Traumas olímpicos: o Massacre de Munique em 1972 e o atentado em Atlanta-1996
Ataques nas duas edições dos Jogos Olímpicos servem como um alerta para segurança na competição seja sempre reforçada
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FALTAM 13 DIAS PARA OS JOGOS OLÍMPICOS DE PARIS-2024
No final de maio, a polícia francesa anunciou ter prendido um homem que planejava realizar um atentado terrorista durante os Jogos Olímpicos de Paris-2024. A ideia do rapaz era promover um ataque durante um dos jogos de futebol na cidade de Saint-Étienne. O plano, porém, acabou frustrado pelo serviço secreto francês (DSGI), que capturou o cidadão da Chechênia. A ação policial mostra que a segurança está ligada no alerta máximo para que não se repitam dois casos que até hoje são lamentados pela comunidade esportiva: os atentados nos Jogos de Munique-1972 e Atlanta-1996, ambos com vítimas fatais.
MUNIQUE-1972
O Massacre de Munique é, até hoje, o maior atentado terrorista realizado em um evento esportivo, com um saldo de 17 mortos, dos quais cinco atletas e seis treinadores, todos israelenses. A autoria da ação é do grupo palestino Setembro Negro, que invadiu um prédio da Vila Olímpica na qual estavam os representantes de Israel. A intenção era sequestrar os esportistas para exigir a libertação de 234 detentos palestinos presos em território israelense, e dos alemães Andreas Baader e Ulrike Meinhof, ambos da Fração do Exército Vermelho.
A invasão em parte foi possível por um esquema de segurança fraco durante os Jogos de Munique-1972 por parte do governo alemão - à época Alemanha Ocidental. Tanto que parte dos sequestradores havia inspecionado o local na véspera sem maiores problemas. A ação em si aconteceu na madrugada do dia 5 de setembro, durante a segunda semana do evento. No prédio, estavam alojados vários lutadores israelenses, que chegaram a tentar deter os terroristas. A primeira vítima fatal foi o treinador Moshe Weinberg, seguido do lutador Yossef Romano, ambos baleados. No total, foram feitos nove reféns.
O governo israelense não cedeu às exigências e deixou claro que não haveria negociações. Por outro lado, o governo alemão não autorizou que as forças de Israel atuassem no conflito. Uma primeira tentativa de invasão policial fracassou porque a ação, que pegaria os terroristas de surpresa, na verdade estava sendo transmitida ao vivo pela TV e os sequestradores estavam assistindo a tudo. Sem sucesso nas demandas, o grupo passou a exigir helicópteros e um avião para a fuga, o que o governo alemão indicou que aceitaria, quando na verdade pretendia preparar uma emboscada.
No meio do processo, contudo, os líderes terroristas perceberam e saíram correndo, o que foi sucedido por tiros da polícia. Como consequência, os outros sequestradores que vigiam os reféns dispararam à queima-roupa contra eles. O saldo final da desastrosa operação foi a morte de 11 israelenses (cinco lutadores e seis técnicos), cinco terroristas (outros três foram capturados) e um policial. Depois de um primeiro momento de hesitação, a organização dos Jogos abreviou aquela edição, antecipando o seu encerramento.
Em 1999, o diretor Kevin Macdonald lançou o documentário “Um Dia em Setembro”, com depoimentos de sobreviventes, que reconta a tragédia. A produção foi premiada com um Oscar no ano seguinte. O episódio também é o ponto de partida do filme “Munique”, de Steven Spielberg, de 2005, que foca na ação disparada pelo governo de Israel para vingar o caso.
ATLANTA-1996
Se o Massacre de Munique tem na vigilância fraca do governo alemão a sua origem, na teoria este não deveria ser o motivo para o que ocorreu nos Jogos de Atlanta-1996, quando o esquema de segurança dos Estados Unidos era prometido como um dos mais seguros até então. Apesar de todo investimento na área, a organização não conseguiu impedir que o extremista conservador Eric Rudolph plantasse uma bomba caseira no Centennial Olympic Park, um espaço criado justamente para celebrar os 100 anos da primeira edição dos Jogos Olímpicos.
O saldo só não foi mais trágico porque um Richard Jewell, um segurança que trabalhava no local, desconfiou de uma maleta abandonada junto a uma torre de som de uma emissora de TV e alertou as autoridades. No entanto, o mecanismo explodiu enquanto a evacuação do local ainda era feita, o que causou a morte de uma mulher de 44 anos e deixou 111 feridos. Um cinegrafista turco também faleceu em função de um ataque cardíaco quando corria para registrar o caso.
Em um primeiro momento, o FBI tratou Jewell não como herói, mas sim como potencial responsável pela explosão. O segurança não chegou a ser preso, mas foi formalmente nomeado como suspeito. Mesmo a partir da liberação de Jewell, o caso seguiu sem avanços até que atentados semelhantes, contra uma clínica de aborto e uma boate voltada para o público homossexual, chamaram a atenção do FBI, que só então chegou ao nome de Rudolph. O terrorista, no entanto, permaneceu desaparecido por muitos anos e só foi preso em 2003. Condenado em 2005, ele cumpre pena de prisão perpétua no estado do Colorado. Jewell, por sua vez, faleceu em 2007 em decorrência de problemas relacionados à diabetes. O segurança e o atentado em si são os temas principais do filme “O Caso Richard Jewell”, de Clint Eastwood, lançado em 2019.
O colunista Hiltor Mombach, que cobriu os Jogos de 1996 em Atlanta, fala no vídeo abaixo como era a o esquema de segurança durante a competição e o que mudou após o ataque terrorista em solo norte-americano.