Vendas aquecidas na temporada de outono

Vendas aquecidas na temporada de outono

Na sequência da estiagem, pecuaristas e leiloeiros têm uma visão otimista da comercialização de terneiros nos próximos três meses, mesmo que as médias de preços em feiras e remates sejam mais baixas que as de 2021

Por
Patrícia Feiten

Cheio de simbolismos, o outono no agronegócio gaúcho segue um roteiro habitual. Do ambiente festivo das tradicionais feiras regionais aos remates virtuais e negociações diretas entre produtores, a transição para o inverno no Rio Grande do Sul marca a tradicional temporada de vendas de terneiros, que neste ano ocorre na sequência de uma severa estiagem. Assim como a produção de grãos, a pecuária ainda se recupera dos prejuízos da seca e deve apresentar uma oferta de animais mais leves no período. Entre criadores e leiloeiros rurais, a expectativa é de um outono aquecido no mercado de reposição, embora com preços inferiores às médias atingidas na mesma época do passado.

De acordo com levantamento do Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (NESPro), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), o preço médio do quilo vivo do terneiro no Estado era de R$ 14,41 em 30 de março, ante os R$ 14,46 verificados ao final do mesmo mês de 2021. No mesmo período, a cotação do boi gordo passou de R$ 9,67 para R$ 11,31. Segundo o professor Julio Barcellos, coordenador do NESPro, o ágio (sobrepreço médio) da arroba do terneiro em relação à arroba do boi gordo atualmente é de 20%, em linha com o patamar histórico dos últimos anos. “O (quilo do) terneiro hoje está em torno de R$ 13,50, o que é um preço bastante valorizado”, avalia Barcellos. 

O retorno da chuva aos campos gaúchos trouxe otimismo aos compradores, e a alta liquidez dos animais aponta boas perspectivas para a comercialização, afirma o professor. “Ainda que o preço do boi não esteja no topo, começou a ter uma reação, e isso estimula a compra de terneiros”, diz Barcellos. Outros fatores podem contribuir para uma valorização ainda maior da categoria, como a previsão de embarques de bovinos vivos a partir de junho e o aumento da demanda de terneiros pelo estado de São Paulo, segundo o professor. O status de zona livre de aftosa sem vacinação, conquistado pelo Rio Grande do Sul no ano passado, deve atrair também mais compradores de Santa Catarina, que detém o reconhecimento há 15 anos. 

O coordenador da Comissão de Exposições, Feiras e Remates da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), Francisco Schardong, também projeta uma maior presença de pecuaristas de outras regiões do país nas feiras de outono. “Tradicionalmente, os compradores do Centro-Oeste compram bastante. Pararam um pouco com a pandemia, mas no momento em que (a situação sanitária) se normalizar vamos ter novamente saída”, observa. Embora a venda direta tenha ganhado impulso nos últimos dois anos, Schardong acredita que os eventos presenciais se manterão fortes. “Nossa genética de terneiros vai proporcionar boas feiras no Rio Grande do Sul”, prevê.

Para o presidente do Sindicato dos Leiloeiros Rurais e Empresas de Leilão Rural do Rio Grande do Sul (Sindiler/RS), Fábio Crespo, os resultados de remates já ocorridos até o momento são prenúncios de um outono favorável para a comercialização de animais. Mesmo em municípios que foram fortemente afetados pela estiagem, como Quaraí, os leilões vêm registrando 100% de vendas. “A pecuária é um negócio rentável e seguro, mesmo com toda esta seca que se enfrentou, a quantidade de mortes (de animais) no campo foi pequena”, observa Crespo. 

Com a expansão dos remates virtuais, Crespo diz que as empresas de leilões se mostram mais profissionalizadas em relação ao ano passado, em termos de tecnologia e atendimento ao cliente. Para possibilitar os eventos durante as fases mais críticas da pandemia, as leiloeiras tiveram de investir em canais de transmissão no YouTube, aquisição de equipamentos e tecnologias de operação. “O pisteiro estava acostumado a trabalhar olhando para o comprador, sentado na arquibancada”, comenta Crespo. “Ele começou a trabalhar pelo Whatsapp, pelo telefone, isso envolveu todo um treinamento, e as empresas se organizaram rápido.”

