usando o barbaquá, forno onde as folhas eram colocadas para secar, e identificou em seu herval uma planta diferenciada. “Quando a gente ia cortar para fazer o chimarrão, tirávamos as sementes das mais bonitas, as que mais se desenvolviam. Em 20 anos, fizemos uma seleção, sem saber nada de ciência”, explica Fonseca.

Hoje recomendada para a introdução em sistemas agroflorestais, a planta atraiu a atenção de pesquisadores da Embrapa Florestas e da Emater, que em 2000 começaram a estudar sua origem na propriedade do pai de Fonseca. Nesse trabalho, identificaram as matrizes – masculina e feminina – que resultavam na erva-mate de qualidade superior e serviram de base para a reprodução das mudas da nova linhagem, a Cambona 4. “A Embrapa descobriu essa erva-mate nesse período em que nós estávamos na transição, de entregar a terra e vir para o terreno novo que ganhamos. Começaram a fazer mudas, conseguimos nos manter no campo”, conta Fonseca.

O Viveiro Esmeralda, que produz hoje em torno de 80 mil mudas por ano, comercializadas a R$ 2 a unidade, tornou-se a principal fonte de renda do agricultor. Ele planta também soja, feijão, mandioca e outros cultivos de subsistência. Neste ano, participou pela primeira vez como expositor do Pavilhão da Agricultura Familiar. Mais do que o retorno financeiro, diz que o evento lhe proporcionou a troca de experiências com estudantes e outros expositores. “É muito legal poder levar o conhecimento de onde vem a erva-mate para crianças de colégios aqui”, avalia.

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895