Para combater o fogo que destrói a memória

Para combater o fogo que destrói a memória

Ao completar cinco anos do incêndio no Museu Nacional, no Rio de Janeiro, e dez anos do sinistro no Mercado Público da Capital, o Correio do Povo foi conferir os cuidados em espaços culturais de Porto Alegre contra esses acidentes

Por
Christian Bueller

Era um domingo, 2 de setembro, um dia cheio de visitações, como tradicionalmente ocorria no Museu Nacional, localizado na Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro. O local, um dos símbolos icônicos da cultura brasileira, comemorava os cem anos de criação pelo rei Dom João VI, mas 2018 ficou marcado por uma tragédia que trouxe perdas, até hoje, em etapa de contabilização. Eram mais de 19h30, trabalhadores e visitantes já haviam saído quando um incêndio de grandes proporções tomou conta do lugar. Durante o sinistro, alguns funcionários, professores e técnicos entraram no prédio para tentar salvar o maior número possível de itens. Apesar de alguns resgates, 90% dos cerca de 20 milhões de peças de valor considerado inestimável, que integravam o maior acervo da história natural da América Latina, foram perdidas nas chamas.

O abrasamento, deflagrado por um problema elétrico, destruiu o Palácio de São Cristóvão, onde viveu a família imperial, um espaço que mantinha grande quantidade de madeira no piso e de material inflamável no interior da edificação. A instituição científica mais antiga do país continha estudos nas áreas de paleontologia, antropologia, geologia, zoologia, arqueologia e etnologia biológica. Fósseis, múmias, livros e artefatos foram consumidos pelo fogo e desapareceram, levando parte da própria história do Brasil e de outras nações.

Segundo a Polícia Federal, o incêndio não foi criminoso e se iniciou a partir de um curto-circuito causado pelo superaquecimento em um aparelho de ar condicionado. Acredita-se que o fato ocorreu por falta de manutenção adequada e de investimentos. Cinco anos depois, a reinauguração da instituição, que pertence à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), já tem data para sua conclusão: o ano de 2026. O orçamento total para a reconstrução é de R$ 433,3 milhões, dos quais 61% já foram captados. 

Porto Alegre também passou por uma situação parecida, há dez anos, que igualmente assustou e, ao mesmo tempo, emocionou a população, por conta da representatividade do lugar. O segundo piso do Mercado Público incendiou na noite de 6 de julho de 2013, após um curto-circuito nas instalações elétricas do Restaurante Atlântico, localizado no quadrante norte do pavimento. Assim como no episódio do Museu Nacional, o infortúnio no prédio localizado no Centro Histórico da Capital não acarretou em vítimas fatais. A perícia identificou que apenas 10% da estrutura do Mercado foram comprometidos pelas chamas. Mas o quarto incêndio no cartão-postal porto-alegrense – atingido anteriormente em 1912, 1972 e 1979 – trouxe danos para muitos permissionários e obrigou o fechamento do segundo andar, reaberto ao público somente em 2022.

Presidente da Associação do Comércio do Mercado Público Central (Ascomepc), Adriana Kauer, lembra aquela noite. “O incêndio me impactou profundamente porque, mais do que o lugar onde temos um negócio, é onde passamos uma vida inteira, se confunde com nossa existência”, compara ela, que está há anos à frente do Comercial Martini, no primeiro piso. Assim que soube das labaredas, a comerciante diz que “foi correndo” para o Mercado, com a esperança de que fossem apagadas com brevidade, algo que não ocorreu. “Foram muitos os problemas, houve mangueiras furadas, o hidrante mais próximo estava trancado. Sorte que as vidas foram preservadas. Cada loja externa vira uma rota de saída, além dos quatro portões principais, que precisam estar sempre desimpedidos”, conta Adriana. Todos os estabelecimentos fecharam por 58 dias após o sinistro e o Martini precisou, ainda, de mais dois meses até voltar a funcionar. “Pegou fogo em cima da minha loja, então ficou aberto, era chuva direto. Houve a preocupação da prefeitura em fazer as análises sobre a estrutura. Foi uma época triste, uma sensação de incapacidade nas mãos”, revela.