Seja nos remates ou nas visitas às propriedades rurais, quem estiver à procura de terneiros encontrará animais mais leves que os do outono passado. Segundo o diretor da Trajano Silva Remates, Marcelo Silva, o peso médio dos bovinos ofertados nesta temporada ficará entre 180 e 190 quilos, ante a média de 200 quilos do outono de 2021. Pressionados pela estiagem, no início deste ano muitos pecuaristas optaram pelo desmame precoce e anteciparam a venda de terneiros com até 150 quilos, explica o leiloeiro. “O ano de 2021 foi um ano maravilhoso, principalmente na época da desmama, pois tinha muito pasto e produção de leite”, lembra Silva. Ele estima preços médios 20% inferiores aos do início do outono passado, quando os animais leves chegaram a alcançar R$ 17 o quilo, com ágio de 40%. “O preço normal do quilo era R$ 15, qualquer terneiro valia R$ 3 mil; neste ano, não acredito que isso vá acontecer”, avalia Silva.

Retenção de matrizes dá primeiros resultados

Ciclo da pecuária de corte teve mudança no ano passado com a decisão dos criadores de preservar as fêmeas no campo para aumentar a produção, o que resultou no nascimento de pelo menos 320 mil bovinos a mais

Exportações brasileiras de carne bovina, que nos três primeiros meses de 2022 somaram 545.751 toneladas, 33% a mais do que no primeiro trimestre de 2021, devem aumentar o interesse pelos terneiros, afirma o consulto. Foto: Eric Souza / Divulgação / CP

A temporada de feiras, remates e vendas diretas deste outono já reflete os primeiros efeitos de uma guinada no ciclo pecuário iniciada em 2021, com a retenção de matrizes para produção de terneiros. No ano passado, nasceram 2,4 milhões de animais no Rio Grande do Sul, o que equivale a um acréscimo de cerca de 320 mil bovinos – machos e fêmeas – na comparação com 2021, de acordo com dados do Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (NESPro), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Em contrapartida, os abates nos frigoríficos caíram 16,5% no período, para 1,78 milhão de cabeças. Esse movimento de valorização da cria e ampliação dos rebanhos foi motivado pelas altas cotações do boi gordo, explica o professor Julio Barcellos, coordenador do NESPro.

Por se tratar de um fenômeno recente, a retenção de matrizes ainda não resultou em uma “superoferta” de terneiros neste ano e, portanto, não teve repercussão marcante nos preços. “Espero que, para 2023, tenhamos um maior número de terneiros nascidos em decorrência da retenção, o que poderia determinar um ciclo de baixa na produção”, avalia Barcellos. O momento atual, destaca o professor, é caracterizado por intensificação da engorda e diminuição dos abates de animais com idades mais avançadas. “Ou seja, uma pecuária mais moderna, cuja reposição do boi gordo vai se dar muito com a categoria de terneiros, e não de novilhos e bois magros”, explica Barcellos. “Isso continua pressionando a demanda por terneiros e, obviamente, a valorização do produto.”

Além da retenção de matrizes bovinas, a oferta de animais é influenciada pelos estragos da estiagem no Estado. Segundo o consultor Fernando Velloso, da Assessoria Agropecuária FF Velloso & Dimas Rocha, o impacto da falta de chuva poderá ser visto na disponibilidade de gado de reposição de uma maneira geral ao longo deste outono. “Além de terneiros, deve ter mais novilhos, vacas de descarte e novilhas à venda, porque as regiões que ficaram sem alimentação se obrigaram, nos últimos meses, a vender mais gado para outros criadores”, explica. 

