Sabe aquele brinquedo favorito que você tinha quando criança? Quem sabe um carrinho. Era simples, vermelho, andava para lá e para cá, sempre junto. E aí na imaginação o carrinho era de controle remoto, e tinha um modo turbo para ir rápido, trajava um imenso aerofólio, luzes. Quem sabe raios laser e tinha uma pista personalizada igual um autódromo de Fórmula 1.
Foi essa a sensação de jogar Final Fantasy Tactics - Ivalice Chronicles. Na versão videogame do brinquedo, estava ali o carrinho com todas as melhorias e evoluções que eu só poderia sonhar nos idos de 1997 quando o disco rodou pela primeira vez no PlayStation 1.
E já vamos falar dessas mudanças, mas para quem chegou agora ao mundo de Ivalice, venha por uma das melhores jogabilidades em games de estratégia da história. Mas fique pela história plena de conspiração, corações esfacelados e heroísmos no limite do desespero. São pelo menos dois plot twists e mal começou o segundo capítulo! Muito mérito para o escritor Yasumi Matsuno.
O carrinho, então: agora ele não só tem o aerofólio e o modo turbo, como também ganhou tração nas quatro rodas, inteligência artificial e até conversa com você. É assim que Final Fantasy Tactics – Ivalice Chronicles se apresenta: não apenas como um retorno, mas como uma reinvenção completa de um clássico que há décadas mora no coração dos jogadores.
Logo de início, o que salta aos olhos é o cuidado com o qual a Square Enix reconstruiu o campo de batalha. O tabuleiro isométrico — antes limitado pelas restrições do hardware de 32 bits — agora é um espetáculo de texturas, sombras dinâmicas e efeitos de clima que realmente interferem nas batalhas. A chuva reduz a precisão de ataques à distância, a neblina esconde unidades, o terreno reage a magias de fogo ou gelo. Tudo isso sem perder o charme tático e meticuloso do original.
Mas a verdadeira mágica está no ritmo. O sistema de turnos, antes um pouco travado, foi refinado para ser mais fluido, com indicadores visuais que antecipam o impacto de cada decisão. É como se o jogo tivesse aprendido a respirar junto com o jogador — ainda exigente, ainda cruel com quem erra um posicionamento, mas agora mais transparente, mais justo.
Os personagens também ganharam uma nova camada de humanidade. Ramza não é mais apenas o idealista preso entre dever e moral; suas falas foram reescritas com nuances, e o elenco secundário — que antes servia de pano de fundo — agora tem arcos próprios que se entrelaçam com o conflito principal.
A trilha sonora, reorquestrada por Hitoshi Sakimoto, é outro presente para os ouvidos. As notas conhecidas voltam como memórias que amadureceram junto com a gente — o mesmo tema de batalha, só que agora com o peso da nostalgia.
A guerra em Ivalice nunca pareceu tão real. As casas nobres continuam a manipular exércitos, mas agora com motivações mais sombrias; as ordens religiosas escondem segredos que ecoam temas de fé e corrupção; e o povo, finalmente, tem voz — há missões paralelas que mostram o impacto do conflito nos vilarejos esquecidos, nas pessoas comuns que sofrem enquanto heróis e vilões duelam por ideais.
O sistema de classes e subclasses continua lá, cheio de milhões de permutações possíveis com as diversas habilidades a desbloquear. Agora com uma interface mais limpa para entender o que leva a cada evolução de personagem. Agora deixa eu ver como criar meu Ninja/Time Mage apelão...
Em resumo, jogar Final Fantasy Tactics – Ivalice Chronicles é como reencontrar aquele carrinho da infância — o mesmo vermelho, as mesmas marcas de batida — mas agora reluzente, cheio de vida, pronto para correr de novo. É o sonho de 1997 finalmente materializado com as ferramentas de 2025: uma carta de amor aos táticos, uma celebração da paciência, da estratégia e da imaginação.