Sequência de erros causou rebaixamento do Cruzeiro no Campeonato Brasileiro

Sequência de erros causou rebaixamento do Cruzeiro no Campeonato Brasileiro

Time selou sua primeira queda neste domingo, no estádio Mineirão

AE

Time selou sua primeira queda neste domingo, no estádio Mineirão

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No palco onde viveu alguns dos melhores momentos dos seus quase 99 anos de história, o Cruzeiro também passou pelo seu pior. Neste domingo, no Mineirão, selou seu primeiro rebaixamento para a Série B em partida contra o Palmeiras. O time fechou o Campeonato Brasileiro em 17.º lugar, se juntando a CSA, Chapecoense e Avaí como clubes que desceram para a segunda divisão nacional.

O rebaixamento inédito se dá após anos recentes de êxito esportivo, tanto que o clube foi bicampeão brasileiro em 2013 e 2014 e também faturou duas vezes seguidas a Copa do Brasil, em 2017 e 2018. Além disso, começou a temporada sendo campeão estadual. Mas o fracasso se dá após uma série de erros cometidos dentro e fora dos gramados. Os graves problemas na gestão do Cruzeiro, presidido por Wagner Pires de Sá e tendo Itair Machado como vice-presidente de futebol, vieram à tona no fim de maio.

Além de conviver com dívidas que superam os R$ 500 milhões, o clube e sua gestão se tornaram alvo de investigação e inquérito para apurar denúncias sobre falsificação de documentos, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro e possíveis infrações às regras da Fifa e da CBF. As denúncias enfraqueceram a cúpula do Cruzeiro e, principalmente, Itair. Tendo carta branca para tocar o departamento de futebol, assumido por ele em janeiro de 2018, fez contratações de impacto, como a de Fred, que estava de saída do Atlético-MG, montou o elenco bicampeão da Copa do Brasil e tinha relação de amizade com jogadores, como Thiago Neves. Mas também viu as dívidas e ações na Fifa, por falta de pagamentos, se avolumarem. Recebia um salário milionário, o que incluía premiações por conquistas do time. Foi acusado de realizar repasses a empresários em negociações, de utilizar menores como garantia de pagamento de dívidas e fazer repasses para torcidas organizadas. Também colecionou declarações polêmicas, seja atacando a gestão da Federação Mineira de Futebol (FMF), Arrascaeta por sua saída para o Flamengo ou a imprensa quando da eclosão das acusações de má gestão.

Itair cai, Perrella volta 

Em 10 de outubro, Wagner Pires demitiu Itair e nomeou o presidente do Conselho Deliberativo Zezé Perrella, opositor durante a maior parte do seu mandato, como gestor de futebol. Figura emblemática da história do clube, foi o seu dirigente mais renomado entre meados da década de 1990 e o início da atual, com quatro mandatos presidenciais, alternado por períodos como homem-forte da gestão do irmão Alvimar. O período coincide com algumas das maiores conquistas esportivas da história do clube, como a Libertadores de 1997, tendo alavancado sua carreira política - foi senador e deputado federal.

Seu retorno também foi uma aposta na união política. Mas fracassou nessa estratégia e, principalmente, na tentativa de recuperar o time na briga contra o rebaixamento, desgastando ainda mais a sua imagem com o torcedor, também se envolvendo em polêmicas com Thiago Neves e dirigentes de outros clubes, como o Vasco.

Foco disperso 

Sob o comando de Mano Menezes, o Cruzeiro optou por priorizar os torneios mata-mata em temporadas recentes, estratégia que contribuiu para a conquista da Copa do Brasil em 2017 e 2018. Mas não deu certo nesta temporada, com Mano e Rogério Ceni. Enquanto esteve vivo no mata-mata nacional e na Libertadores, caindo nas semifinais e nas oitavas de final, respectivamente o time somou apenas 18 pontos em 17 compromissos pelo Brasileirão.

Rotatividade de técnicos 

Sob o comando de Mano desde 2017, o Cruzeiro, pressionado pela campanha ruim no Nacional, trocou a longevidade do treinador pela rotatividade de técnicos. O clube demitiu o técnico, conhecido pelo estilo de jogo defensivo, em 8 de agosto, com duas vitórias, quatro empates e sete derrotas no Brasileirão, foi dirigido uma vez interinamente por Ricardo Resende e apostou em Rogério Ceni, com filosofia oposta ao do antecessor, com valorização da posse, mas que durou meros 46 dias no cargo, especialmente porque o relacionamento com os jogadores se deteriorou rapidamente, sendo criticado publicamente por Thiago Neves e questionado por Dedé.

Foram duas vitórias, dois empates e três derrotas na Série A. Em busca de um maior entendimento entre comando e elenco, a escolha seguinte da diretoria foi por Abel Braga, com trajetória de sucesso ao lado de Fred e Thiago Neves e seu estilo "paizão". Com três vitórias, oito empates e três derrotas, não conseguiu tirar o Cruzeiro da zona de rebaixamento, sendo demitido em 29 de novembro, a três rodadas do fim do Brasileirão. Restou confiar em Adílson Batista, técnico que levou o time à final da Libertadores. A esperada reação para evitar a degola, porém, não veio.

Veteranos e medalhões fracassam 

A aposta em um elenco caro e renomado não trouxe o resultado esperado dentro de campo, sendo que muitos "medalhões" nem enfrentaram o Palmeiras: Edilson, Egídio e Ariel Cabral, todos suspensos, e Robinho, machucado. Durante a campanha da queda, Edilson perdeu status de titular, Dedé pouco ajudou em campo, atrapalhado por lesões, Fred não foi o artilheiro de outrora e Thiago Neves é quem encerra a temporada com a imagem mais arranhada. Protagonista em conquistas recentes, com gols decisivos, colecionou polêmicas: criticou publicamente Rogério Ceni, disse ter jogado no sacrifício contra o Santos, informação negada pelo departamento médico do clube, perdeu pênalti decisivo contra o CSA, teve áudio vazado em que cobrava o pagamento de salários atrasados e foi visto em um show enquanto os colegas estavam concentrados para o duelo com o Vasco. Foi o seu ato final pelo clube, sendo afastado do elenco por Perrella.

Protestos da torcida

Agora atônita e lamentando o rebaixamento do Cruzeiro, a torcida não deixou de estar presente nas arquibancadas durante a campanha do clube, mas ficou mais marcadas por atos realizados longe delas, em protestos contra o rendimento agônico em campo em todo o Brasileirão e a membros da diretoria. Houve invasão à Toca da Raposa II logo nos primeiro dias da gestão de Abel, protestos irônicos, com garrafas de cachaça para falar do suposto abuso noturno de atletas, e pichações com termos pouco conhecidos, como "sevandijas" e "quilingue". Também foram feitas ameaças à integridade física de jogadores em caso de rebaixamento, agora sacramentado. Com a queda, novos atos devem acontecer nos próximos dias. 


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