A confiança e a lealdade em um “fio de bigode” são o que norteiam a relação da Vinícola Salton com os seus cerca de 300 fornecedores de uva na região da Serra do Rio Grande do Sul. Na última terça-feira, dia 30, durante o dia de campo Ciclos e Vinhas, em Bento Gonçalves, o responsável técnico pela viticultura da Salton, Maurício Copati, ressaltou que a maior parte dos fornecedores é de agricultores familiares que há gerações vivem do cultivo da videira e com os quais há um compromisso de entrega sem a necessidade de contrato ou de sistema de integração, como ocorre em outros setores agroindustriais.
Copati garante que os viticultores têm no departamento de agronomia da Salton e na Embrapa Uva e Vinho, também com sede em Bento Gonçalves, todo o apoio que necessitam para produzir em quantidade e com qualidade. “O evento de hoje é muito gratificante para partilhar com o produtor o que há em tecnologia e para ele saber do nosso interesse em caminhar junto com ele”, afirmou.
Quem confirma este compromisso onde a palavra vale mais do que qualquer papel assinado, é o agricultor Tiago Razador, de 42 anos, morador de Santa Teresa, município que faz limite com Bento Gonçalves e Monte Belo do Sul. Razador cultiva variedades de uvas viníferas como chardonnay e reasling, junto com as recomendadas ao fabrico de sucos e outras bebidas, como é o caso da uva isabel.
Na propriedade de oito hectares, colhe cerca de 220 toneladas da fruta por ano. O agricultor garante que não contrata mão de obra para a colheita, feita por ele e a esposa, e supervisionada pelo pai, Valter Razador, de 81 anos. Tiago relata que sempre que tem dúvidas a respeito de plantio ou eventuais doenças que atinjam a uva, recebe da Salton todas as informações necessárias. Segundo ele, nos últimos três anos, a situação do produtor se complicou, causando perdas significativas aos vinhedos da família. “Mas a segurança de ter quem compra nossa uva faz com que a gente siga no negócio, que é o que sabemos fazer”, comenta. O viticultor tem um dos filhos estudando enologia do Instituto Federal de Bento Gonçalves e diz que, mesmo que não pretenda abrir uma vinícola, os 200 litros de bebida que o herdeiro elaborou prometem “dar bom”.
Entre as empresas que compareceram ao dia de campo da Salton, o destaque em tecnologia ficou por conta da colheitadeira de uvas, equipamento desenvolvido pela Tecnofrutt. O representante comercial Mayke Biscaia esclarece que a máquina, pelo sistema de agitação, colhe as uvas e separa folhas e bagas para entregar à indústria, numa velocidade de 2 mil quilos por hora. O custo pode ser alto, de R$ 190 mil, mas que, segundo Biscaia, se paga em menos de cinco anos com aquilo que o produtor economiza na contratação de safristas.
Foto: Maria Eduarda Fortes / CP.
Satisfeito com a integração da estrutura da vinícola na Serra com os produtores, o diretor presidente da Salton, Maurício Salton, estima que, em 2023, a empresa deve produzir em torno de 40 milhões de litros de bebidas (vinhos de mesa, vinhos finos, espumantes e sucos). “Estamos apostando em poucos lançamentos, mas todos com o nosso diferencial de qualidade, versatilidade e valor agregado”, comenta. O empresário conta que a uva produzida na região e nos 650 hectares que a Salton mantém em uma fazenda no município de Sant’Ana do Livramento, tem sua qualidade rigorosamente controlada, no que diz respeito inclusive à sanidade ambiental. Os vinhedos da Salton, afirma, começam a adotar o uso de drones de pulverização, para utilizar cada vez menos herbicidas e fungicidas, aliando ainda o aumento do uso de biodefensivos nos parreirais.
Do ponto de vista da comercialização, Maurício Salton reconhece que o ano é atípico – um pouco em parte pelos problemas registrados no início do ano com a contratação de trabalhadores, assunto que a vinícola trata com transparência e considera superado e com medidas encaminhadas para que não se repita –, principalmente pelo momento econômico do Brasil. A marca está presente em mais de 30 países do mundo, tendo exportado até 1,5 milhão de garrafas. Mesmo com sua base no Rio Grande do Sul, Maurício reforça que a marca Salton tem representantes em 19 estados do Brasil.
Maria Eduarda Fortes / CP.
Em sua sede no distrito de Tuity, em Bento Gonçalves, todo o processo de fabricação de vinhos e espumantes pode ser acompanhado pelos visitantes, dos barris de envelhecimento (acima) às etapas de envase, rotulagem e encaixotamento (ao lado e acima). Satisfeito em fazer parte da cadeia de produção da uva, o viticultor Tiago Razador, (ao lado e abaixo), entrega sua produção de 200 toneladas anuais de frutas à Salton, para a fabricação de vinhos finos e sucos. | Foto:Cave e paradouro contam história da vinícola
Estações de visitação lançadas no ano passado e no início deste ano pela Salton proporcionam uma viagem pela trajetória da viticultura e da própria imigração
Há um ano, a casa da Vinícola Salton, no distrito de Tuiuty, em Bento Gonçalves, inaugurou uma cave de espumantes que permite ao turista conhecer todo o processo de fabricação da bebida que é símbolo das mais diversas celebrações. Considerada em 2022 a marca número 1 em espumantes do Brasil pela Wine Intelligence, a empresa investiu em um espaço para contar sua evolução histórica na fabricação da bebida. Os tours no local se dividem em duas categorias: intenso e gerações.
O Tour Intenso, de duração média de 1h40min, permite ao visitante acesso guiado aos vinhedos, jardins centrais e fachada com relógio solar, além de laboratórios de análise e áreas produtivas por meio de passarelas aéreas; ala histórica com acervo centenário, Cave dos Espumantes, Cave das Bordalesas (barricas de carvalho) e galeria dos 100 anos. Já o Tour Gerações, com duração aproximada de 2h30min, além dos espaços visitados no Tour Intenso, dá direito a uma experiência enogastronômica na adega secreta da vinícola, em caves subterrâneas, e com degustações harmonizadas com rótulos da marca que possuem edição limitada.
Em janeiro deste ano, a vinícola ampliou ainda mais as possibilidades enoturísticas, com a abertura da Casa Di Pasto. Na história da imigração italiana, a “casa di pasto” era o local onde os viajantes paravam para se alimentar e descansar antes de seguir o caminho. A novidade turística tem como inspiração as construções de Cison di Valmarino, cidade italiana da província de Treviso, com a proposta de ser um lugar aconchegante, de entretenimento e degustação dos vinhos e espumantes cuidadosamente selecionados, afirma a diretora executiva da vinícola, Luciana Salton.
No menu de delícias oferecidas pelo estabelecimento, o turista poderá apreciar uma série de pratos e petiscos harmonizáveis com os fermentados de uva, entre os quais as tradicionais bruschetas, os sanduíches medialunas, as pizzas especiais, as tábuas de frios e a burrata (queijo cremoso que pode ser feito de vaca ou de búfala), além de opções de sobremesas.