Setor ervateiro retoma o crescimento

Setor ervateiro retoma o crescimento

Com a colheita mais intensa a partir deste mês abril, o Rio Grande do Sul deverá produzir, em 2023, cerca de 320 mil toneladas de folhas de erva-mate, 40 mil toneladas a mais do que na safra passada

Por
Camila Pessôa

Apesar dos efeitos da estiagem, a produção gaúcha de erva-mate será maior, em 2023, nos 36 mil hectares cultivados com a planta em 205 municípios do Rio Grande do Sul. Serão 320 mil toneladas de folha verde, contra 280 toneladas colhidas no ano passado, quando o estresse hídrico e o prejuízo foram maiores. De acordo com o coordenador do Programa Gaúcho para a Qualidade e a Valorização da Erva-Mate e extensionista da Emater/RS-Ascar, Ilvandro Barreto, há, no Estado, 14 mil produtores de erva-mate que colhem ao longo de todo ano. 

“A colheita de erva-mate neste ano está, de um modo geral, dentro da normalidade. A estiagem afetou principalmente as áreas de plantio do Polo Planalto Missões, que se localiza na região Noroeste, não afetando significativamente o todo”, destaca o assessor técnico da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva da Erva-Mate da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi), Tiago Antonio Fick. Ele explica que a colheita ocorre mais intensamente nos meses de inverno, quando as folhas e ramos já estão maturados. Após colhida, uma mesma área plantada leva de um ano e meio a dois anos até passar por uma colheita novamente.

Ilvandro Barreto esclarece que o Estado produz em média 112 mil toneladas de erva-mate seca por ano, processada e beneficiada. O consumo dos gaúchos varia entre 100 mil e 110 mil toneladas anuais, havendo um volume exportado entre 37 mil e 40 mil toneladas. “Ou seja, nós não somos autossuficientes na produção de erva-mate para atender ao nosso consumo interno e atender o nosso mercado de exportação, então precisamos importar erva-mate de Santa Catarina e do Paraná para completar a quantidade consumida no Estado”, explica, ressaltando que a importação gira em torno de 50 mil toneladas de erva-mate por ano.

Com uma oferta afetada pela estiagem em 2022 e consequente aumento de preços do produto no varejo (nos supermercados o quilo da erva-mate varia de R$ 13,00 a R$ 17,00), no último ano houve uma queda no consumo de aproximadamente 10%. Mesmo assim, Barreto afirma que os níveis de consumo ainda estão dentro dos registrados no período da pandemia, quando a comercialização de erva-mate aumentou 30% no Rio Grande do Sul. Segundo ele, também há influência nas vendas do setor conforme as estações do ano. “Geralmente no inverno o consumo é bem maior, no verão ele cai aí em 20%, 30%”, diz. Essa diferença, entretanto, salienta o coordenador, vem diminuindo porque o consumo do tererê (o mate gelado) tem aumentado em toda a Região Sul, o que mantém a demanda elevada mesmo no verão. 

Foto: Edelberto Gebauer / Embrapa / Diculgação.

Neste mês, o Estado volta a acelerar a colheita, menos intensa no período de janeiro a março, já que nos meses de verão há sementes que proporcionam um sabor mais amargo à planta. O presidente da Associação dos Produtores de Erva-Mate do Alto Uruguai (Aspemate), Valdir Zonin, relata que em maio e junho o corte da folha volta a desacelerar, em razão das possíveis geadas e da brotação dos pés. Outubro é outro mês de menor colheita, devido às brotações novas de primavera, com pouco rendimento industrial. “No entanto, para quem quer ou precisa colher nestes períodos, recomendamos a permanência de 15% de folhas nas plantas colhidas, as quais ajudam a suportar essas adversidades”, pondera.

Mesmo com uma produção que ocorre durante todo o ano, há uma festa tradicional de abertura da colheita da erva, que este ano vai acontecer em 25 de maio, no município de Novo Barreiro, na região das Missões, uma das cinco grandes produtoras do Estado (Alto Taquari, Alto Uruguai, Baixo Taquari, Planalto-Noroeste-Missões e Nordeste). O Rio Grande do Sul aguarda, também, outra festividade relacionada à bebiba, o Dia Estadual do Chimarrão, comemorado no próximo 24 de abril. 

Em seus sete hectares de produção, em Machadinho, Altair Ruffato está terminando a colheita do ano e observou uma queda de produção de entre 15% e 20% em relação a 2022. Sua produção, em sistema agroflorestal, é toda direcionada para o chimarrão. Segundo ele, a comercialização tem sido boa. Ele espera colher entre de 63 mil e 70 mil quilos de folha verde por hectare, principalmente entre setembro e dezembro. “Entre março e abril o pessoal dá uma segurada, porque tem muito medo de uma geada em maio e início de junho, que pega a erva em brotação e ela estraga bastante. Então, na verdade, agora é tipo uma entressafra, mas a mais intensa é de agosto para a frente”, detalha.

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