Los Angeles, Moscou, Montreal: o passado de boicotes políticos nos Jogos Olímpicos
Tensões entre nações já tiveram como consequência a ausência de blocos de países em algumas edições das Olimpíadas
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Embora boicotes nos Jogos Olímpicos não sejam tão comuns hoje em dia, eles foram o assunto principal em algumas edições do torneio ao longo da história, principalmente durante o período da Guerra Fria. No entanto, alguns são datados bem antes disso. O primeiro boicote em uma edição olímpica aconteceu em Berlim-1936, e não foi em razão da ascensão de Adolf Hitler na Alemanha.
O caso aconteceu no meio do torneio, devido a um incidente em uma partida de futebol. Na disputa das quartas de final, entre Peru e Áustria, torcedores peruanos invadiram o campo quando a partida estava empatada em 2 a 2 e agrediram um jogador adversário. Apesar do placar final, na prorrogação, ser de 4 a 2 para o Peru, a partida foi cancelada por conta da agressão. Apesar de ficar decidido que o jogo seria disputado novamente, mas com portões fechados, a delegação peruana voltou para casa com desgosto da escolha do evento. O feito levou ao primeiro boicote durante uma edição dos Jogos Olímpicos.
Depois disso, as tensões que se sucederam foram quase que todas por fatores políticos. A primeira marcante foi na edição de Helsinque-1952, em um dos momentos mais tensos da Guerra Fria. Na primeira participação da União Soviética em uma edição olímpica, organizadores do evento optaram pela construção de duas vilas olímpicas, separadas por uma distância considerável. Tudo isso para evitar qualquer tipo de tensão com os norte-americanos, visto que os países à época já vivenciavam esse ambiente para além dos Jogos.
Na edição de Melbourne-1956, as ações sócio-políticas presentes no mundo também ficaram evidentes na Olimpíada. Isso porque um mês antes dos Jogos 200 mil soldados soviéticos haviam invadido a Hungria para conter uma revolta contra o regime comunista. O clima tenso entre as nações repercutiu na piscina, mais especificamente em uma partida de polo aquático entre os países. O incidente fora do torneio levou a uma briga generalizada que interrompeu o jogo e deixou oito jogadores feridos, com a água da piscina ficando vermelha por conta do sangue. Assim, os soviéticos foram considerados culpados e declarados perdedores da partida, mas os 5.500 torcedores presentes queriam mais e a polícia teve de agir para evitar agressões também aos atletas. Ainda, logo após o incidente com a Hungria, Espanha, Suíça e Holanda também se recusaram a participar da disputa ao lado da União Soviética.
A partir daí, praticamente todos os Jogos Olímpicos durante o período da Guerra Fria foram marcados por boicotes ou confrontos diretos entre os países envolvidos nas disputas do torneio. Entre as edições de Montreal-1976 e Los Angeles-1984 todas tiveram algum tipo de retaliação vindas dos países envolvidos no conflito. Foi na cidade canadense que aconteceu, pela primeira vez na história olímpica, o boicote de um grupo de 32 países, sendo 22 africanos, que decidiu pela não participação nas competições na tentativa de fazer um protesto de cunho político. A pivô do acontecimento foi a Nova Zelândia, que havia enfrentado a África do Sul, banida pelo COI por ainda manter um regime de segregação racial, em uma partida de rugby. Por este motivo, os países queriam que os neozelandeses fossem banidos dos Jogos em represália. Diante da recusa das autoridades olímpicas, foi feita a opção conjunta pelo boicote.
Quatro anos depois, em Moscou-1980, na primeira Olimpíada em terras soviéticas durante toda a Guerra Fria, o boicote foi ainda maior. Além da delegação dos Estados Unidos, cerca de 60 países optaram por não participar da edição. A razão do feito aconteceu já no final de 1979, quando cerca de 100 mil soldados soviéticos invadiram o Afeganistão. Japão e Alemanha Ocidental, que estavam entre as maiores potências olímpicas na época, também integraram o time do boicote, o maior de todos os tempos.
Boicote de lá, boicote de cá. Em Los Angeles-1984 foi a vez da resposta soviética, que fez o que todo o mundo esperava e retaliou a ausência norte-americana nos Jogos de Moscou-1980. E nem precisou de um motivo concreto para isso. Apenas alegou que não se sentia confortável com as garantias de segurança oferecidas pelas autoridades do país e foi seguida em sua decisão por mais 13 países, todos comunistas.
Ao longo dos anos, outros protestos seguiram presentes na história olímpica mas, sem dúvidas, nenhum tão marcante quanto estes que marcaram o período da Guerra Fria.