Salton congrega comunidade para alinhar metas

Salton congrega comunidade para alinhar metas

Em evento no último dia 30, vinícola que em 2023 completa 113 anos de existência reuniu fornecedores de uvas, direção, palestrantes técnicos e empresas de tecnologia voltadas ao segmento para capacitar produtores e projetar desempenho

Por
Nereida Vergara

A confiança e a lealdade em um “fio de bigode” são o que norteiam a relação da Vinícola Salton com os seus cerca de 300 fornecedores de uva na região da Serra do Rio Grande do Sul. Na última terça-feira, dia 30, durante o dia de campo Ciclos e Vinhas, em Bento Gonçalves, o responsável técnico pela viticultura da Salton, Maurício Copati, ressaltou que a maior parte dos fornecedores é de agricultores familiares que há gerações vivem do cultivo da videira e com os quais há um compromisso de entrega sem a necessidade de contrato ou de sistema de integração, como ocorre em outros setores agroindustriais

Copati garante que os viticultores têm no departamento de agronomia da Salton e na Embrapa Uva e Vinho, também com sede em Bento Gonçalves, todo o apoio que necessitam para produzir em quantidade e com qualidade. “O evento de hoje é muito gratificante para partilhar com o produtor o que há em tecnologia e para ele saber do nosso interesse em caminhar junto com ele”, afirmou.

Quem confirma este compromisso onde a palavra vale mais do que qualquer papel assinado, é o agricultor Tiago Razador, de 42 anos, morador de Santa Teresa, município que faz limite com Bento Gonçalves e Monte Belo do Sul. Razador cultiva variedades de uvas viníferas como chardonnay e reasling, junto com as recomendadas ao fabrico de sucos e outras bebidas, como é o caso da uva isabel. 

Na propriedade de oito hectares, colhe cerca de 220 toneladas da fruta por ano. O agricultor garante que não contrata mão de obra para a colheita, feita por ele e a esposa, e supervisionada pelo pai, Valter Razador, de 81 anos. Tiago relata que sempre que tem dúvidas a respeito de plantio ou eventuais doenças que atinjam a uva, recebe da Salton todas as informações necessárias. Segundo ele, nos últimos três anos, a situação do produtor se complicou, causando perdas significativas aos vinhedos da família. “Mas a segurança de ter quem compra nossa uva faz com que a gente siga no negócio, que é o que sabemos fazer”, comenta. O viticultor tem um dos filhos estudando enologia do Instituto Federal de Bento Gonçalves e diz que, mesmo que não pretenda abrir uma vinícola, os 200 litros de bebida que o herdeiro elaborou prometem “dar bom”.

Entre as empresas que compareceram ao dia de campo da Salton, o destaque em tecnologia ficou por conta da colheitadeira de uvas, equipamento desenvolvido pela Tecnofrutt. O representante comercial Mayke Biscaia esclarece que a máquina, pelo sistema de agitação, colhe as uvas e separa folhas e bagas para entregar à indústria, numa velocidade de 2 mil quilos por hora. O custo pode ser alto, de R$ 190 mil, mas que, segundo Biscaia, se paga em menos de cinco anos com aquilo que o produtor economiza na contratação de safristas.

Foto: Maria Eduarda Fortes / CP.

Satisfeito com a integração da estrutura da vinícola na Serra com os produtores, o diretor presidente da Salton, Maurício Salton, estima que, em 2023, a empresa deve produzir em torno de 40 milhões de litros de bebidas (vinhos de mesa, vinhos finos, espumantes e sucos). “Estamos apostando em poucos lançamentos, mas todos com o nosso diferencial de qualidade, versatilidade e valor agregado”, comenta. O empresário conta que a uva produzida na região e nos 650 hectares que a Salton mantém em uma fazenda no município de Sant’Ana do Livramento, tem sua qualidade rigorosamente controlada, no que diz respeito inclusive à sanidade ambiental. Os vinhedos da Salton, afirma, começam a adotar o uso de drones de pulverização, para utilizar cada vez menos herbicidas e fungicidas, aliando ainda o aumento do uso de biodefensivos nos parreirais.

Do ponto de vista da comercialização, Maurício Salton reconhece que o ano é atípico – um pouco em parte pelos problemas registrados no início do ano com a contratação de trabalhadores, assunto que a vinícola trata com transparência e considera superado e com medidas encaminhadas para que não se repita –, principalmente pelo momento econômico do Brasil. A marca está presente em mais de 30 países do mundo, tendo exportado até 1,5 milhão de garrafas. Mesmo com sua base no Rio Grande do Sul, Maurício reforça que a marca Salton tem representantes em 19 estados do Brasil.

Em sua sede no distrito de Tuity, em Bento Gonçalves, todo o processo de fabricação de vinhos e espumantes pode ser acompanhado pelos visitantes, dos barris de envelhecimento (acima) às etapas de envase, rotulagem e encaixotamento (ao lado e acima). Satisfeito em fazer parte da cadeia de produção da uva, o viticultor Tiago Razador, (ao lado e abaixo), entrega sua produção de 200 toneladas anuais de frutas à Salton, para a fabricação de vinhos finos e sucos. | Foto: Maria Eduarda Fortes / CP.

Cave e paradouro contam história da vinícola

Estações de visitação lançadas no ano passado e no início deste ano pela Salton proporcionam uma viagem pela trajetória da viticultura e da própria imigração

Há um ano, a casa da Vinícola Salton, no distrito de Tuiuty, em Bento Gonçalves, inaugurou uma cave de espumantes que permite ao turista conhecer todo o processo de fabricação da bebida que é símbolo das mais diversas celebrações. Considerada em 2022 a marca número 1 em espumantes do Brasil pela Wine Intelligence, a empresa investiu em um espaço para contar sua evolução histórica na fabricação da bebida. Os tours no local se dividem em duas categorias: intenso e gerações.

O Tour Intenso, de duração média de 1h40min, permite ao visitante acesso guiado aos vinhedos, jardins centrais e fachada com relógio solar, além de laboratórios de análise e áreas produtivas por meio de passarelas aéreas; ala histórica com acervo centenário, Cave dos Espumantes, Cave das Bordalesas (barricas de carvalho) e galeria dos 100 anos. Já o Tour Gerações, com duração aproximada de 2h30min, além dos espaços visitados no Tour Intenso, dá direito a uma experiência enogastronômica na adega secreta da vinícola, em caves subterrâneas, e com degustações harmonizadas com rótulos da marca que possuem edição limitada.

Em janeiro deste ano, a vinícola ampliou ainda mais as possibilidades enoturísticas, com a abertura da Casa Di Pasto. Na história da imigração italiana, a “casa di pasto” era o local onde os viajantes paravam para se alimentar e descansar antes de seguir o caminho. A novidade turística tem como inspiração as construções de Cison di Valmarino, cidade italiana da província de Treviso, com a proposta de ser um lugar aconchegante, de entretenimento e degustação dos vinhos e espumantes cuidadosamente selecionados, afirma a diretora executiva da vinícola, Luciana Salton.

No menu de delícias oferecidas pelo estabelecimento, o turista poderá apreciar uma série de pratos e petiscos harmonizáveis com os fermentados de uva, entre os quais as tradicionais bruschetas, os sanduíches medialunas, as pizzas especiais, as tábuas de frios e a burrata (queijo cremoso que pode ser feito de vaca ou de búfala), além de opções de sobremesas.

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895