MP encontra depósitos para ex-dirigente do Inter em 2015
Segundo investigação, Carlos Pellegrini recebeu valores da família do lateral Paulo Cézar
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Paulo Cézar não chegou a participar de 10 jogos pelo Inter. Em setembro de 2016, foi emprestado ao Criciúma, mesmo tendo contrato até o final de 2016. Para trazê-lo, o Inter aceitou pagar R$ 75 mil de salários, além de R$ 41,3 mil de direitos de imagem mensalmente. Por fim, o lateral-direito ainda recebeu R$ 150 mil de “luvas”, que é uma espécie de retribuição por ter aceitado a oferta do Inter - conforme mostra a reprodução do contrato do jogador obtida pelo CP.
O MP, entretanto, quebrou o sigilo bancário das contas de Pellegrini e encontrou repasses de Paulo Cézar da seguinte forma. O jogador assinou contrato na segunda-feira, dia 21 de dezembro. Dois dias depois, ou seja, em 23, uma quarta-feira, o Inter fez um depósito de R$ 150 mil na sua conta. Na segunda-feira seguinte, dia 28, o tio do jogador, que também se chama Paulo Cézar e foi jogador da dupla Gre-Nal, fez um depósito de R$ 30 mil em uma conta no Banrisul pertencente a Pellegrini. A investigação do MP, cruzando as datas e horários de saques na conta do jogador e depósitos em dinheiro na conta do ex-dirigente, acredita que esta não foi a única recompensa paga a Pellegrini pelo jogador e seus familiares.
De acordo com o MP, a transação que envolve Paulo Cézar é apenas um exemplo da forma como o departamento de futebol colorado funcionou durante a gestão de Vitorio Piffero. Durante a investigação, o “MP descobriu que negociações e renovações com atletas que normalmente não seriam realizadas, pelo menos nos patamares econômicos constatados, foram efetivadas sob os cuidados do investigado mediante prévio ou posterior repasse de valores”, conforme registrou o site da entidade.
Em dezembro passado, com autorização da Justiça, o MP realizou busca e apreensão nas residências de escritórios de ex-dirigentes daquela época. Piffero e Pellegrini foram alvos da ação. Além deles, o MP recolheu documentos e computadores nos escritórios de dois empresários: Rogério Braun e Fernando Otto.
MP fala em “organização criminosa”
Caracterizada pelo Ministério Público como “organização criminosa”, a gestão de Vitorio Piffero teria desviado valores superiores a R$ 10 milhões – em uma estimativa cautelosa – ao longo dos dois anos em que esteve à frente do clube. Ela é investigada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) desde o segundo semestre de 2017. Em 20 de dezembro, um dia antes do início do recesso da Justiça, o MP deflagrou a Operação Rebote e cumpriu 20 mandados de busca e apreensão em investigação que apura a ocorrência dos crimes de apropriação indébita, estelionato, organização criminosa, falsidade documental e lavagem de dinheiro. Além do próprio Piffero e do vice de futebol, Carlos Pellegrini, também são investigados Pedro Affatato (vice de finanças), Alexandre Limeira (vice de administração), Emídio Marques Ferreira (vice de patrimônio) e Marcelo Castro (vice jurídico).
Desde a última segunda-feira, quando se encerrou o recesso da Justiça, os advogados dos investigados têm acesso aos documentos da investigação, entregues pelo MP em um pen drive. São milhares de páginas.
Advogado: “Ele vai nos explicar”
O CP tentou entrar em contato com Carlos Pellegrini, que não atendeu às ligações. O seu advogado, Jorge Teixeira, confirmou que teve acesso à investigação na terça-feira. Disse também que ainda não havia debatido com seu cliente a estratégia de defesa. “Vamos separar tudo e nos reunir com o Pellegrini. Daí, ele vai nos explicar. Então, terei condições de falar”, afirmou o advogado. A reportagem também tentou falar com Paulo Cézar e com o seu tio, que não responderam às chamadas.