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Verão

Especial

A saga da terceira estrela do Inter, parte 2: Remobilização e o caminho até a final

Correio do Povo relembra a recuperação após a derrota no Gauchão e a série de vitórias até a semifinal

Inter bateu o Palmeiras, de Telê Santana, em São Paulo, e garantiu a vaga para a final no estádio Beira-Rio | Foto: José Doval / CP memória

No segundo episódio do especial “Inter campeão brasileiro invicto de 1979”, o Correio do Povo conta como foi a recuperação do Colorado após a derrota para o Grêmio no Gauchão, e mostra a trajetória das fases classificatórias do Campeonato Brasileirp até chegar aos embates contra o Palmeiras, de Telê Santana.

Um Brasileiro com recorde de clubes, boicote e fórmula confusa

Precisando recuperar o apoio popular, depois de 15 anos no poder, o governo militar aproveitou a mudança da Confederação Brasileira de Desportos, sob comando do almirante Heleno Nunes, para a Confederação Brasileira de Futebol e organizou um campeonato para agradar “todas as torcidas” do país. Era um processo que vinha ocorrendo desde o início da década: em 72, o torneio passou de 20 para 26 clubes. Em 72, subiu para 40. Em 76, foi para 54. Até chegar aos 94 clubes de 1979.

A fórmula previa cinco fases, contando a semifinal e a final, e era bastante complicada, pois tinha variáveis entre os próprios grupos. Por exemplo, na primeira fase tinha oito grupos de 10 clubes, que se enfrentavam em apenas um jogo e classificavam quatro. Porém, dois grupos eram formados por “times mais fortes” e, deles, avançavam oito.

São Paulo, Corinthians, Santos e Portuguesa boicotaram o Brasileiro porque queriam entrar na terceira fase, etapa em que Guarani e Palmeiras também ingressariam na competição por serem campeão e vice do ano anterior. Essa foi a primeira polêmica da competição, que teve até o Atlético-MG perdendo duas partidas por WO – uma delas para o Inter.


Estreia do Inter foi um empate contra o Athletico-PR. Resultado aumentou a desconfiança em relação ao time - Foto: Paulo Dias / CP Memória

A formação do campeão invicto

Segundo o Correio do Povo em matéria publicada após o título invicto, Ênio Andrade teve os méritos de testar João Carlos na lateral. “Quando ele quis dizer que era titular, Ênio o tirou do time por um jogo. Com os brios afetados, ele voltou e corrigiu um defeito, a marcação sobre os ponteiros”, analisou o jornal. “No meio de campo, fixou Batista atrás e liberou Falcão. Já que Mário Sérgio tinha a tendência de jogar mais recuado. Desta forma, reforçou o meio de campo e fez da habilidade de Falcão uma importante arma ofensiva.”

“Trabalhar com os jogadores como os que temos no grupo é fácil. Discutimos todos os assuntos e temos conseguidos bons resultados como consequência do trabalho em grupo. No futebol, quem não trabalha em equipe, tem menos chance de ser vencedor”, afirmou Ênio Andrade após a comemoração da conquista da terceira estrela, que foi bordada na camisa colorada com os “louros da vitória”.

Confira aqui o primeiro episódio do podcast
Leia o primeiro episódio do especial sobre a conquista do Inter

“Se analisarmos bem, o time de 78 perdeu alguns jogadores. Se renovou. Foi tentada a criação de uma outra estrutura, pois o forte daquele grupo era a consistência entre qualidade e a capacidade física dos jogadores. O meio de campo era formado por Falcão, Batista, Jair e Capaçava. No ano seguinte, quando o Caçapava saiu, a formação foi alterada com a chegada de Mário Sérgio. Ele chegou para ser o quarto homem, que fazia o trabalho de organização”, afirmou Cláudio Duarte.

Início instável

Antes de se tornar o campeão invicto, o Colorado iniciou derrapando. Estreou no dia 23 de setembro, três dias após o término do Gauchão, contra o Atletico-PR. Criou oportunidades, mas perdeu as chances e aumentou a desconfiança em relação onde o Inter poderia chegar. O primeiro time de Ênio Andrade foi formado com: Benitez; João Carlos, Mauro Pastor, Mauro Galvão e Cláudio Mineiro; Falcão, Jair e Batista; Chico Spina, Adilson e Mário (Borracha).

Mauro Galvão, com 18 anos, fez um excelente Gre-Nal na final do estadual. Com a sua qualidade e elegância para jogar, permaneceu no time ao lado do experiente Mauro Pastor. O jovem contava com apoio de Falcão, que fez rasgados elogios ao “guri” para Ênio Andrade.

Antes da segunda rodada, Ênio revelou que ainda aguardava a contratação de um lateral direito, um zagueiro central, um ponta direita e um atacante, já que Bira e Valdomiro ainda não tinham estreado devido a problemas físicos. Porém, três dias depois da estreia, Bira retornou aos gramados contra o Santa Cruz, em Recife, marcou gol e homenageou Dadá Maravilha, que o indicou para o Inter. O time manteve o embalo na rodada seguinte, com vitória sobre o Figueirense, por 1 a 0.

