Praga fica sob controle natural

Praga fica sob controle natural

Embrapa Uva e Vinho formulou técnicas para reduzir em até 95% prejuízos causados por drosófila sem utilizar produtos químicos

Por
Carolina Pastl*

Nativa da Ásia, a Drosophila suzukii, também conhecida como drosófila-da-asa-manchada ou suzuki, é uma praga de alto potencial destrutivo e motivo de preocupação, sobretudo para fruticultores, na atualidade. O inseto, que não atacava frutas em desenvolvimento, como fazem os tefritídeos, que são mais conhecidos na fruticultura, passou a parasitá-las.

No Brasil, a espécie foi detectada como prejudicial em janeiro de 2014, em morangueiros no município de Vacaria. A drosófila-da-asa-manchada deposita ovos em frutas de casca fina, como pêssegos e uvas. Com isso, cria condições para que micro-organismos se desenvolvam no local e levem o fruto ao apodrecimento. Naquela primeira ocorrência, fruticultores perderam 60% da produção, segundo a Emater/RS-Ascar.

Apesar da descoberta já ter seis anos, o Brasil ainda não possui inseticidas registrados para combater a praga. Ainda em 2014, a Embrapa Uva e Vinho iniciou estudos para descobrir técnicas de manejo para controlar a mosca. De 2015 para cá, a instituição repassa as práticas descobertas por meio de pesquisas em dias de campo organizados pela Emater/RS-Ascar.

Além das pesquisas serem publicadas no site da Embrapa, os dias de campo, organizados pela Emater, também possuem um papel importante de divulgar novas técnicas. | Foto: Régis dos Santos

Uma delas é uma armadilha feita com garrafa pet, com furos de cerca de 3 cm, que reduzem até 95% de prejuízos na produção. Como isca, coloca-se uma mistura de fermento biológico, água e açúcar dentro do recipiente. Dessa forma, o inseto é atraído pela substância e gruda-se nela, não conseguindo sair. A orientação é colocar a armadilha em hortas e pomares dois meses antes de o vegetal amadurecer.

Armadilhas de Cantelli protegem morangos. | Foto: Viviane Zanella

“Os insetos não causam danos aparentes ao depositar ovos. Só se consegue ver que a fruta está estragada quando a larva está desenvolvida, a partir de três dias”, explica o pesquisador da Embrapa Uva e Vinho, de Bento Gonçalves, Régis dos Santos, que coordena ações relacionadas à drosófila na empresa pública.

Morango com larvas já desenvolvidas. | Foto: Régis dos Santos

O produtor de morangos orgânicos de Bento Gonçalves, Gilmar Cantelli, utiliza essa técnica desde 2019. Depois de nove anos na cultura, ele começou a perceber prejuízos provocados pelo inseto em 2018. Seus frutos pareciam estar sadios, mas, ao chegar na feira para a venda, apodreciam. Cantelli reduziu as perdas de 40% para 2% com o uso de uma armadilha a cada 30 dos 1.870 pés de morango que cultiva. “Optei por esta técnica para não usar produtos (químicos) na fruta”, justifica.

Frutas no supermercado parasitadas pela mosca. | Foto: Régis dos Santos

Há, ainda, outras opções de manejo, segundo a Embrapa Uva e Vinho. Em períodos úmidos e de clima ameno, por volta das 5h ou das 19h, quando há maior incidência do inseto, é fundamental intensificar a colheita para não deixar frutos no chão, já que as moscas atacam tanto frutas caídas, nas quais também podem se proliferar, como aquelas ainda no pé. Caso haja frutas podres, Santos recomenda que sejam colocadas em sacos plásticos, deixadas ao sol por duas horas e depois descartadas. Colocar as frutas boas em câmaras frias até entregá-las no supermercado também é uma alternativa.

Expor as frutas no sol, em um recipiente lacrado, é uma das técnicas para eliminar a praga. | Foto: Régis dos Santos

Os estudos para desenvolver formas de contenção desses insetos têm apoio da Fapergs e do Programa Farmer to Farmer. A meta é elaborar um produto à base de um fungo nos próximos anos e registrá-lo.

*Sob supervisão de Elder Ogliari

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895