Bancos de areia ainda tornam inóspito o cenário da Ilha da Pintada, em Porto Alegre

Bancos de areia ainda tornam inóspito o cenário da Ilha da Pintada, em Porto Alegre

Ainda em fase de limpeza, alguns dos moradores ainda trabalham para voltar para casa, enquanto outros já estão decididos a sair

Guilherme Sperafico
Bancos de Areia ainda se acumulam na Ilha da Pintada

Bancos de Areia ainda se acumulam na Ilha da Pintada

publicidade

Passados cerca de dois meses do recuo das águas da grande enchente de maio, a retomada dos moradores da Ilha da Pintada ainda está na fase inicial de limpeza. Alguns sequer retornaram para retirar das casas os bens estragados no alagamento. Há, ainda, aqueles que nem pretendem retornar.

Tudo isto ocorre em meio ao inóspito cenário que domina as ruas da região que, após o fim das enchentes, ficou tomada por bancos de areia. Em alguns pontos, é possível ver grande concentração de maquinários utilizados diariamente para fazer a remoção da areia e fazer a liberação das ruas.

A situação, porém, ainda impressiona, principalmente nas ruas às margens do Rio Jacuí. Há um espaço para os carros passarem, mesmo em cima ao lodo e a pequenas concentrações de água. Entretanto, nas laterais da pista, continuam acumulados grandes montes de areia. Por cima, também é possível visualizar pequenas embarcações encalhadas, na região que tem grande número de pescadores.

Nos pátios de muitas residências o cenário se repete. Muitos proprietários aproveitam o domingo de sol para trabalhar. Nos pequenos becos, também são os próprios moradores que utilizam as ferramentas que têm para retirar a areia, possibilitar o acesso e o retorno às casas.

Entre eles estão os pescadores Claudiomiro Sebem, de 53 anos, e Luís Fernando Pereira da Silva, 47 anos, que utilizavam pás e um carrinho de mão, em um trabalho totalmente manual no Beco da Servidão. “As máquinas só fizeram um buraco na rua e nas laterais, mas não tiraram aqui dentro. Já era para estar tudo arrumado, mas não é por falta de máquina, é falta de gente para trabalhar. Aqui estamos tirando nos braços”, relata Sebem,

Moradores da Ilha da Pintada dividem espaço com monstes de areia e limpam as vias e as frentes das suas casas | Foto: Camila Cunha

Os dois moradores contam que esta etapa de limpeza iniciou logo que a água baixou. A demora para se dá porque, além do grande acúmulo, o trabalho ao longo da semana impede uma dedicação ainda maior.

Embora ambos estejam decididos a continuar no bairro, considerado tranquilo e seguro para criar os files, eles relatam que são poucos os vizinhos que também pretendem continuar. “O pessoal está retornando agora para limpar. Alguns dizem que não vão mais morar aqui. Estou apavorado que, entre eles, estão muitas pessoas que moram desde que nasceram na ilha”, completa Sebem.

Nos estabelecimentos locais, também há um início de reação. Duas ferragens foram recentemente abertas, conforme os moradores, mais em situação ainda precária, com quantidade de produtos disponíveis bem inferior às que tinham antes da enchente. Um supermercado local voltou a operar apenas na semana passada.

Enquanto ainda começam a reagir, os moradores também teme a possibilidade de novas enchentes no segundo semestre. Segundo eles, é comum que, no mesmo de setembro, pequenos alagamentos sejam registrados nas ilhas. Agora, após o ocorrido neste ano, com acúmulo de areia nas águas, o temor é que uma inundação grande se repita.

“Em setembro sempre temos enchente e a pergunta que fica é: como será neste ano, com o rio cheio de areia? É uma tragédia anunciada”, questiona, preocupado, Sebem.

“O mais importante agora é a dragagem. Se não retirarem essa areia, será complicado. As previsões indicam que o segundo semestre será menos chuvoso, mas pode até não ser uma enchente grande, mas esta rua, com certeza, vai encher”, acrescenta Silva.


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895