Abandono das casas e esgoto nas ruas faz bairro Guarujá, em Porto Alegre, virar cenário de caos

Abandono das casas e esgoto nas ruas faz bairro Guarujá, em Porto Alegre, virar cenário de caos

Neste sábado, mais uma vez vias da zona Sul foram tomadas pela água contaminada

Felipe Faleiro

Neste sábado, mais uma vez vias da zona Sul foram tomadas pela água contaminada

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O entorno das ruas Jacipuia e Oiampi, bairro Guarujá, na zona Sul de Porto Alegre, mais uma vez esteve neste sábado tomado pelo esgoto e, consequentemente, um irritante e forte odor. Após as históricas enchentes de maio, muitos moradores da área abandonaram suas casas, e, em muitos casos, quem sobreviveu ao caos está as vendendo a preços muito abaixo do mercado. Já alguns estão reformando para alugar a outras famílias.

Em ambos os casos, porém, a saída é também iminente, deixando para trás antigos sonhos e uma história de toda uma vida. “Moro aqui há 42 anos, e é a sexta vez em 42 anos que tivemos este problema”, contou a psicóloga aposentada Cléia Dutra Rocha, uma das que ainda mantém uma história no local, embora isto não deva mais durar muito, conta. “E o pior é que esta lama, este lodo, não deixam crescer mais nada. Está tudo acabado”. Em enchentes no passado, ela já havia perdido dois automóveis, porém a mais recente devastou o local em definitivo.

Ainda que o esgoto deste sábado não tenha relação direta com os alagamentos de outras épocas, conforme Cléia, o alagamento deste sábado também foi causado, segundo ela, pelo entupimento de bueiros. “A Prefeitura sabe do nosso problema, mas simplesmente não há resolução”, comenta ela. A tragédia de maio já havia destruído praticamente tudo em sua residência, onde a água entrou a cerca de um metro e meio de altura.

A psicóloga disse ainda que havia reformado sua cozinha por volta de seis meses atrás, porém a água danificou tudo. Móveis de uma biblioteca também foram danificados. Os livros ficaram intactos, porém serão doados. “Eu precisava muito ter uma casa com pátio. Ela era linda. Agora está tudo destruído”, desabafou Cléia, que tem uma filha, moradora do bairro Auxiliadora. “Tenho muito apego com esta casa. Só que preciso sair. Muita gente perdeu tudo aqui em termos de móveis”.

Procurado, o Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) disse que a rua Jacipuia fica em uma das partes mais próximas do Guaíba, e de nível mais baixo, do bairro Guarujá. Como, nesta área da cidade, não há muros ou diques, há demora para escoamento do nível do curso d’água devido a ele estar naturalmente mais alto.

Ainda, o Dmae afirmou que, na semana passada, o vento sul causou elevação das ondas na área, prolongando o problema. Hoje, o único serviço do órgão municipal ali é a limpeza e hidrojateamento da enchente, que é permanente, mas foi intensificada. O Dmae afirmou ainda que suas equipes estão neste momento no bairro Tristeza, e irão à rua Jacipuia “assim que o Guaíba recuar, permitindo a execução dos serviços”.


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