Do ponto de vista da demanda, Velloso diz que o ritmo acelerado das exportações brasileiras de carne bovina deve aumentar o interesse pelos terneiros. Nos três primeiros meses do ano, os embarques somaram 545.751 toneladas, um salto de 33% sobre as vendas do primeiro trimestre de 2021. No entanto, observa o consultor, a temporada de feiras e remates ocorre após um período de perdas de mais 50% nas safras gaúchas de verão, e o outono poderá revelar compradores com perfil mais conservador. “Um grande comprador de terneiros é o agricultor produtor de soja, e boa parte deles está descapitalizada”, observa Velloso. 

Núcleos esperam mais público presencial

A estiagem deixou um rastro de prejuízos no setor agropecuário, mas não abalou a confiança dos pecuaristas filiados à Associação dos Núcleos de Produtores de Terneiros de Corte (ANPTC-Sul). A entidade espera apresentar 10 mil animais nas oito feiras que promoverá de 19 de abril a 18 de maio, nos municípios de São Sepé, Bagé, Pinheiro Machado, Caçapava do Sul, Piratini, Cachoeira do Sul, Lavras do Sul e Santana da Boa Vista, mantendo a oferta verificada nesses eventos nos dois últimos anos. O presidente da associação, Vinícius Porto, diz que, como os exemplares selecionados pelos núcleos nasceram na primavera – portanto, antes da crise hídrica, que começou a ganhar contornos mais fortes em novembro –, o impacto na oferta dos bovinos ainda não foi percebido. “No ano que vem, será menor o número de terneiros”, prevê. 

Todos os remates terão transmissão virtual, mas, com a melhora no controle da pandemia no país, a ANPTC-Sul também espera ver um público presencial maior nos leilões do que em 2021. “Muitos compradores vão de manhã, olham as mangueiras, revisam os lotes, vão para casa. E depois fazem o negócio”, comenta Porto. Para os preços, a tendência é que se atinjam os níveis do ano passado, avalia o criador. “De uns 40 dias para cá, vimos que nos leilões, em todas as categorias, já se teve um aumento”, afirma.

Na região de Lavras do Sul, a comercialização de terneiros neste ano começou um pouco antes das feiras tradicionais, segundo o produtor Jacques Brasil de Souza, presidente do Núcleo de Produtores de Terneiros de Corte de Lavras do Sul. Passada a turbulência causada pela estiagem, o mercado já mostra sinais de revitalização, avalia o pecuarista, que prospecta uma oferta de 2 mil animais para a feira do município, em 7 de maio. “Já aparecem as primeiras pastagens de aveia e azevém”, observa Souza. “Aquele ânimo para fazer a pecuária de inverno, ou seja, comprando os terneiros para colocar nas pastagens, começa a aquecer o mercado”, conclui. 

Propriedades capricham na preparação dos lotes

Técnicas pecuárias variadas foram utilizadas por produtores de gado de corte para formar suas ofertas de animais que irão a feiras, remates e leilões programados para diversas regiões do Rio Grande do Sul até junho

Edgar Lima, o Cacaio, promete chegar às feiras com animais de até 350 quilos, alimentados com capim-pangola. Foto: Edgar Lima / Arquivo Pessoal

À frente da Fazenda Boa Esperança, em Cachoeira do Sul, o pecuarista e advogado Edgar Lima, o Cacaio, não esconde o entusiasmo ao falar das vitórias conquistadas com a genética Limousin. Colecionador de prêmios, em 2021 ele levou para casa pela quarta vez o título de touro mais pesado da Expointer, com o exemplar Guardião da Boa Esperança, de 1.245 quilos. Não por acaso, o porte avantajado é a marca registrada dos animais que pretende apresentar na Feira de Terneiros, Terneiras e Vaquilhonas organizada pela Associação dos Núcleos de Produtores de Terneiros de Corte (ANPTC-Sul) no município da Região Central, em 4 de maio. Serão 40 exemplares – dois lotes de machos e dois de fêmeas –, resultantes de cruzamento de touros Limousin com vacas Angus e Brangus, com idades de oito meses e meio a nove meses e peso superior a 300 quilos. “Vou trazer terneiro com 350 quilos”, promete o produtor.

