Joseph Blatter, a queda do homem-Fifa
Dirigente de 79 anos renunciou à presidência nesta terça-feira
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Quando o suíço entrou na Fifa em 1975 como diretor de programas de desenvolvimento, a Fifa contava apenas com uma dúzia de empregados e estava sediada num pequeno prédio em Zurique. Dizem as más línguas que ele chegou até a pedir dinheiro emprestado a um banco para pagar os salários dos funcionários. Hoje, as reservas da entidade que rege o futebol no mundo chegam a 1,5 bilhão de dólares. Em 40 anos, o futebol passou de esporte semi-amador a negócio mundial, uma revolução que Blatter acompanhou de perto. "A Fifa começou a crescer no momento em que o futebol se tornou mundial, universal", explicou nesta sexta-feira, antes da eleição. "João Havelange, meu antecessor, me disse: 'você criou um monstro'.
É o casamento da televisão e do futebol que fez essa explosão econômica da Fifa". - Amigo das pequenas federações-Secretário-geral da Fifa entre 1981 e 1998, Blatter sucedeu na presidência o brasileiro João Havelange, 20 anos mais velho e até hoje um amigo próximo. "Meu maior sucesso? Ter feito do futebol algo universal", se parabenizou Blatter, que sempre conta com o apoio incondicional da filha Corinne.
O suíço gosta de afirmar que o futebol "nunca é atacado pelos beligerantes e é jogado no Iraque, no Afeganistão e até na Síria". O desenvolvimento do futebol na Ásia deve muito a Blatter, responsável também pela primeira Copa do Mundo na África (do Sul, 2010). "Fiel e grato", segundo um membro de sua equipe, Blatter mantinha o apoio necessário para sobreviver às críticas oriundas da Europa. Generoso com as pequenas federações, que o mantiveram no poder todos esses anos, Blatter afirmou que essa ajuda "é um princípio inspirado por Confúcio: não dê um peixe a seu irmão, ensine-o a pescar".
Nascido "um pouco prematuro, com sete meses", segundo confidentes, o nativo de Valais, nos Alpes suíços, é um ex-jogador amador que, na juventude, fez alguns trabalhos como jornalista para financiar os estudos de economia. - Abandonar o barco-Presidente da Fifa desde 1998, ele pensava poder desafiar o tempo, apesar dos 79 anos de idade.
"Eu me sinto em forma, idade para mim não é problema", garantiu recentemente o poliglota suíço, durante entrevista para alguns veículos de comunicação. Blatter, porém, não resistiu à última tempestade na Fifa, que surgiu dois dias antes da eleição presidencial.
Na quarta-feira passada, nove altos dirigentes da Fifa e cinco parceiros comerciais da entidade foram acusados pela justiça americana, que investiga atos de corrupção no futebol. Nesta terça-feira, Blatter acabou entregando o cargo algumas horas depois de novas acusações do The New York Times envolverem desta vez o francês Jerome Valcke, seu braço direito e secretário-geral da Fifa, que supostamente teria pago 10 milhões de dólares de propina ao ex-presidente da Concacaf, o trinitino Jack Warner, para garantir seu voto na candidatura da África do Sul para a Copa do Mundo de 2010. Atingido indiretamente por essa onda de corrupção, Blatter acabou abandonando o barco, algo que ele vinha fazendo de tudo para evitar.