De lá para cá, Adriana afirma que a perspectiva de quem trabalha no Mercado Público mudou quanto à segurança no local contra incêndios e outros fenômenos. “Naquele mesmo ano, ocorreu a tragédia da Boate Kiss, em Santa Maria, e, por óbvio, as leis ‘endureceram’, de modo que era difícil para qualquer estabelecimento obter o seu PPCI (plano de prevenção e proteção de combate a incêndio)”, recorda. A presidente da Ascomepc enxergou um meio termo entre o desleixo anterior de muitos empreendedores e o rigor completo estabelecido pela legislação. “Dialogamos com o Corpo de Bombeiros. Na época se exigia uma cisterna de 80 mil litros dentro do Mercado, algo inviável escavar aqui, assim como instalações de escadas para rota de fuga no centro do prédio, que não teria como fazer. Buscamos bom senso”, relata Adriana. 

Cuidados no Mercado Público


Presidente da Ascomepc, Adriana Kauer, mostra o detector de fumaça que alcança, inclusive, aquela emanada por cigarros | Foto: Ricardo Giusti

Uma empresa foi contratada pela Ascomepc para realizar a análise do PPCI, não só para estabelecer um plano, mas que garantisse soluções eficazes na prática, segundo relata a presidente da associação. “Se acontecer um sinistro, é preciso que a resposta funcione. No caso do incêndio de 2013, o hidrante não funcionou”, relembra Adriana. Foram adquiridos, então, extintores maiores de água comprimida, para que qualquer brigadista do Mercado tivesse mais facilidade em usar. “Também colocamos placas de sinalização, que antes não tinha, mostrando as rotas de fuga nas quatro portas principais. Além das pessoas que vão e vem, temos que pensar naqueles que têm dificuldades motoras ou visuais, por exemplo.” 

Outra medida tomada pela associação foi a instalada da rede seca de hidrantes. “Já que é impossível colocar uma cisterna e ter um especialista para operar, os bombeiros podem engatar o sistema deles neste equipamento e utilizar água para apagar aquilo que os nossos extintores, porventura, não conseguirem”, relata Adriana. Ela informa que, atualmente, há mercadeiros brigadistas em períodos diurno e bombeiro civil durante a noite, à disposição. “Conseguirmos dormir tranquilos com a presença dele. Já houve chamados noturnos e este profissional simplesmente apagou qualquer foco inicial de fogo”, conta a presidente da Ascomepc.

O Mercado Público possui, ainda, um detector de fumaça que alcança, inclusive, o vapor emanado de cigarros, segundo Adriana. Durante a visita da reportagem ao local, o sistema sinalizou porque havia uma pessoa fumando naquele momento, comprovando que o dizia a comerciante. “Este equipamento fica espelhado em um painel. Se disparar o alarme, podemos identificar exatamente onde está o foco de fumaça, com o auxílio de uma comunicação via rádio, ou seja, independe de ter energia elétrica ou não. Funciona 24 horas por dia e sem fio.” Para Adriana, a escolha por um equipamento wireless tem dois benefícios. “Além de não precisarmos fazer furações no prédio, que é histórico, é um sistema mais prático”, conta. Corrimões, pintados com tinta anti-incêndio, foram instalados junto às rampas para potencializar o escape de pessoas com dificuldades de locomoção em caso de um sinistro. 

Instituições culturais estaduais recebem melhorias buscando segurança e qualificação dos espaços

A reportagem procurou a Secretaria de Cultura do RS (Sedac) para conferir como estão os planos de prevenção a incêndio e outros sinistros nas instituições culturais ligadas à pasta. Segundo o diretor do Departamento de Memória e Patrimônio, Eduardo Hahn, há um trabalho de qualificação física dos seus museus, acervos e teatros desde 2019. “De forma geral, todas as instituições estão enquadradas nisso, de acordo com suas necessidades básicas e urgências. Algumas casas estavam em péssimo estado de conservação, inclusive com riscos de incêndio”, observa. Hahn cita como exemplos o Museu Julio de Castilhos e o Museu de Comunicação Hipólito José da Costa, ambos em Porto Alegre, com conhecidos problemas na rede elétrica. O diretor apresentou um levantamento com diversas ações, algumas pontuais, mas outras mais globais, e os recursos investidos para minimizar eventuais riscos aos locais pertencentes à estrutura da Sedac. 

