Após perder tudo na enchente que devastou a rua Dona Malvina, no bairro Lami, na Zona Sul de Porto Alegre, o aposentado Jeferson Luís Moura dos Santos, 66 anos, tomou a decisão corajosa de recomeçar do zero. Deixou para trás a casa que vivia e que já havia sido atingida por outras duas enchentes menores, para construir uma nova residência em uma parte mais segura do bairro.
Santos conta que, no dia 1º de maio, a inundação chegou à sua casa. No decorrer dos dias em que permaneceu alagada a moradia, a água chegou a superar 1,20 metro. O resultado não poderia ser outro, a não ser a destruição de todos os seus pertences, incluindo móveis, eletrônicos e eletrodomésticos.
Ele morava no local há 13 anos e foi a terceira enchente que enfrentou ali. Na segunda, havia reformado a casa, levantado o piso e renovado a hidráulica e a elétrica, um investimento de cerca de R$ 15 mil. “Era um conforto. Todos elogiavam a casa e agora está nesta situação. Mas Deus vai me dar coisas melhores no futuro”, afirma. Agora, ele busca reconstruir sua vida em um novo terreno que havia adquirido com seu filho há quatro anos.
Viúvo há três anos e meio, Moura perdeu sua companheira de 46 anos para a Covid-19 em 2021, e se emociona ao falar dela. “Daqui tenho recordações muito boas”, lamenta. O aposentado chegou a fazer toda a limpeza da casa, mas resolveu sair para recomeçar no outro endereço, pois concluiu que não poderia mais continuar ali.
Conforme Moura, quando a casa começou a inundar, conseguiu sair. A maioria dos moradores da rua também saiu para a casa de parentes e ainda não retornou, deixando na vizinhança um cenário de um local destruído e abandonado. Alguns já decidiram colocar as casas à venda. Isto se repete em todo o Lami, que possui diversas residências com placas de “vende-se”.
Ele chegou a pegar alguns dos auxílios liberados, mas não terá direito a todos eles. Com isso, chegou à conclusão que não poderia esperar pelos governos e, determinado, resolveu recomeçar. “Peguei a segunda parcela do 13º (salário) e dei entrada na casinha. Depois vendi o motor de um barco, levantei mais alguns recursos e parcelei o restante”, conta.
Com a decisão de reconstruir, optou por uma casa de madeira pela rapidez na construção. “Em 15 dias, pretendo estar habitando aqui”, diz ele. Moura também já planeja, no futuro, construir um galpão de campanha com churrasqueira e fogão campeiro. “Eu gosto disso aqui”, afirma sorridente.
Enquanto reconstrói, Moura enfrenta desafios burocráticos, como a ligação da água, que está pendente há mais de um mês. A CEEE Equatorial já realizou a conexão elétrica dentro de 15 dias, mas o Departamento Municipal de Água e Esgotos (DMAE) ainda não atendeu ao pedido. “Vou me mudar sem água”, lamenta.
A nova casa está localizada na rua José Bernardes, não foi atingida pela água e representa um novo começo para ele. Apesar das adversidades, mantém a esperança e a determinação de seguir em frente. “Eu estou bem, graças a Deus. Não perdi ninguém da família. Meus filhos me ajudam até mais do que podem, tenho uma bisneta, netos. Isso é o mais importante”, conclui.