Após polêmica, Fraport nega que obras de ampliação do Salgado Filho prejudicaram sistema de proteção contra cheias de Porto Alegre
Em ato promovido por frente parlamentar da Câmara de Vereadores, especialista descarta responsabilidade da concessionária na inundação da zona Norte da Capital
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A necessária recuperação do Aeroporto Internacional Salgado Filho ganhou um ingrediente extra na última semana, após deputado de Porto Alegre apontar que a ampliação da pista de pousos de decolagens teriam comprometido o sistema de proteção contra cheias da Capital. As obras foram realizadas pela Fraport, que detém a concessão do aeródromo desde 2018. A empresa nega falhas.
A polêmica surgiu na última semana, quando o deputado estadual Matheus Gomes (PSOL) tornou pública uma série de documentos da Prefeitura de Porto Alegre, que segundo ele provam que as obras realizadas pela Fraport fragilizaram o sistema de proteção e, por consequência, agravaram a inundação ocorrida nos meses de maio e junho em bairros da zona Norte. Para o deputado, a ampliação da pista não seguiu determinações obrigatórias definidas pelo extinto Departamento de Águas Pluviais (DEP) durante a fase de licenciamento da obra. Gomes também acusa a concessionária de ter impedido a fiscalização da órgão do município durante a execução dos serviços.
O tema entrou também na pauta da Frente Parlamentar de Monitoramento de Obras e Serviços de Macrodrenagem da Câmara. Nesta segunda-feira, um grupo de vereadores ouviu o engenheiro civil especialista em drenagem urbana e hidrologia Leomar Teichmann, que já foi diretor-geral adjunto do Departamento Municipal de Água e Esgotos (DMAE), em Porto Alegre, de 2019 a 2020.
“Qual foi a narrativa? Que estas obras (do aeroporto), fizeram com que algumas casas da região fossem inundadas. Bom, a coisa é tão sem cabeça, não tem nada a ver uma coisa com a outra. Talvez o que ele (deputado Matheus Gomes) tivesse desejado é que a Fraport tivesse feito obras para fora da sua área e tivesse feito um dique interligando com o dique da casa de bombas da Vila Minuano, e botar uma outra casa de bombas ali. Isso não estava no projeto da Fraport, então não tinha como jogar essa responsabilidade no colo deles” afirmou Leomar Teichmann.
A direção da Fraport foi convidada para o encontro, porém não compareceu.
O que dizem Fraport e Dmae
Por meio de nota, a Fraport Brasil afirmou que todas as obras realizadas no Salgado Filho foram autorizadas e acompanhadas pelas autoridades municipais, e que o sistema de micro e macrodrenagem implantado no aeroporto proporcionou “benefícios diretos à população do entorno”. No mesmo documento, a concessionária alega que falhas no conduto forçado prejudicavam a segurança da operação aérea e, mesmo não sendo de sua responsabilidade, investiu “cerca de R$ 170 milhões em um robusto sistema que atende as normas de drenagem do município” (leia abaixo).
A assessoria de comunicação da Fraport confirmou que foi convidada para o encontro desta segunda-feira, mas não enviou representantes por incompatibilidade de agenda.
Por meio da assessoria de comunicação, o Dmae afirmou que as denúncias serão apuradas internamente, porém destacou tratar-se de ações ocorridas em administração anterior.
Leia a íntegra da nota da Fraport:
“A Fraport Brasil informa que o sistema de Micro e Macrodrenagem no aeroporto de Porto Alegre, que trouxe benefícios diretos à população do entorno, foi devidamente autorizado e acompanhado pelas autoridades, tendo como premissas principais manter as condições de projeto do entorno aeroporto e a segurança operacional das atividades aeroportuárias.
O problema de alagamentos na Zona Norte de Porto Alegre, que inclui o aeroporto, é histórico, e existe muito antes de a Fraport assumir a operação do Aeroporto Internacional Salgado Filho – na data de 2 de janeiro de 2018. Tal problemática era conhecida tanto pela concessionária anterior, quanto pelas demais autoridades municipal, estadual e federal.
Era sabido, desde o momento que a Fraport assumiu a gestão do Aeroporto de Porto Alegre, que o sistema de pista apresentava problemas de segurança devido às inundações, causadas pelo mal funcionamento do conduto forçado. Apesar de não fazer parte do escopo do contrato de concessão a Fraport investiu cerca de R$ 170 milhões em um robusto sistema que atende as normas de drenagem do município.
O novo sistema de drenagem, inaugurado em 2021 é dividido em cinco bacias de acumulação das águas da chuva. A água é amortecida e acumulada nestes reservatórios e, por meio da gravidade e de casas de bombas, é direcionada ou para o Rio Gravataí ou para a Casa de Bombas 6 da Prefeitura Municipal de Porto Alegre. Todas as cinco bacias coletam água da chuva do aeroporto. No entanto, nas bacias 1, 2 e 5, 92% das águas coletadas são provenientes das precipitações que ocorrem nas áreas da cidade de Porto Alegre. Apenas 8% são precipitações coletadas estão na área do Aeroporto. Como mencionado, em apoio a operação deste sistema, existem oito Casas de Bombas (CB) operadas por energia elétrica com redundância por grupos geradores individuais.
De forma prática, o sistema permite um amortecimento das precipitações através das bacias de detenção. A água recebida é então amortecida e liberada em velocidades inferiores as máximas definidas no Manual de Drenagem do Município de Porto Alegre para o escoamento ao Arroio Areia e Rio Gravataí.
Diante de todos os esclarecimentos feitos, pode-se concluir que o sistema de Micro e Macrodrenagem implementado no Aeroporto Internacional Salgado Filho é superior, seguro, e já deu amostras de seu pleno e seguro funcionamento nos últimos quatro anos, tendo contribuído imensamente para a segurança da aviação e qualidade de vida daqueles que vivem nas adjacências do sítio aeroportuário.”