Exclusivo: depoimento de tesoureiro do Inter ao MP detalha procedimentos suspeitos
Funcionário testemunhou uso de notas frias, obras não vistas e retirada de dinheiro de bilheteria
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Toscani, que compareceu ao Ministério Publico na condição de testemunha no ano passado, confirmou que ele e outros funcionários do clube “estranharam” a forma como Affatato fazia as retiradas e também como prestava contas. Porém, sentiam-se constrangidos pelo ex-dirigente. “Ele (Affatato) ordenava”, relatou Toscani. "Todo vice-presidente que precisa de um valor para viagens ou para pequenas despesas, se utiliza deste adiantamento. Neste caso específico, foi utilizado pela vice-presidência de finanças com a retirada de valores maiores com a justificativa que seria para obras ou posterior prestação de contas. (...) Ou seja, retirava um montante e depois trazia um valor X em notas”, explicou. O problema foi o volume de dinheiro recolhido e também a prestação de contas, com notas fiscais visivelmente frias. “Um vice-presidente trazer uma nota não válida é indício de que alguma coisa não está certa, né?”, questiona.
De acordo com Toscani, que trabalha no clube desde 2006, atravessando várias gestões, inclusive a atual, de Marcelo Medeiros, o procedimento usado por Affatato, principalmente com tamanho volume, jamais foi visto no clube: “É inédito”.
Ele também revelou que Affatato procurava a tesouraria após os jogos realizados no Beira-Rio, quando o clube ainda tinha o dinheiro vivo arrecadado nas bilheterias. “Eu precisava ter uma disponibilidade de caixa muito grande, pois estes saques eram sistemáticos, semanais ou até mais (seguidos), com uma programação. E por que eu tinha dinheiro sempre? Porque geralmente essa prática era pós-jogo, quando eu estou com um volume de recursos grande em caixa em função das bilheterias. Então, era feita a programação. O caixa era alto, pois a demanda era alta", afirmou.
Para o MP, os saques em dinheiro usando as notas fiscais de empresas de construção civil foram a “principal fonte de fraudes e desvios” daquela gestão. Toscani revelou, inclusive, que Affatato pediu que ele transportasse os valores para outros lugares. “Várias vezes... Ele ordenava que eu levasse a alguns lugares... Já levei para restaurante, perto do aeroporto. A maioria dos saques era feito lá (tesouraria), mas teve oportunidades de levar fora”.
De acordo com a investigação, Affatato retirou 147 adiantamentos entre fevereiro de 2015 e fevereiro de 2016, de valores entre R$ 10 e 220 mil em dinheiro vivo. Depois disso, o ex-vice de finanças alterou o procedimento: ao invés de sacar e depois apresentar a nota, ele passou a apresentar a nota para levar o dinheiro da tesouraria. Porém, as retiradas continuaram até o final da gestão, em dezembro daquele ano. Após quebra do sigilo bancário, o MP encontrou depósitos em valores idênticos em suas contas particulares ou de suas empresas nos mesmos dias. Ou seja, segundo a investigação, Affatato retirava o dinheiro do Inter utilizando notas frias com o pretexto de pagar por obras que nunca existiram, mas irrigava as próprias contas. Toscani, que segue trabalhando pelo clube, confirmou a prática do ex-dirigente ao MP.
A defesa de Pedro Affatato informou que irá se manifestar apenas nos autos.