O pioneirismo de Alfredo Gomes, o primeiro atleta negro brasileiro a participar dos Jogos Olímpicos
Caminho foi aberto na edição de 1924, em Paris, na qual ele teve o melhor resultado no cross country do atletismo

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A importância dos negros na história olímpica brasileira é incontestável. Porém, tal cena só foi começar a se tornar comum nos Jogos de Paris-1924. Nomes como Rebeca Andrade e Herbert Conceição talvez só tenham alcançado a glória olímpica por conta de outro personagem na trajetória do torneio: Alfredo Gomes. Há 100 anos, o primeiro atleta brasileiro negro integrava a delegação a caminho da segunda edição dos Jogos Olímpicos de Paris-1924, quase que exclusivamente formada por representantes do atletismo. Se as barreiras contra o racismo são grandes atualmente, naquela época eram ainda maiores e mais fortes.
Neto de escravizados, Alfredo Gomes estava inscrito em cinco provas, mas não disputou três delas: os 800 metros, os 1500m e os 3000m com obstáculos. Seu melhor resultado foi na prova dos 5000m, em que terminou na nona colocação. Disputou também a prova do cross country do atletismo (que não está mais presente no cronograma olímpico), mas abandonou na segunda volta e terminou na 38ª posição.
Nos anos seguintes, colecionou medalhas no atletismo brasileiro e o seu pioneirismo ficou guardado na memória olímpica. Um ano depois, Alfredo Gomes foi também o primeiro campeão da São Silvestre, corrida de rua mais tradicional do país. Além da participação nas disputas, foi porta-bandeira do Brasil na cerimônia de abertura no Estádio Yves-du-Manoir, na França.
O pioneirismo de Gomes foi importante também para a construção de outro legado, o de Adhemar Ferreira da Silva, que abriu caminhos no esporte brasileiro para todos os que vieram depois dele. Depois de terminar a edição de Londres-1948 na oitava posição no salto triplo, ninguém imaginava que o mesmo atleta se tornaria o primeiro bicampeão olímpico do Brasil nas duas edições seguintes. Dois anos depois, Adhemar igualou o recorde mundial da modalidade, estabelecido em Berlim-1936, além de ganhar o ouro no salto triplo nos Jogos Pan-Americanos em 1951, antes de atingir um recorde mundial de 16,01m em setembro de 1951. Os resultados fizeram com o que o atleta brasileiro se tornasse favorito ao pódio olímpico em Helsinque-1952.
No torneio, foi para a pista e quebrou o recorde mundial (que já era dele) e olímpico quatro vezes, estabelecendo as marcas de 16,05m, 16,09m, 16,12m e 16,22m. Voltou para o Brasil com a medalha de ouro na bagagem, a primeira do país no atletismo. Quatro anos depois, em Melbourne-1956, Adhemar já era um heroi olímpico. O brasileiro não parava de quebrar os próprios recordes e naquela edição não foi diferente: alcançou um novo resultado olímpico de 16,35m. Aos 29 anos, superou 31 adversários no torneio e entrou para a história do esporte brasileiro com duas medalhas olímpicas consecutivas.
Já marcado na história olímpica, Adhemar não chegou a Roma-1960 na melhor fase. Estava com sérios problemas de saúde causados pela tuberculose e não conseguiu avançar à final. Porém, quando deixava o Estádio Olímpico cabisbaixo pelo resultado nada positivo, ouviu aplausos. Se deparou com todo o público em pé, reverenciando um dos maiores nomes do atletismo mundial. Ali, nos Jogos de Roma-1960, Adhemar encerrava sua carreira olímpica, com duas medalhas de ouro consecutivas na carreira, se tornando o primeiro brasileiro bicampeão olímpico.