A gente fica receoso de consumir a água de Porto Alegre, diz empresária sobre alteração no gosto

A gente fica receoso de consumir a água de Porto Alegre, diz empresária sobre alteração no gosto

Dmae recebeu 55 queixas relacionadas à qualidade do recurso natural entre sábado e segunda-feira

Felipe Faleiro

publicidade

A empresária Fernanda Hostyn, que trabalha com energia solar e construção civil no bairro Restinga, zona Sul de Porto Alegre, notou algo diferente na água fornecida pelo Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) nos últimos dias. “Ela estava esbranquiçada, parecia excesso de cloro. Todo verão a água fica assim, primeiro com gosto de barro, depois branca”, afirmou ela. Os dias quentes passaram, e, no período de outono, foi a primeira vez que Fernanda vivenciou a situação em 24 anos. 

“A gente fica receoso de consumir. Para beber, somente do filtro. Já tivemos episódios de mal-estar no verão e atribuímos à água. A gente tem que acreditar na qualidade dela. Não temos condições comprar água mineral”, disse a empresária, que mora com o marido e dois filhos no local. No outro extremo da Capital, o comerciante João Ernesto Prates, que tem um pequeno negócio na Ilha Grande dos Marinheiros, viu aumentar a procura da comunidade por galões de água mineral no final de semana e segunda-feira.

“Ainda tenho estoque, mas vendi bastante. Víamos daqui a sujeira descendo pelo Guaíba. Hoje, tem menos. O pessoal reclamou muito da água do Dmae”, disse ele hoje pela manhã. Cliente da mercearia, a aposentada Maria Letícia Azambuja Bez engrossou o coro das reclamações. “Essa água já deu até diarreia em algumas pessoas”, afirmou ela. Ainda que própria para o consumo, segundo o departamento, a qualidade da água foi motivo de dúvidas nos últimos dias, diante do crescimento de relatos da cor e cheiro diferentes do habitual, somados ao acúmulo de plantas flutuantes no Guaíba.

O Dmae diz que pode haver relação entre os fatos. “Os resultados preliminares dos nossos laudos indicam que não estamos vivenciando um fenômeno de algas, que é a razão histórica em períodos de extremo calor e luminosidade ao longo do verão”, explica a diretora de tratamento do departamento, Joicinele Fagundes Becker. “Uma corrente de material orgânico veio junto provavelmente com o deslocamento de todas estas macrófitas que vêm pelo Guaíba. Vai levar ao menos mais umas 48 horas até começar os efeitos da dissipação dos efeitos”, prossegue. Ou seja, o prazo do departamento é até quinta-feira.

Ainda segundo Joicinele, não se sabe sua origem, mas a diretora pontua que elas estavam originalmente em afluentes do curso d’água e arroios. O arrasto, conforme o Dmae, foi causado pelas fortes chuvas dos últimos dias, que, por sua vez, segundo hipótese da companhia, levaram o material acumulado nas bacias pela estiagem. O departamento recebeu, de sábado a segunda-feira, 55 queixas relacionadas a cheiro e gosto, e hoje, até o final da manhã, apenas três. “Mesmo que o evento seja de curta duração, o sistema todo foi prejudicado por esta situação”, afirma ela. 

A dinâmica se mantém: primeiro, as reclamações iniciam pela zona Norte, e se espalham no sentido dos bairros Menino Deus, onde há uma Estação de Bombeamento de Água Tratada (Ebat), Tristeza e Belém Novo. Hoje, o Dmae coletou amostras na foz dos rios Jacuí e Gravataí. O órgão argumenta que, assim que notou a alteração, aumentou a dosagem de dióxido de cloro, que auxilia na remoção do gosto e odor, segundo Joicinele. 

Caso não haja efeitos, carvão ativado é adicionado na água nas Ebats, como uma segunda linha de ação. “A qualidade da água para consumo humano, banho e cozinhar alimentos está mantida. Fazemos o monitoramento 24 horas por dia, e temos 2,5 mil análises diárias. Se a pessoa identificar alguma mudança nela, pode ligar para o 156 ou contatar outros canais de comunicação no departamento, como o Twitter. Isto nos ajuda a ajustar nossa operação conforme a necessidade”, diz a diretora.


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895