Pequena agricultura e tradições inusitadas

Pequena agricultura e tradições inusitadas

Roteiro criado há 17 anos promove empreendimentos rurais locais, degustação de produtos como frutas, chás e cucas, além de resgatar histórias de imigração

Por
Nereida Vergara

O turismo rural é fonte de incremento de renda para propriedades da agricultura familiar em São Lourenço do Sul, na região Sul do Estado. Produtores de diversos cultivos se preparam para receber os visitantes de todo o Rio Grande do Sul, especialmente no verão, oferecendo degustações e demonstrando seus processos de trabalho. No ano passado, cerca de 3,5 mil pessoas visitaram o chamado Caminho Pomerano, roteiro criado na região em 2006, que além dos empreendimentos familiares contempla museus e histórias como a da tradição local de as noivas de origem pomerana casarem-se de preto até a década de 1940.

Neste verão, um dos empreendimentos em destaque para a visitação é o Sítio Terra da Pitaia, cultivo mantido pelo casal Volnei Kath e Fernanda Lanius, desde 2016, na localidade lourenciana de Monte Alegre. A família iniciou a produção com apenas 30 mudas, que se tornaram produtivas a partir de 2018. Hoje, são 300 pés da fruta nativa da América Central, que virou moda no Brasil e que tem grande valor agregado para quem produz. Na propriedade são plantadas oito variedades: branca comum, vermelha comum, Cebra, Orejona, Nicarágua Gigante, Golden, Baby e Vietnamese White. Na safra 2021/2022, a produção ultrapassou uma tonelada de frutas, comercializadas na região e para os visitantes do roteiro, na forma in natura e processadas como sucos, sorvetes e geleias.

Sítio iniciou a produção de pitaias em 2016, com apenas 30 pés, mas a boa rentabilidade estimulou a ampliação do cultivo, hoje com 300 pés e produtividade de uma tonelada da fruta na safra de 2022 | Foto: Rodrigo Seefeldt / Divulgação / CP.

Rodrigo Seefeldt, condutor local do Caminho Pomerano, explica que a iniciativa turística teve um “baque” durante a pandemia, mas vem se recuperando desde o ano passado. Em 2023, com a existência do site, o qual oferece um mapa para o interessado visitar o roteiro individualmente ou por meio de passeios organizados, as visitas tendem a aumentar ainda mais. “Em cada estabelecimento apontado no roteiro, o visitante paga R$ 10,00 para entrar, com direito a degustação do que é produzido”, comenta. Também no site, o interessado pode acessar os contatos para adquirir os passeios organizados em grupos, incluindo almoço, por valores que variam de R$ 120,00 a R$ 150,00.

Uma tradição pomerana se estabeleceu em São Lourenço do Sul de meados do século 19 até a década de 1940 e é contada por Seefeldt nos grupos organizados para visitas: as mulheres da comunidade, casavam-se de preto, para honrar seus antepassados femininos e protestar contra um costume datado da Idade Média. Na Alemanha medieval, uma lei, chamada Direito da Primeira Noite, dava ao senhor feudal a permissão de fazer sexo com as noivas antes da consumação do casamento dos vassalos. Desde a admiração pelo preto, cor muito usada pela realeza, até a firmação de um ato revolucionário de protesto, há muitas interpretações para o uso do preto como vestimenta de casamento, nenhuma considerada definitiva. 

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895