Casa de Cultura Mario Quintana


Foto: Guilherme Almeida

Antigo prédio do Hotel Majestic, construído na primeira metade do século passado, a Casa de Cultura Mario Quintana (CCMQ), no Centro Histórico da Capital, foi inaugurada em 1990, em homenagem ao renomado poeta gaúcho que morou ali. O espaço, voltado a atividades de cinema, música, artes visuais, dança, teatro, literatura, entre outras manifestações, está na parte de execução das primeiras duas fases do projeto de PPCI, sendo a última em processo de aprovação no Corpo de Bombeiros. As salas de cinema, elevadores e corrimões de escadas e mezaninos passaram por reforma, assim como a Discoteca Pública Natho Henn, no 4º andar. Além disso, banheiros foram renovados e pisos de parquê de madeira do andar administrativo, recuperados.

Localizado dentro da CCMQ, o Museu de Arte Contemporânea (MAC) está em processo final de licitação da reforma da nova sede, no bairro Navegantes, avaliada em R$ 3,8 milhões, com recursos do governo do Estado. 

Museu Júlio de Castilhos


Foto: Maria Eduarda Fortes

O Museu Julio de Castilhos, mais antigo do Estado, que ganhou, em 1907, o nome do ex-presidente do Rio Grande do Sul falecido quatro anos antes, fica na rua Duque de Caxias, no Centro de Porto Alegre. O local passou por diversas ações de restauração, pinturas murais do hall de entrada, renovação do sistema de entrada de energia, revisão da cobertura e do sistema de calhas e tubos de queda das duas edificações, pintura das fachadas e de salas internas, recuperação dos pisos e forros internos, além do jardim dos fundos, todas com recursos do governo do Estado. Obras ali presentes, como bustos de personalidades históricas e quadros, também passam por restauração. Segundo Eduardo Hahn, está em processo de licitação a obra de restauração completa das duas edificações históricas e da construção de nova edificação para a reserva técnica, avaliada em R$ 14,5 milhões, com investimento do Estado. 

Museu de Comunicação Hipólito José da Costa


Foto: Ricardo Giusti

Criado na década de 1970, o Museu de Comunicação Hipólito José da Costa reúne, na Rua dos Andradas, no Centro de Porto Alegre, o Acervo Fotográfico e Audiovisual do Palácio Piratini (APP), produzido por órgãos responsáveis pela assessoria de imprensa e comunicação do governo do Estado entre os anos de 1947 e 2006, além de um acervo de cerca de 3 mil exemplares de veículos de imprensa. O local passou por revisão da cobertura e saneamento das infiltrações, restauração pontual da fachada principal, recuperação da rede elétrica de todos os andares, pintura interna de alguns espaços, renovação da exposição permanente, reforma do mezanino da área de exposição, instalação de sistema de acessibilidade para portadores de necessidades especiais, recuperação dos pisos de parquê de madeira e início da instalação de novo sistema de cabeamento de Internet. Existe o aceno, por parte do governo federal, de liberação de recursos do PAC Cidades Históricas para a restauração completa da edificação. 

Biblioteca Pública do Estado


Foto: Ricardo Giusti

Situada na rua Riachuelo, também na zona central da Capital, a Biblioteca Pública do Estado passou por restaurações das fachadas externas, do mobiliário antigo, da laje da cobertura e da claraboia de vidro. O investimento foi de R$ 1.942.906,47, vindo de recursos do governo do Estado. Estão em andamento restauros de lustres internos e pinturas do hall de entrada. A Secretaria de Obras do Estado desenvolve o projeto de reforma do anexo da Biblioteca, a ser instalado no prédio da rua General Câmara, 352, no Centro Histórico. 

Margs


Foto: Ricardo Giusti

O projeto de PPCI da Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli (Margs) está na fase de aprovação pelo Corpo de Bombeiros. O seu acervo artístico reúne mais de 5.500 obras de arte, desde a primeira metade do século XIX até os dias atuais, abrangendo diferentes linguagens das artes visuais, como pintura, escultura, gravura, cerâmica, desenho, arte têxtil, fotografia, instalação, performance, arte digital e design, entre outras. Além disso, o local possui um acervo documental com mais de 8 mil publicações bibliográficas. A pintura parcial das fachadas foi realizada a partir de um investimento de R$ 202.573,69 com recursos do Estado. Também houve renovação dos pisos internos do térreo e execução da nova entrada de energia elétrica. Já a restauração da laje do terraço da cobertura e renovação do sistema de climatização tiveram recursos federais com acompanhamento do Estado. 