Em um ano que começou sob o signo da estiagem, os números superlativos indicados pela balança refletem a aposta de criador em pastagens anuais de boa qualidade, como azevém, milheto, braquiárias e tifton 85. Para garantir que os bovinos cheguem com bom peso à feira de maio, os terneiros machos atualmente estão sendo alimentados com capim-pangola. “Muitos com que eu tenho falado ficam impressionados que, com toda esta seca, os animais estejam bem”, conta Lima. Ele também comemora os altos índices de prenhez atingidos na fazenda – 97% para as novilhas Devon e 93% para as vacas jovens Red Angus. 

Para a feira de maio, Lima projeta um valor médio de R$ 14 pelo quilo na venda dos terneiros machos e entre R$ 13 e R$ 14 para as fêmeas. Apesar da comodidade proporcionada pelos leilões on-line, nada substitui o bate-papo e a troca de experiências que caracterizam os eventos presenciais, compara o produtor. “É lindo, todo mundo se encontra, o pessoal vê cruzamentos, os pecuaristas reunidos, analisando os animais e anotando os lotes de sua preferência”, destaca. 

Referência em produção de terneiros da raça Devon, a Estância Guajuvira, situada em Pedras Altas, aposta na negociação fora do ambiente das exposições. “Para nós tem sido mais tranquilo, não precisamos ficar até tarde esperando o resultado da feira”, justifica a produtora Lia Tavares Mariante. A propriedade da família tem neste outono uma oferta de 115 terneiros machos e 25 fêmeas e busca negociá-los por preços próximos da média obtida na mesma época do ano passado, de R$ 16 o quilo. A Guajuvira, que registra taxa média de prenhez de 90% das fêmeas, com picos de até 95%, aplica há 25 anos a técnica de desmame precoce. Os animais à venda nesta temporada fazem parte de um grupo de 182 terneiros e terneiras que nasceram no final de 2021 e vêm sendo desmamados desde janeiro deste ano. “Dois meses após o nascimento, costumamos fazer o desmame, e a média (de peso) ficou em torno de 100 quilos”, explica Lia. 

Lia separa terneiros das mães e os cria em outro espaço, onde recebem suplemento alimenta. Foto: Paulo Mariante / Divulgação / CP

Na propriedade, os terneiros são afastados das 300 vacas de cria após ultrapassarem os 80 quilos. Inicialmente, permanecem na mangueira, recebendo ração especial e milheto. Depois de uma semana, são transferidos para um campo com pasto mais fechado, mas ainda alimentados com ração diária. Somente depois as fêmeas são separadas dos machos. Segundo Lia, a técnica compensa – sem cria ao pé, as fêmeas mantêm uma melhor condição corporal, o que garante nova gestação e favorece a fertilidade. No rebanho da Guajuvira, afirma a pecuarista, há exemplares que deram cria por oito anos seguidos. “Meus compradores confirmam que já houve até 100% de prenhez em vaquilhonas de dois anos”, relata Lia. 

Estabelecidos em Santa Vitória do Palmar, os pecuaristas Vítor Vianna e Cristina Sander Reiser também optam pela venda direta da produção de terneiros da fazenda, que atua em cria, recria e engorda de animais da raça Angus no sistema de Integração Lavoura-Pecuária (ILP). A oferta de outono, em geral, fica em torno de 100 animais, e a maior parte é destinada a compradores do próprio município. Com o investimento em melhoramento genético, diz Cristina, a propriedade da família vem registrando um aumento no peso do rebanho ao longo dos anos – os terneiros machos recém-nascidos têm em média 35 quilos, e os exemplares ofertados nesta temporada pesam de 250 a 260 quilos. 

Segundo a produtora, esse padrão de tamanho é o diferencial da propriedade, resultado que ela atribui ao manejo do rebanho em rotatividade com a lavoura de grãos. “A gente faz uma temporada de entoure (monta) relativamente curta, para padronizar o nascimento e a venda dos animais”, afirma Cristina, explicando que a estação de monta na fazenda vai da primeira quinzena de novembro até a primeira quinzena de fevereiro. A pecuarista avalia que, hoje, o mercado de terneiros garante uma melhor remuneração aos criadores. “O que se vê é a soja tomando conta (das áreas de pecuária), então a valorização do produtor é importante para o equilíbrio do sistema", ressalta.

