Especial 50 anos do Beira-Rio: A mais doída das derrotas
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Especial 50 anos do Beira-Rio: A mais doída das derrotas

Revés do Inter contra o Olímpia nas semifinais da Libertadores de 1989 marcou a alma dos colorados

Carlos Corrêa

Jogadores do Inter ficaram inconsoláveis após eliminação na Libertadores de 1989

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Já era madrugada. Em uma churrascaria no bairro Menino Deus, Abel Braga e Luiz Fernando Záchia haviam chegado há pouco para um dos piores jantares de suas vidas. Ambos mal comeram. Ninguém deu um pio na mesa. Horas antes, ambos haviam participado da pior derrota da história do Beira-Rio. Em questão de 90 minutos, uma noite que tinha tudo para ser festiva transformou-se em uma das memórias mais dolorosas dos 50 anos do estádio, uma procissão silenciosa de mais de 70 mil colorados nos arredores da avenida Padre Cacique. Não foi apenas uma derrota, foram duas em uma. Pelas semifinais da Copa Libertadores de 1989, o Inter recebia o Olimpia com a vantagem de ter vencido o jogo de ida por 1 a 0, com um gol de bicicleta de Luís Fernando. Bastava empatar em casa para ir à final. Mas a noite de 17 de maio de 1989 era uma daquelas em que nada daria certo para os colorados. Derrota por 3 a 2 no tempo normal. Derrota por 5 a 3 nos pênaltis. Eliminação. Frustração. Dor.

Há, inegavelmente, mérito dos paraguaios na classificação. Para quem vivenciou aquela partida, no entanto, a derrota começou muito antes do árbitro chileno Hernan Silva apitar o início. Mais precisamente, assim que terminou a partida no Paraguai. “Talvez fosse melhor se tivéssemos perdido a partida lá. Porque entre os jogadores, os dirigentes, a imprensa, a confiança era altíssima. O jogo lá poderia ter sido mais, era para ter sido 2 a 0 ou 3 a 0. Já estávamos pensando no Mundial. Não era nem na final da Libertadores, com o Nacional de Medellín, a gente já estava pensando no Milan”, admite o ex-centroavante Nilson.

Foto: Roberto Santos / CP Memória 

 

Os relatos neste sentido não são isolados e comprovam que o clima de festa era incontrolável. Por mais que o discurso oficial fosse de respeito ao adversário, o jogo da volta era tratado no Beira-Rio como uma mera burocracia antes de encarar os colombianos na decisão. “Teve um dia, antes da partida, em que eu estava subindo a escadaria, indo para a concentração e passa por mim outro dirigente, me dizendo: 'Estou fretando o avião para a Colômbia'. Ali eu senti medo, porque esse tipo de coisa chega aos jogadores”, relata Záchia, à época vice de futebol. De fato, chegou, por mais tentativas que o técnico Abel Braga tenha feito para que o clima de soberba não tomasse conta do vestiário. “Não tem como, a gente acabava pensando. Com todo aquele papo de Tóquio, chegou um momento em que eu me vi pensando: 'Caramba, se a gente chegar lá, o Baresi vai me marcar'”, conta Nilson.

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Nem o atacante e nem o Inter chegaram a Tóquio naquele ano. E não demorou muito a partir do início da partida para que jogadores e torcida percebessem que aquela noite ficaria para a história e por motivos nada felizes. Logo aos oito minutos, o Olimpia escapou em um contra-ataque e Mendoza fez 1 a 0. Tudo parecia não passar de um susto, afinal a reação veio rápida e aos 11 os anfitriões empatavam, com Dacroce. Só que o jogo colorado não encaixava. E os paraguaios, sem nada a perder, ameaçavam mais e mais. Até que aos 37, o zagueiro Aguirregaray errou na saída de jogo e Amarilla colocou os adversários novamente na frente. “São coisas do jogo. Parece que não era para ser”, resigna-se o ex-goleiro Taffarel. Mas ainda havia espaço para reação. E ela veio no começo do segundo tempo, quando aos sete minutos Luís Fernando, o mesmo que fez o gol no Paraguai, cabeceou para deixar tudo igual novamente. 

O empate classificava o Inter e tudo ia bem. Na verdade, tudo ficaria ainda melhor quando Nilson foi derrubado aos 22 minutos e a arbitragem assinalou pênalti. Naqueles poucos instantes, a espera por Tóquio era só uma questão de tempo, um protocolo a ser cumprido. Cobrador oficial, o centroavante botou a bola embaixo do braço e se encaminhou para a marca da cal. “Eu estava bem. É curioso, porque nunca ninguém vinha falar comigo nessa hora. E aquele dia o Heider veio e falou: 'Bate do jeito de sempre que não tem erro'. Eu sempre batia do lado esquerdo. Mas aquele dia era como se tivesse uma voz no meu ombro dizendo para eu mudar de canto. Bati cruzado e o goleiro pegou. Eu nunca batia cruzado. Se eu batesse como batia sempre, ele nem tinha aparecido na foto”, lembra o ex-jogador. Da frustração ao silêncio foram exatos 90 segundos, tempo para o Olimpia puxar outro contra-ataque, Neffa chutar, a bola desviar em Leomir, enganar Taffarel e ir para as redes: Olimpia 3 a 2. “Foi um troço sui generis. A gente perde o pênalti, tem um escanteio, eles lançam da defesa e fazem o gol. Aquilo ali derruba qualquer um”, observa Záchia.

Nem Taffarel salvou 

Apesar da derrota no tempo normal, ainda restava a esperança dos pênaltis. E ela não era pouca por uma razão com nome e sobrenome: Cláudio Taffarel. Aquela semifinal da Libertadores de 1989 foi uma das raríssimas ocasiões em que o notório pegador de pênaltis não defendeu nenhuma cobrança. Não era para ser. “Sempre achei que a gente fosse passar. Eu só pensava que o Taffarel ia se consagrar”, conta Nilson. Por ter perdido a penalidade no tempo normal, o técnico Abel Braga preferiu preservar o centroavante e não escalou ele entre os cinco cobradores. “Eu me sentia bem, pedi para bater, mas o Abel disse que se eu errasse de novo, a torcida ia me matar. Ainda argumentei que se a gente não passasse, iam me matar igual. E aí ele disse: 'Não vou fazer isso contigo, vai bater o Leomir'”. O Olimpia acertou suas cinco cobranças. O Inter não chegou à quinta, porque Leomir errou a sua. O Inter estava eliminado da Copa Libertadores.

Não por acaso, Záchia define aquela noite até hoje como um velório. Houve protestos no Portão 8, mas a decepção dos torcedores era muito mais evidente nos silêncios de quem da arquibancada olhava o gramado sem entender o que havia acontecido. “Quando terminou o jogo, caiu a ficha. Ficamos até muito tarde, muito tarde mesmo. E nem era para evitar a torcida ou alguma coisa assim, era tristeza mesmo. Você olhava o vestiário e era todo mundo jogado nas banheiras com uma cara horrível”, revela Taffarel. O trauma de ficar no quase na Copa Libertadores só viria a ser superado 17 anos depois, com o título de 2006. Ainda assim, aquele jogo com o Olimpia permanece como uma cicatriz. E como a pior derrota do Inter dentro do Beira-Rio.

 


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