Instituto Estadual do Livro


Foto: Solange Brum / Sedac

Desde 1998 localizado na rua André Puente, em Porto Alegre, o Instituto Estadual do Livro (IEL) foi criado em 1954 com o objetivo de difundir a literatura produzida no Estado. A sede está na primeira fase da recuperação, que inclui revisão da cobertura e do sistema de calhas e tubos de queda, recuperações da estrutura do muro do jardim, das alvenarias, pisos de madeira e dos sanitários. Houve revisão do sistema de iluminação e substituição de luminárias, além de readequação do sistema de climatização. O investimento foi de R$ 475.912,19, com recursos estaduais. 

Memorial, Arquivo e Museu Antropológico


Foto: Ricardo Giusti

O Memorial do RS, o Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul e o Museu Antropológico do Rio Grande do Sul são situados no mesmo prédio, na rua Sete de Setembro, no centro da Capital. Todos passaram por ações de restauro. No Memorial, incluíram pintura, reboco, recuperação de pisos e instalações elétricas, com investimento do Estado de R$ 555.110,02. Também existe o aceno, por parte do governo federal, de liberação de recursos do PAC Cidades Históricas para a restauração completa da edificação. No Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul, houve restauração do documento da “Carta de Porongos” e de dois códices (manuscritos antigos) da imigração alemã. Investimento de R$ 38.600 do governo do Estado. Já a recuperação física da reserva técnica do Museu Antropológico do Rio Grande do Sul se constituiu em revisão elétrica, pintura, substituição de esquadrias de madeira – recursos do governo do Estado. 

Theatro São Pedro


Foto: Ricardo Giusti

Inaugurado em 1858, o Theatro São Pedro, na Praça Marechal Deodoro, Centro de Porto Alegre, passa por obras de finalização do complexo do Multipalco, do Teatro Oficina Olga Reverbel, da Sala da Dança, da Sala de Oficinas, camarins e Teatro Italiano. O valor das melhorias, em andamento, é de R$ 25 milhões, advindos do governo do Estado. 

Teatro de Arena


Foto: André Furtado / Sedac

O Teatro de Arena, nos Altos do Viaduto Otávio Rocha, na avenida Borges de Medeiros, também no Centro Histórico da Capital, está em fase de elaboração do projeto de acessibilidade. Já o Teatro do Ipê, no bairro Praia de Belas, fechado há duas décadas, está em processo de elaboração do projeto de reforma por parte da Secretaria de Obras do RS. 

PPCIs em andamento


Foto: Ricardo Giusti

Porto Alegre abriga alguns espaços culturais que foram erguidos há décadas. O Museu de Porto Alegre Joaquim Felizardo, por exemplo, criado em 1979, fica na rua João Alfredo e reúne um acervo de mais de 1.300 objetos dos séculos XIX e XX, como acessórios de uso pessoal, objetos de decoração, instrumentos musicais, mobiliário e indumentária. Além disso, cerca 200 mil itens relacionados a diferentes grupos que ocuparam o território desde o período pré-colonial e 9 mil imagens da cidade. 

Outro prédio histórico é o casarão do século XIX, restaurado em 1994, onde fica o Arquivo Histórico de Porto Alegre Moyses Vellinho, na avenida Bento Gonçalves, bairro Santo Antônio. O espaço organiza, guarda e conserva cerca de 1,5 milhão de documentos, disponíveis à consulta pública, por constituírem importante fonte para pesquisas sobre a cidade. 

O Centro Municipal de Cultura, Arte e Lazer Lupicínio Rodrigues, na avenida Erico Verissimo, é mais um espaço relevante pertencente ao município. Sua criação foi oficializada em 1978 pelo então prefeito Guilherme Vilella. Atualmente abriga o Atelier Livre, a Biblioteca Pública Municipal Josué Guimarães, a Sala Álvaro Moreyra, Teatro Renascença, as coordenações de Dança, Artes Cênicas e Literatura, além de um Saguão de Exposições. 

Sobre a segurança dos locais, a Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa (SMCEC) informou que “está realizando as adequações necessárias exigidas para obtenção do PPCI - Plano de Prevenção e Combate a Incêndio - dos espaços culturais do município de Porto Alegre”. Segundo o texto, o trabalho vem sendo feito por empresa terceirizada. A SMCEC afirma que os “pedidos já estão protocolados no Corpo de Bombeiros, o que garante o funcionamento das unidades. Todos espaços possuem equipamentos de combate a incêndio em número necessário para atender às necessidades de público nos ambientes, como extintores de incêndio e hidrantes”. 