Pecuaristas formam estoque para engorda

Estão sendo adquiridos terneiros com menor peso e em quantidade maior do que em 2021, para oferta em remates futuros, garantem criadores tradicionais dos municípios de Lavras do Sul e Uruguaiana

Pedro Torrontegui pretende comprar de 2 mil a 2,5 mil terneiros na temporada de outono, mais do que investiu em anos anteriores. Foto: Eric Souza / Divulgação / CP Memória

Capitaneada pelo criador Pedro Ducos Torrontegui, a Estância Santa Liliana, de Lavras do Sul, já deu a largada na temporada de compras e deve adquirir de 2 mil a 2,5 mil terneiros até o final do outono em feiras, remates e negociações diretas com outros produtores, ante a média de 1,5 mil animais da mesma época de anos anteriores. Desse total, de 1 mil a 1,5 mil exemplares serão ofertados em um remate em setembro, o quarto leilão anual organizado pela propriedade, que trabalha com as raças Angus, Brangus, Hereford e Braford. 

Para Torrontegui, a estiagem não apenas reduziu o peso dos terneiros à venda como desenhou um cenário de mercado diferente, com oferta ampla e poucos compradores. Diante da falta de alimento para as vacas em lactação, muitos pecuaristas venderam parte de seus terneiros no início do ano, lembra o produtor. E, do lado dos potenciais compradores, a falta de campo para o gado neste momento acaba inibindo investimentos e exige estratégias. “Estou estocando terneiros, com oferta de feno e ração em cima de campo nativo”, diz ele.

Até a primeira semana de abril, a Santa Liliana já tinha adquirido em torno de 400 terneiros, com peso médio de 140 quilos, 30 quilos abaixo da média dos animais comprados em 2021. A expectativa é que os animais cheguem ao remate em setembro pesando de 200 a 230 quilos. “Estou conseguindo comprar terneiros de qualidade boa, só que mais leves, por valor inferior ao que era nesta época do ano passado”, afirma Torrontegui. “Tenho recebido ofertas de R$ 13 a R$ 14 o quilo hoje”, acrescenta. 

Para a venda futura, em setembro, o produtor projeta cotações mais altas. Segundo ele, os lotes ofertados pela propriedade seguem padrões de homogeneidade, raça e tamanho. A estância também oferece garantia de qualidade sanitária e se compromete a ressarcir os clientes caso os bovinos arrematados no leilão apresentem carrapatos ou intoxicação pela planta conhecida como mio-mio, problemas comuns na região da Campanha. “A gente dá essa garantia, consequentemente o nosso remate é um pouco mais valorizado”, explica.

Criador de Angus e Brangus, o produtor Ignacio Tellechea também é um potencial comprador nesta temporada de negócios. Proprietário da Cabanha Rincon Del Sarandy, de Uruguaiana, ele explica que parte dos animais adquiridos neste outono será destinada à engorda, e o restante atenderá às necessidades de reposição em outras fazendas da família. A aquisição de terneiros é baseada em uma estratégia que prioriza a busca de animais oriundos da genética da própria cabanha, diz Tellechea. “Buscamos nossos clientes de touros, de forma a prestigiá-los e adquirir animais com a genética conhecida”, explica.

Da perspectiva de comprador, Tellechea espera que os preços do terneiro se mantenham entre R$ 14 e R$ 16 o quilo, dependendo da qualidade dos lotes. “Tivemos uma situação crítica com a seca, em que vimos um descolamento muito grande do preço do gordo em relação ao preço da reposição”, observa. “No ‘fundo do poço’ deste ano, teve terneiro sendo negociado a R$ 12 ou até um pouco menos”, destaca. Se, por um lado, a estiagem encolheu a safra de verão, acabou deixando uma cobertura residual expressiva principalmente nas áreas de cultivo de soja, o que resultará em pastagens de boa qualidade muito cedo neste ano e contribuirá para a valorização dos animais, avalia o pecuarista. 

 

 

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