Representantes do governo federal, do Banco do Brasil e da Fundação Banco do Brasil assinaram, entre quarta e quinta-feira, convênios de cooperação financeira, no valor de R$ 15 milhões, que vão beneficiar 22 empreendimentos solidários (unidades de triagem de catadores e cozinhas comunitárias) espalhados pela Região Metropolitana que foram totalmente destruídos pelas cheias de maio. A ideia é que com a liberação deste recurso os espaços possam adquirir equipamentos, prensas, caminhões, fornos e demais materiais que possam auxiliar na retomada das atividades e na reconstrução das regiões duramente afetadas pelas enchentes.
O presidente da Fundação Banco do Brasil, Kleytton Morais, diz que o foco de atuação é com os empreendimentos da economia soldária. "Temos atuado em três momentos. O primeiro foi durante a crise humanitária, onde a gente pode atender as pessoas diretamente atingidas com cestas básicas e itens de higiene. No segundo momento, quando a água baixou, fizemos um diagnóstico das perdas e providenciamos agasalhos, camas, móveis e demais materiais que pudessem acolher as pessoas em dias frios."
Agora, conforme explica ele, a atuação é voltada à estruturação dos empreendimentos para geração de emprego e renda. "Neste sentido, estamos atuando de forma que as pessoas possam retomar suas atividades. Antes da enchente, os dados apontavam que 350 mil pessoas no RS estavam em situação de vulnerabilidade social. A Fundação conseguiu alcançar mais de 50% deste público com suas ações. Agora a ideia é pensar na reestruturação e recuperação destes empreendimentos gravemente impactados pelas cheias. Ao todo, nas três fases, foram liberados R$ 100 milhões."
Empreendimentos solidários localizados em Canoas, São Leopoldo, Novo Hamburgo, Porto Alegre e Eldorado do Sul foram alguns entre os 22 contemplados. Nos dois dias, uma comitiva de representantes dos órgãos envolvidos na liberação dos recursos fez visitações aos locais mais atingidos pelas chuvas. Conforme o presidente da Fundação, além da liberação da verba para aquisição de equipamentos e materiais, pequenas reformas e reparos estão em andamento. "A cada visita temos acompanhado muitos relatos e experiências de vida. Quando as comunidades passam por uma situação como esta, onde as pessoas perderam tudo que foi construído ao longo da vida, casa, lembranças e laços afetivos, conseguimos compreender ainda mais o trauma coletivo, pois isso salta aos olhos da gente", conclui Morais.
COOPERATIVA MATO GRANDE CANOENSE É UMA DAS BENEFICIADAS
Entre os empreendimentos beneficiados, está a Cooperativa Mato Grande Canoense, que fica no bairro Harmonia, em Canoas. O local, que chega a triar mais de 40 toneladas de materiais por mês, ficou embaixo da água e se manteve inoperante por cerca de três meses. De acordo com a presidente da Cooperativa, Rosa Machre, não apenas o galpão foi atingido, mas a casa dela é dos 23 cooperados que trabalham no local.
"Perdemos tudo. E temos consciência de que somos os médicos da mãe natureza. O pouquinho que fazemos, faz toda a diferença. Se as pessoas fossem mais conscientes, nós não teríamos passado por tudo isso. A enchente foi só um aviso do que está por vir." Rosa diz que a Cooperativa Mato Grande é responsável pela coleta de materiais nos bairros Igara, Marechal Rondon e Nossa Senhora das Graças.
"O material é encaminhado para o galpão, onde é feita a separação de cada tipo e depois encaminhamos para os compradores. Nós vivemos desse trabalho. Nossa renda sai daqui. Em média, conseguimos vender 35 toneladas de matérias, o resto é rejeito. A venda dos materiais resulta, em média, em um salário-mínimo para cada um de nós." Segundo Rosa, a retomada das atividades na Cooperativa só foi possível com ajuda de parcerias e doações. Ela diz que com o recurso da Fundação Banco do Brasil vai comprar maquinários e equipamentos para otimizar e aumentar ainda mais a coleta e a venda dos materiais.