Segundo a secretaria, os locais “se encontram em perfeita manutenção e revisões periódicas em dia. Além disto, estão em andamento duas licitações, já em fase de conclusão. Uma delas é para serviços de manutenção e infraestrutura dos espaços culturais, e a outra referente à capina e poda de árvores”. 

Tecnologia no Iberê


Foto: Maria Eduarda Fortes

A Fundação Iberê foi criada em 1995, com a missão de preservar, investigar e divulgar a obra do artista falecido um ano antes, aos 79 anos. O espaço sede da instituição, localizado na zona sul da Capital e inaugurado em 2008, também promove arte, cultura e educação por meio de programas transdisciplinares e do fomento à produção artística. 

Com arquitetura moderna, o Museu Iberê Camargo tem um sistema que utiliza argonite, um gás inerte que extingue o fogo pela remoção física do oxigênio do ambiente, para se proteger de incêndios. Segundo a assessoria da fundação, é um tipo de equipamento comum em locais similares pelo mundo, já que o uso de água danifica os acervos e obras expostas. O sistema abrange toda a área de acervos, tanto documental quanto reserva técnica, e algumas áreas expositivas. Apesar de não revelar o investimento empregado no gás, a assessoria da instituição acredita que os espaços culturais da cidade e do Estado poderiam adotar a técnica. 

A fundação afirma que o sistema opera em perfeitas condições, mas, no momento, está “em processo de atualização e aprovação no Corpo de Bombeiros de acordo com a nova legislação”. Além do argonite, é adotado sistema de hidrantes, extintores, sinalizações de emergência e rotas de fuga, alarmes e exaustão de fumaça para se precaver em caso de sinistro. 

Há casos recentes e frequentes de incêndios em espaços culturais pelo país

Coordenador de diversos trabalhos de pesquisa na área de segurança contra incêndio, o engenheiro civil com mestrado em Arquitetura e Urbanismo Antônio Fernando Berto lembra outros incêndios que atacaram recentemente espaços culturais e acervos no país. Entre eles, o ocorrido no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, em 2015, e no Museu de História Natural da Universidade Federal de Minas Gerais, em Belo Horizonte, em 2020. “Temos passado no Brasil por um conjunto muito importante de incêndios, gerando perdas irrecuperáveis de nossos patrimônios históricos, culturais e científicos”, lamentou. Segundo ele, essa sucessão de sinistros deve servir de alerta. “É necessário adotar ações urgentes com o intuito de minimizar o estado depauperado em que se encontra a segurança contra incêndio dessas edificações no Brasil”, frisou. 

Berto assinala que a segurança contra incêndio dos edifícios depende de dois tipos de ações: as de natureza preventiva e as de natureza protetora. “As primeiras estão voltadas à limitação do risco de o foco de incêndio surgir na edificação. As outras estão associadas à minimização dos danos que o incêndio, a partir de seu foco, é capaz de causar”. O especialista destaca que o Brasil conta com tecnologia suficiente para suplantar as necessidades. “Proteção das estruturas de madeira contra a ação do incêndio, proteção de superfícies e revestimentos de madeira de forma a limitar seu envolvimento em situações de início de incêndio; portas ou cortinas resistentes ao fogo que podem ser camufladas e que se fecham automaticamente em situação de incêndio, elementos construtivos envidraçados de compartimentação, sistemas de detecção e alarme de incêndio, cuja instalação representa interferências mínimas na ocupação da edificação e sistemas manuais ou automáticos de extinção de incêndio”, elenca. 

O engenheiro sugere uma intensificação de simulações de saídas de edificações em chamas. “Há processos de abandono simulados computacionalmente, com o emprego de modelos de movimentação de pessoas. Permitem identificar as deficiências da edificação que restringem a rapidez de abandono. Um conjunto de simulações pode ser executado, verificando-se o efeito das mudanças possíveis de redução da lotação admitida para a edificação, subsidiando a elaboração do Plano de Abandono e definindo critérios para a implantação dos sistemas de sinalização de emergência e de iluminação de emergência”, exemplifica Berto. 

Confira a entrevista com o professor do Programa de Pós-Graduação em Arqueologia do Museu Nacional /UFRJ Lucas Antônio da Silva, que é curador do acervo de Arqueologia do Museu Nacional e fala sobre o resgate do acervo após o incêndio que atingiu o Palácio São Cristóvão em 2018.

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895