Com as enchentes que assolam o Rio Grande do Sul nos últimos 15 dias, Amanda Criscuoli, atleta profissional gaúcha da escalada esportiva de apenas 17 anos, está dando um exemplo de solidariedade. Além de carregar o título de ser a escaladora brasileira mais jovem a encadenar, ou escalar sem queda, uma via de dificuldade 8a no Brasil, ela também foi a primeira atleta da modalidade a criar uma vaquinha online voltada para ajudar os atletas que perderam tudo com as cheias no Estado. O movimento busca contribuir também para a reconstrução dos ginásios que foram danificados pela água em Porto Alegre.
Apaixonada pelo esporte desde pequena, quando começou por incentivo dos pais que também escalavam, a ideia surgiu quando Amanda soube que um amigo e colega esportivo havia perdido tudo por conta das chuvas. "Logo depois disso comecei a ver que mais pessoas próximas a mim que escalavam, ou são conhecidos do mesmo lugar de treinamento, também estavam com as casas alagadas", conta ela, citando também um dos ginásios que costumava treinar na cidade. "Ele segue embaixo da água e a gente ainda não sabe a situação dele, o que que vai acontecer para reconstruir. Só sabemos que foram muitos danos porque grande parte da estrutura da escalada é de madeira", explica.
O ginásio Muro Escalada, localizado no bairro São Geraldo, em Porto Alegre, foi completamente tomado pela água e ainda não tem previsão de retornar com os treinamentos dos atletas. A aflição acerca do custo para reconstrução de locais como este se espalhou pela comunidade da escalada, que resolveu centralizar a arrecadação para os atletas da modalidade. A vaquinha também ganhou apoio e incentivo da Associação Gaúcha de Montanhismo e da Associação Brasileira de Escalada Esportiva.
Esporte em desenvolvimento no Brasil
Apesar de ter dado os primeiros passos nos Jogos Olímpicos de Tóquio-2020, a escalada esportiva é nova se comparada com outros esportes mais tradicionais, como natação e atletismo. Depois da participação em terras japonesas, a modalidade assegurou um lugar na Olimpíada de Paris-2024 e, com isso, aumentou o número de pessoas que passaram a se interessar pelos paredões. "Com tudo isso, a nossa maior preocupação, também em relação ao esporte, é que essa linha de crescimento caia", afirma Amanda. A ideia da vaquinha também surge para minimizar ainda mais o impacto das perdas. "Dentro de uma cidade que tem três ginásios de escalada, a gente perder um já é muito significante, porque bastante pessoas praticavam lá, além de ter um bom número de iniciantes", completa.
Mesmo com as preocupações das cheias no Estado, Amanda não parou totalmente com os treinamentos. A capital gaúcha iria receber, neste mês, duas competições da modalidade, que precisaram ser canceladas em função do fechamento do Aeroporto Salgado Filho: o Campeonato Gaúcho e a Copa Brasil de Escalada. No entanto, outras disputas em âmbito nacional ainda não sofreram alterações. "Todos os atletas que eu vou competir seguem treinando muito, inclusive atletas de fora do país. Então, eu estruturei isso com esses outros ginásios da cidade para seguir o treinamento e ter o menor prejuízo possível referente ao esporte", conta Amanda.
O sonho de participar de uma Olimpíada ainda não vai ser realizado em terras francesas. Um dos motivos é a pouca idade e o outro é em razão da escalada esportiva ainda ser um esporte olímpico em teste. “Ela vai ser praticado esse ano de novo em Paris e na próxima em Los Angeles-2027 e, a partir daí, ainda não está confirmado se ele fica ou não”, afirma a escaladora. “Por isso também tem uma quantidade de vagas bem pequenas. Não tem um atleta brasileiro classificado para Paris, por exemplo”, diz Amanda.