"Onde se viu o juro estar 13,7%? Não tem cabimento", diz Luiza Trajano

"Onde se viu o juro estar 13,7%? Não tem cabimento", diz Luiza Trajano

Empresária participou de palestra na South Summit Brazil em Porto Alegre 

Jonathas Costa

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Luiza Helena Trajano, empresária e presidente do conselho de administração do Magazine Luiza, criticou duramente a política de taxa de juros do Banco Central na manhã desta quarta-feira durante a South Summit Brazil, em Porto Alegre, e cobrou uma solução, por parte do governo federal, para a concorrência entre o varejo nacional com as grandes empresas chinesas.

"Onde se viu o juro estar em 13,7%? Eu estou gritando sobre isso em tudo quanto é lugar. Não tem cabimento", defendeu. "Um país que não é rico vive de duas coisas, da renda e do crédito. A renda vem do emprego e se não há crédito as pessoas não compram nada. Aí falam do déficit público, mas se não tiver renda, se não tiver venda, também não vai ter dinheiro para (cobrir) o déficit público", analisou, sob aplausos da plateia.

A bilionária dona de uma das maiores redes varejistas do país se soma a setores da economia, da indústria e, em especial, do governo, para pedir uma revisão da política do Banco Central que, na última reunião do Copom, manteve a taxa Selic no patamar de 13,7% pela quinta vez consecutiva. "O juro tem que baixar, tem que baixar!", bradou Luiza.

 

Questionada sobre o novo programa do governo federal, em preparação pela equipe econômica liderada pelo ministro da Fazenda Fernando Haddad, a empresária se mostrou otimista. "Eu ainda não analisei o programa porque não foi divulgado, mas se ele (governo federal) quiser ter sucesso, como ele quer, tem que focar no crédito, focar no crédito score, para que o dinheiro possa chegar na mão de todo mundo."

Luiza desconversou quando questionada sobre uma eventual proximidade com o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Eu sempre estou com os governos que fazem as coisas bem feitas. Eu sempre acho que tem que haver desenvolvimento, ter emprego, combater a desigualdade social. Esse sempre é o meu foco", garantiu. "Falam que sou de esquerda, que eu sou Lula. Eu sou Brasil. Não sou contra a política, mas sou pelo Brasil. O que muda é a política pública, precisamos disso para mudar nossa realidade."

Concorrência chinesa

A empresária também cobrou uma solução para a concorrência entre o varejo nacional com as grandes operadores de e-commerce chinesas, como Shein, Shopee e Aliexpress. O tema está em debate no Congresso Nacional e o governo federal sinaliza que estuda taxar as estrangeiras. Para Luiza, cobrar mais impostos não seria a melhor opção: "Eu não to mandando taxar eles (os chineses), mas estou pedindo para termos as mesmas condições que eles. Eu sempre digo, não pagar imposto é um negócio da China", falou, ao ironizar sobre a refência com o ditado popular. "Estão todos (os empresários nacionais) se mobilizando e ele (o governo) tem que se conscientizar."

Para ela, a competição em um mercado tão desigual se torna inviável. "Não tem como se diferenciar enquanto você paga 37% de imposto e o outro não paga, né!? Estamos trabalhando para conscientizar que não é que a gente não quer que os consumidores paguem mais barato (nos produtos chineses), mas que isso tira o emprego do Brasil. Queremos as vantagens que os outros têm. E não falo apenas do Magazine Luiza, falo do mercado todo", explicou.

Evento disputado

Luiza Trajano foi um dos primeiros grandes nomes a palestrar nesta segunda edição da South Summit Brazil em Porto Alegre. A arena principal, com 1,4 mil lugares, estava lotada para ouví-la. Além de abordar temas políticos e sociais, a empresária falou sobre a carreira e a história de uma das maiores redes varejistas do país, de posse de sua família.

Defensora ardoz do país em que vive e trabalha, ela fez questão de afastar a ideia de que o Brasil tem um ambiente menos competitivo do que outras nações. “Primeiro eu quero tirar a premissa de que investir no Brasil é muito difícil. Investir na França é difícil. Lá não tem lugar para nada. Aqui, só 20% das pessoas tem microondas, só 15% tem máquina de lavar. É um país que tem 210 milhões de habitantes, que não sofre com guerra, as pessoas gostam de ter as coisas. É um país que tem um potencial maravilhoso”, analisou.

Carismática, arrancou risadas da plateia em diversos momentos. “Quando as pessoas querem, tudo é possível. Tem gente que olha para uma planta e a planta morre. Está vivo porque não conseguiu morrer… Então, valorizo muito isso, o entusiasmo, o querer fazer, o querer aprender. As pessoas só querem uma oportunidade”, defendeu.


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