Lasier Martins destacou, na coluna no CP ,que o Inter “era praticamente o mesmo (do Estadual), com mudanças na direção, no técnico, no preparador e no médico, mas a equipe tinha outro espírito de luta e orientação tática. Era organizada. Porém, boa direção não faz o jogador acertar o gol”, escreveu sobre a dificuldade para marcar gols apresentada contra os catarinenses.


Inter fez um jogo histórico contra o Cruzeiro, na terceira fase do Brasileirão, e conquistou uma vitória por 3 a 2 em pleno Mineirão - Foto: Paulo Dias / CP memória

A partida seguinte foi o Gre-Nal, o quinto da temporada, e o Colorado chegava ao clássico sem nenhuma vitória no ano. Sem poder contar com Batista e Tonho, a opção foi por Toninho, jogador que passou pela base do Grêmio e tinha 20 anos. Como estava montando o time “da defesa para o ataque”, Ênio queria que o Inter voltasse a repetir a estratégia utilizada por Rubens Minelli , em 74, que era a pressão na bola do adversário.

Após um primeiro tempo de muita marcação e poucas chances, o Inter cresceu e passou a levar perigo para o Tricolor. Aos 42 do segundo tempo, Falcão correu “como se fosse bater a falta”, que era próximo da grande área, e encostou para Jair, que mandou um belo chute e marcou o gol da vitória sobre o rival.

O Inter formou com: Benitez; João Carlos, Mauro, Mauro Galvão e Cláudio Mineiro; Toninho, Jair e Falcão; Chico Spina, Adilson e Mário Sérgio. Com a confiança reconquistada, os comandados de Ênio Andrade embalaram: golearam Sport, Coritiba e no Rio Branco-ES. Além dos empates com o América-RJ e o Operário-MS, ambos no Beira-Rio. A classificação estava logo ali.

Inter passa com facilidade pela segunda fase

Na segunda fase, voltou a passar por cima dos adversários. Estreia contra o Goytacaz, 1 a 0 no Beira-Rio. Antes da partida, Ênio dispensou Jair da concentração como punição pelo jogador não aceitar críticas feitas pelo técnico durante a palestra. Com o meia de volta ao time, vitória por 3 a 1 sobre o São Paulo de Rio Grande, depois que Ernesto Guedes disse que os atletas do Inter “tinham medo” da sua equipe.

Com os empates com a Caldense e Anapolina, o Inter perdeu a liderança do grupo. O atacante Valdomiro retornou aos gramados quatro meses após sofrer uma lesão contra o Atlético-PR. Após o jogo, confusão. A CBD/CBF autorizou o antidoping, fato raro na época, mas a Federação Paranaense negou o teste. Nas entrevistas, o vice-presidente Frederico Arnaldo Ballvé revelou para a imprensa que o árbitro Valquir Pimental comentou que “os jogadores do Atlético estavam estimulados em campo”. “Assim não dá, nós jogamos com o preparo físico, enquanto eles jogam com outro preparo”, afirmou o dirigente.

Depois de golear a Desportiva-ES e vencer a Inter de Limeira, fora de casa, o Colorado terminou em primeiro lugar do grupo K do Brasileirão. Já o Grêmio tinha caído na segundo fase. Na terceira, o Inter teria pela frente o Goiás e os mineiros Cruzeiro e Atlético. Antes de enfrentar os goianos, no Beira-Rio, o Correio do Povo projetou pela primeira vez mais um possível título gaúcho no Brasileirão.

“Os jogadores estão cientes que a equipe atual pode repetir as conquistas de 75 e 76, quando o Inter formou uma equipe fantástica e maravilhou a torcida brasileira com apresentações sensacionais de um futebol competitivo, mas todos são unânimes em afirmar que precisarão trabalhar muito para superar o Goiás, o Atlético-MG e o Cruzeiro”.


Na terceira fase, o Inter ganhou o jogo do Atlético-MG por WO, já que o clube mineiro não aceitou a mudança de local do jogo contra o Goiás - Foto: Jurandir Silveira / CP memória

Campeonato aumenta de dificuldade, mas o Inter avança

O primeiro jogo da terceira fase foi contra o Goiás no dia 2 de dezembro, no Beira-Rio, fato comemorado pelo clube, já que não teve que se deslocar até o Centro-Oeste brasileiro. O adversário vinha de uma vitória sobre o Cruzeiro, no Mineirão, e empate com o Vasco, que chegaria à final. Apesar das dificuldades e da série interminável de jogos seguidos, o Inter venceu após Cláudio Mineiro cruzar e Mário Sérgio empurrar para o fundo das redes.

