Ainda devastadas por enchentes, cidades do Alto Taquari se preparam para nova inundação
Alerta do Governo do Estado, apesar de ainda não se concretizar, fez com que moradores buscassem medidas para evitar perdas
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A região do Alto Taquari, que compreende os municípios localizados na parte mais alta do Vale do Taquari, já se prepara para uma potencial nova inundação nos próximos dias. Apesar de não se concretizar até o momento, o alerta do Governo do Estado faz com que muitos moradores buscassem adotar medidas para evitar perdas patrimoniais e da própria vida. A rotina nesta terça-feira, principalmente nas áreas ribeirinhas, foi de levantar móveis ou ir para abrigos temporários.
Em Roca Sales, o cenário ainda é de guerra. A cidade vive em meio a escombros da enchente de maio enquanto agentes da Defesa Civil e forças de segurança adotam medidas para facilitar possíveis resgates em caso de enchente. A cidade fica na beira do rio Taquari, mas é cortada por dois arroios que, em caso de cheia, fazem com que bairros fiquem ilhados.
Por isso, duas equipes de resgate foram montadas, uma em frente ao comitê de crise e outra em frente o Hospital Roque Gonzales. Na casa de saúde todos os equipamentos e móveis foram levados para o segundo andar do prédio, onde dividem espaço com os atendimentos de pacientes internados ou que buscam por consultas de emergência.
Conforme a supervisora administrativa do hospital, Andreia Formentini, os equipamentos clínicos já estavam no segundo andar e, em caso de necessidade, há um plano para a retirada de pacientes com quadro agravado de saúde para o hospital de Encantado. Na segunda-feira, quando o rio Taquari apresentou uma cheia na região, dois pacientes foram transferidos.
Além disso, a Defesa Civil de Roca Sales já recebeu seis famílias que vivem em residências em pontos considerados de risco. Elas se juntam a outras 10 famílias, que foram atingidas pela cheia de maio, em um abrigo localizado na escola Dom Pedro I. Cerca de 30 pessoas estão no local. Uma delas é a moradora Darlise Lorenzon da Rosa, que mora na Rua Silvio Orlandini, no Centro.
Ela relata que a família perdeu tudo em maio e alugou uma nova casa neste período. Entretanto, o local também corre risco de ser atingido. Ao todo, ela e mais seis pessoas da família estão no abrigo. Além disso, ela levou grande parte dos móveis para o local, deixando na casa apenas alguns pertences em um local elevado. “Vamos esperar para voltar, pois anda tem previsão de chuvas. Estamos aqui por precaução”, contou.
Em Muçum o cenário é parecido. A cidade também possui muitos imóveis destruídos e o lodo da última enchente ainda se faz presente. Alguns moradores aproveitaram a manhã de sol para ir até a cabeceira que restou da ponte levada pela enchente para averiguar o nível da água. Um deles é Luis Jandir Lemos, que é “vizinho” do rio. Ele foi um dos poucos moradores da área ribeirinha a voltar para a casa. Depois de olhar Taquari, ele voltou para a residência para seguir erguendo os móveis.
Ele conta que alguns móveis e eletrodomésticos serão levados para um CTG. Outros, ele pretende deixar no segundo andar da casa, mas em locais elevados por precaução. “A água pode ir até o segundo piso. Se for que nem a enchente de novembro como estão falando, vai dar na base do segundo andar. Eu já levei algumas coisas para ali. Mas tem muitos moradores ainda com medo, por ter que tirar todas as coisas de dentro de casa mais uma vez correndo o risco de perder tudo. Mas temos que nos reerguer”, citou.
Lemos afirmou ainda que foi uma das últimas pessoas a atravessar a ponte, antes dela ser levada pelas águas em setembro de 2023. Além disso, ela guarda um trauma da sua relação com o vizinho Taquari: na mesma enchente, um filho de criação seu, chamado Leandro, foi até a cidade para ajudar seus familiares mas morreu levado pela correnteza do rio.
Cheia desta semana já causou estragos em Encantado
Em Encantado, um dos pontos mais atingidos pelas enchentes é o bairro Navegantes, devido à sua proximidade com o rio. Apesar dos estragos causados pela inundação de maio ainda estarem evidentes, a cheia do Taquari nesta semana já resultou em alagamentos de algumas ruas. Na rua do Álamo, Gilberto Luiz Machado utilizava vassouras e rodos para tentar remover o excesso de lama trazida pelo rio nesta segunda-feira.
Segundo ele, a água atingiu uma altura de 70 centímetros dentro da casa, mas ele já havia retirado os móveis do local e levado para uma barraca improvisada nas imediações, onde está vivendo com a família. “Tiramos na segunda-feira mesmo e agora estou lavando pois não sei o que vai acontecer. Ficou só um colchão aqui dentro de casa. Eu moro há mais de 40 anos aqui e nunca tinha alagado. Desde setembro, essa foi a quarta vez. Todo mundo está falando que vai vir uma nova enchente, que nem a de novembro, mas até o momento se enganaram. Se for que nem a de novembro, a água vai passar do telhado de novo”, lamentou Machado.
“Erro” na previsão de nova enchente
Nas cidades, muitos moradores relataram a confusão causada pelo alerta do Governo do Estado de que uma nova enchente atingiria a região na terça-feira, após grandes acumulados de chuva. Desde o final da noite de segunda-feira té as 13 horas, choveu pouco mais de 15 milímetros no Alto Taquari, segundo um levantamento da Prefeitura de Muçum.
Para a Defesa Civil da cidade, este cenário trouxe um certo alívio quanto ao risco de repique do rio. Entretanto, o órgão reforçou a possibilidade de chuvas com volumes elevados para o restante da terça-feira e para quarta-feira, principalmente na Serra e no Norte do RS, onde estão as nascentes dos rios que deságuam no Taquari. Em Muçum, o nível do rio estava em 11,69 metros no início da tarde desta segunda-feira, muito abaixo da cota de alerta (15 metros) e de inundação (18 metros).
A não confirmação da chuva alertada pelo governo causou uma repercussão negativa para alguns moradores de Roca Sales. Um comerciante que não quis se identificar lamentou que tenha perdido uma manhã de trabalho retirando produtos e móveis em vez de estar com a loja aberta para seus clientes. “Não podemos ficar comemorando que o alerta estava errado. Precisamos de informações concretas sobre o que vai acontecer”, finalizou o empresário.