O segundo jogo foi em Minas Gerais, no dia 4 de dezembro. A partida foi cheia de emoções, pela qualidade do futebol apresentado e pela alternância no placar. Aos 17 minutos, João Cláudio cruzou da direita e Falcão fez uma potente finalização sem chances para o goleiro Luiz Antônio. Joãozinho deixou tudo igual com um chute no ângulo esquerdo de Benitez. Bira voltou a colocar o Inter na frente ao marcar de carrinho, após rebote do goleiro, e Valdomiro fechou o placar com um potente chute no canto direito. Alexandre ainda descontou, mas o Colorado venceu no Mineirão, por 3 a 2.

O último jogo da terceira fase também chamou a atenção, mas pelo protesto do Atlético-MG, que não entrou em campo no Beira-Rio e sofreu um WO. O clube mineiro já estava eliminado da competição, pois não havia entrado em campo no gramado do Serra Dourada. Os mineiros se negaram a jogar devido à mudança do local da partida contra o Goiás, que tinha melhor campanha, do Mineirão para Goiânia. Com isso, o Inter passou em primeiro e pegou o Palmeiras, do técnico Telê Santana, na semifinal.


No dia 12 de dezembro, data do primeiro jogo da semifinal, o Jornal da Tarde, de São Paulo, publicou uma reportagem que questionava: Mococa ou Falcão? - Reprodução: Estadão / Reprodução Internet / CP

Mococa ou Falcão? Falcão!

O Palmeiras chegava à semifinal com o cartaz de ser o vice-campeão do Brasil de 1978 e de ter aplicado uma vitória por 4 a 1 sobre o Flamengo, no Maracanã. No entanto, não tinha jogadores de destaque. No dia da primeira partida, 15 de dezembro, o Jornal da Tarde, de São Paulo, trouxe a manchete: Mococa ou Falcão? A resposta veio horas depois.

Baroninho abriu o placar para o Palmeiras aos 34 minutos do primeiro tempo. Jair empatou aos 5 minutos da segunda etapa, com um chute de fora da área, onde a bola quicou e passou por cima do goleiro Gilmar. Jorge Mendonça recebeu passe alto, matou a bola no peito, tirando Galvão da jogada e chutou para marcar o segundo do time paulista.

Aos 19 minutos, a pergunta do Jornal da Tarde começou a ser respondida. Valdomiro cruzou, Falcão subiu mais alto que Mococa e fez de cabeça aos 19 da segunda etapa. O gol da vitória também foi do “bola-bola”, aos 25. Bira dividiu de cabeça com o marcador e a bola foi na direção de Falcão, que mesmo sem medo da presença do forte marcador, colocou o pé na direção do pé do adversário e chutou para marcar o segundo gol. No final, 3 a 2 para o Inter.

O Palmeiras de Telê formou com: Gilmar; Rosemiro, Beto Fuscão, Polozi e Pedrinho; Pires, Mococa, Jorge Mendonça; Jorginho, Carlos Alberto (Zé Mário) e Baroninho. Já o Inter atuou com: Benitez; João Carlos, Mauro, Mauro Galvão e Cláudio Mineiro; Batista Jair e Falcão; Valdomiro (Adilson), Bira, e Mário Sérgio.


No dia 14 de dezembro, após o primeiro jogo da semifinal, o Jornal da Tarde, de São Paulo, respondeu a pergunta feita dois dias antes: Falcão, claro! - Reprodução: Estadão / Reprodução Internet / CP

No dia seguinte, Lasier Martins deu o título da coluna de “Começa a brilhar a terceira estrela”. “Foi uma lição de futebol. Houve tudo o que engrandece o futebol: emoção, aplicação coletiva, duelos táticos, disciplina, grandes individualidades e muitos gols. Venceu o melhor. Quando exigido, desfilou perante o enorme público toda a técnica e brilho de um time que surpreende a todos pelo crescimento dos últimos meses”, escreveu o hoje senador.

No jogo de volta, Cláudio Mineiro lançou Bira dentro da área. O centroavante atrasou para Jair, que chutou forte e colocou o Inter na frente, em um Beira-Rio lotado. Em uma falha de marcação, Mococa ficou cara a cara com Benitez e marcou o gol de empate, mas o resultado de São Paulo garantiu o Colorado na final.

Créditos:

Textos e pesquisa: Carmelito Bifano.
Edições: Márcio Gomes e Tiago Medina, do Correio do Povo, e Davis Rodrigues, da Rádio Guaíba.
Entrevistados: o ex-presidente Fernando Carvalho, Jair, o príncipe Jajá, e Valdomiro.
Locutores: Geison Lisboa e Eurico Quadros.
Narração de 1979: Armindo Antônio Ranzolin.
Reportagem de campo em 1979: João Carlos Belmonte.
Pesquisa de jornais: Ramon Ferreira (Arquivo de Jornais CP memória).
Pesquisa de fotos: Paulo Bitencourt (Arquivo fotográfico do CP memória)
Pesquisa de áudio: José Bitencourt (Discoteca e arquivo de áudios da Rádio Guaíba).

 

Carmelito Bifano